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Opinião: Referendo holandês foi uma fraude

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
7 de abril de 2016

Organizadores afirmam que "não" a acordo com a Ucrânia significa rejeição à toda União Europeia e querem vender falsa ideia de que maioria dos holandeses é contra o bloco europeu, opina a correspondente Barbara Wesel.

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Barbara Wesel Kommentarbild App *PROVISORISCH*
Barbara Wesel é correspondente da DW em Bruxelas

Essa consulta popular foi um evento mal-intencionado. Ela foi montada para criar exatamente o que criou: a impressão de que a maioria dos holandeses disse "não" ao acordo da União Europeia (UE) com a Ucrânia e, assim, implicitamente também à Europa.

Os próprios organizadores do referendo reconheceram isso, afinal, eles apresentaram aos cidadãos uma pergunta sobre um acordo da política externa e venderam a resposta negativa como uma rejeição a toda a União Europeia.

É um monumental conjunto de falsas premissas, e tanto os líderes dos eurocéticos holandeses como as figuras da "Nova Direita", que apoiam Geert Wilders, celebram o resultado e conseguiram o que queriam: mostrar o dedo do meio para a União Europeia.

Para isso, usaram todos os meios da fraude eleitoral: espalharam que se tratava de uma adesão da Ucrânia à UE. Usaram negócios possivelmente escusos do presidente Petro Poroshenko para assustar os cidadãos e até mesmo espalharam boatos de que a derrubada do voo MH-17 possivelmente não foi causada pela Rússia, mas pela Ucrânia (Moscou manda lembranças!). E convenceram as pessoas de que democracia significa votar sobre cada decisão de seu governo em nível europeu.

Depois desse desastre, os holandeses não merecem ser classificados de um conjunto de eurocéticos, como alguns comentaristas fizeram. Na verdade, apenas um quinto deles disse "não" ao acordo com a Ucrânia. E muitos disseram, antes da votação, que nem mesmo sabiam do que se tratava.

Já o argumento de que os quase 70% que não foram votar são os maiores responsáveis pelo resultado negativo é bobagem. Por que uma pessoa deveria participar de um referendo se ela considera a questão uma bobagem e rejeita os seus objetivos?

Em votações desse tipo sempre surge a conhecida mistura de insatisfação generalizada, desgosto com a política, sensação de falta de influência e irritação com o establishment. E também uma parcela de verdadeira rejeição a uma União Europeia que é vista como distante e heterônoma.

Mas não há como mudar isso. Um aparelho enorme, com 28 países-membros, que constantemente toma decisões difíceis e negocia compromissos, não pode toda hora questionar seus cidadãos. É por isso que existe a democracia parlamentar. Devemos confiar na tomada de decisões de nossos governos. E, se esse não é o caso, tirá-los do poder.

O que torna esse tipo de referendo tão perigoso é que agitadores podem induzir os cidadãos a qualquer tipo de mudança de opinião. Até mesmo àquelas que prejudicam os interesses dos próprios cidadãos. A Holanda é intimamente ligada à União Europeia, seu bem-estar se baseia no comércio e nos serviços do mercado comum. Qual seria a resposta se fizéssemos aos holandeses a honesta pergunta: "Vocês querem destruir essa UE e viver sozinhos e pobres dentro do seu país?"

Agora cabe à União Europeia, numa grande ofensiva, explicar às pessoas que não há um caminho de volta para o passado. A nostalgia romântica do Estado Nacional só sobrevive porque ninguém mais se lembra como a vida era limitada, pobre e árdua antes da União Europeia.