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Necessária e possível

6 de março de 2009

Na luta contra a recessão, o BCE reduziu a taxa de juros para 1,5%, o nível mais baixo desde a adoção da moeda comum europeia, há dez anos. Um passo acertado mas que requer cautela, na opinião de Karl Zawadzky.

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A redução da taxa de juros que regula os empréstimos dos bancos da zona do euro junto ao Banco Central Europeu (BCE) era necessária e possível. Necessária era a redução – em 0,5 pontos porcentuais, até o nível atual de 1,5% – devido à continuada crise conjuntural. As más notícias do mundo empresarial não param de chegar. O volume de encomendas cai sem parar, cada vez mais empresas se encontram em sérias dificuldades, no mercado de trabalho cresce o número dos desempregados e dos que trabalham em jornada reduzida.

Foi possível baixar a taxa de juros porque o aumento dos preços praticamente não representa qualquer papel, no momento. Na Alemanha, por exemplo, onde o aumento de preços em janeiro foi de 1,1%, nem se pode falar em inflação. Os acréscimos se movem abaixo da faixa de 2%, portanto dentro do limite considerado pelo BCE como seguro do ponto de vista da estabilidade monetária.

Com sua decisão, o BCE correspondeu precisamente às expectativas já alimentadas há semanas por seu presidente, Jean-Claude Trichet. Os bancos não foram surpreendidos – muito pelo contrário. Com sua política monetária, o BCE está no curso correto, e, no caso da taxa de juros, este curso aponta para baixo.

A partir de meados de 2000, a taxa básica de juros era de 4,25%: na época, o desempenho econômico e os preços escalaram. No último trimestre do ano passado, quando o impulso ascendente há muito já retrocedera, deu-se uma queda abrupta na economia mundial, partindo do mercado imobiliário norte-americano. A esta, os bancos centrais de todo o planeta reagiram com uma diminuição da taxa de juros, nos últimos tempos, em ritmo mensal.

O atual nível de 1,5% provavelmente ainda não é o fim do curso descendente, embora represente um recorde negativo histórico para a zona do euro. Os juros jamais foram tão baixos. E, no entanto, há várias décadas a economia não se encontrava tão debilitada quanto na atual recessão.

Como a conjuntura continua sofrendo, é de se esperar nova redução das taxas de juros. Pois a experiência mostra que juros baixos estimulam a atividade econômica, com uma defasagem de meio ano. As empresas aproveitam as condições de financiamento favoráveis para investir, os consumidores pagam suas aquisições com créditos baratos. Porém, na atual crise, os juros não parecem ainda ter exercido seu efeito estimulante. Na realidade, a desaceleração continua, ninguém sabe quanto ainda falta para o fundo do poço.

Na melhor das hipóteses, as baixas dos juros ocorridas até agora evitaram um colapso ainda mais grave da economia. Por isso, o BCE deveria aguardar para ver se a conjuntura chegará ao fundo do poço em meados do ano, como é de se esperar, para então se estabilizar. Somente se esta suposição se provar falsa, então o BCE poderá realizar nova redução da taxa de juros.

Entretanto, não há qualquer justificativa para uma política de juro zero, como nos Estados Unidos e no Japão. Pois, em primeiro lugar, assim estariam esgotadas as possibilidades da política de juros, e ao BCE só restaria aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, como único meio de influenciar a dinâmica conjuntural. E, em segundo lugar, uma política monetária responsável já deve se preparar agora para o período pós-crise. Quanto mais generosamente se inundar os mercados com dinheiro barato, mais difícil será combater a inflação, na próxima fase de crescimento econômico. Tal poderá logo levar a uma crise de estabilidade e impedir o desdobramento pleno do crescimento.

Uma das causas da atual crise foi a falta de coragem do banco central estadunidense em pôr fim à política do dinheiro barato e da regulação frouxa dos mercados financeiros. Desse modo, criaram-se as bolhas que, ao estourar, provocaram o colapso da conjuntura internacional. Isso não deve se repetir.

Autor: Karl Zawadzky
Revisão: Roselaine Wandscheer