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Opinião: Rússia não deve temer debate sobre Stalin

25 de janeiro de 2018

Proibir comédia britânica sobre o ditador apenas eleva interesse por ela. Uma sociedade civil forte não teme debate público sobre o próprio passado, opina o correspondente Miodrag Soric.

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Filmposter The death of Stalin
Filme britânico "The death of Stalin" foi proibido na RússiaFoto: picture-alliance/Everett Collection/IFC Films

Não, não existe censura na Rússia! É o que diz o ministro russo da Cultura, Vladimir Medinski. Não, Moscou não teme um confrontamento crítico com a própria história, diz ele. E manda proibir uma comédia britânica sobre a "morte de Stalin" poucos dias antes da estreia nos cinemas russos. Aparentemente porque o filme infringe a lei. Qual, só ele sabe. A Constituição é que não pode ser, pois ela proíbe a censura.

O ministro da Cultura revela que se trata mais de leis morais. Pelo jeito, ele e alguns deputados da Duma acham uma insolência que, pouco antes do 75º aniversário da Batalha de Stalingrado, espere-se dos russos que vejam um panfleto que faz piada com o vencedor da Segunda Guerra Mundial: Josef Stalin.

Um desses deputados é a comunista Elena Drapeko. O filme põe em risco a harmonia alcançada pela sociedade russa. Somente Stalin conseguiu uma formulação melhor quando disse: "Vive-se melhor, vive-se mais feliz."

Miodrag Soric
Miodrag Soric é correspondente da DW em Moscou

Repare: o que é ou não uma insolência ao cidadão russo é coisa que o governo decide. E este decidiu que dos russos deve-se exigir menos do que dos cidadãos da Geórgia, da Polônia, da Alemanha e dos Estados Unidos. Fica a pergunta: Por quê? Porque o Kremlin não confia que os russos possam formar sua própria opinião? Isso é uma total asneira. O cidadão russo é tão capaz e maduro quanto o ocidental. Jornalistas russos que viram a comédia sobre Stalin de antemão riram das piadas tanto quanto seus colegas no Reino Unido ou em outros países.

Uma sociedade civil forte não teme o debate público nem o debate sobre o próprio passado. Diferenças de opinião, expostas de forma aberta e respeitosa, fazem parte da democracia e até mesmo a fortalecem. Não existe democracia sem debate, sem troca de ideias.

Quem não quiser ver o filme que o ignore. Simples assim. Proibi-lo vai torná-lo interessante para muitos jovens. Afinal, o fruto proibido é especialmente doce, livros proibidos são interessantes por si só – as pessoas sabem muito bem disso dos tempos da extinta União Soviética. Só que, ao contrário daqueles tempos, o atual governo não tem como proibir que os jovens russos vejam o filme. Quem quiser saber mais sobre isso que pergunte a um jovem russo qual site ele utiliza para obter filmes.

Proteger o mais brutal de todos os ditadores soviéticos não pode ser tarefa do Estado russo. Um carniceiro culpado pela morte de milhões de russos foi chamado também pelo presidente Vladimir Putin de "figura complexa". Será que o chefe do Kremlin considera inoportuno um debate sobre o papel de Stalin na história a poucas semanas da eleição presidencial? Afinal, ele espera que o maior número possível de eleitores vá às urnas. Ninguém deve ficar em casa por causa de uma comédia.

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