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Opinião: "Se Merkel perde, AfD ganha" é uma falácia

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Richard Fuchs
22 de abril de 2016

Popularidade de partidos do governo mantém-se baixa após fechamento da rota dos Bálcãs e chegada de menos refugiados – e populistas de direita crescem. Mas cuidado com conclusões apressadas, alerta Richard Fuchs.

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Richard Fuchs, jornalista da DW
Richard Fuchs é jornalista da DW

A crise dos refugiados na Europa deu impulso o partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Ao ponto de ele ter sido eleito para diversas Câmaras estaduais com números recorde. Agora a legenda populista de direita está agitando contra o islã como um todo. E assim se mantém estável na preferência do eleitorado – embora a onda de novos migrantes esteja momentaneamente sustada.

A rota dos Bálcãs foi fechada há semanas, sob protestos alemães: hoje apenas algumas dezenas de refugiados atravessam diariamente a fronteira do país. E as tempestades da primavera no Mar Mediterrâneo impedirão, por pelo menos algumas semanas, um afluxo em massa em direção à Itália.

Assim, num momento em que, à primeira vista, o governo da chanceler federal Angela Merkel parece tentar uma distensão da crise migratória, as pesquisas de opinião destroem qualquer esperança dos líderes políticos da Alemanha.

Segundo a emissora ARD, continua caindo o apoio popular às legendas estabelecidas da coalizão governamental – União Democrata Cristã (CDU) e Partido Social-Democrata (SPD). Enquanto os social-democratas se mantém em volta de 21%; a CDU de Merkel, antes legenda favorita dos eleitores, despenca para 33%, em novo recorde negativo nos últimos cinco anos.

Alguns observadores fazem previsões sombrias: caso o número de refugiados volte a subir, os populistas de direita poderiam disparar na preferência do eleitorado. Na verdade, esse raciocínio é uma falácia muito difundida: quem argumenta assim não está vendo a situação no contexto total. E no entanto está bastante óbvio por que o sucesso do AfD não é um fenômeno linear e irresistível.

Em primeiro lugar, o afluxo de refugiados não explica, por si somente, a ascensão do AfD. Em vez disso, um caldeirão heterogêneo de desiludidos com a política ganhou agora uma etiqueta e uma marca registrada política – nada mais, mas também nada menos.

Para muitos simpatizantes potenciais do AfD, ódio e rejeição aos estrangeiros só está no topo da lista porque eles procuram alternativas àdemocracia que garantiu aos alemães 65 anos de paz e prosperidade. Assim sendo, não será apenas a cifra oscilante de refugiados a decidir sobre o destino desse movimento político.

Muitos democratas convictos desejariam que assim fosse, mas infelizmente o quadro não é tão simples, em se tratando de partidos de protesto desse tipo. Sobretudo num mundo em que causalidades simples são artigo cada vez mais raro.

No futuro, até mesmo a prosperidade na Alemanha deixará de ser aferida por um número abstrato de "Produto Interno Bruto", e sim por 500 índices isolados. Nesse quadro, como o sucesso do AfD poderia ser definido exclusivamente pelo fator migração?

Em segundo lugar – e talvez bem mais importante: a acorrida ao partido de protesto AfD não é uma via de mão única. Até porque ainda está por vir o desencantamento quanto aos populistas de direita, como caldeirão de ideologias as mais diferentes e totalmente incompatíveis.

No fim de abril, o Alternativa para a Alemanha apresentará pela primeira vez um programa eleitoral. Será interessante observar como, nesse movimento heterogêneo, alas vão se criar e se combater, até o laço unificador da atual crise de refugiados ser forçado demasiado e se romper. Aqui não se trata de um desejo otimista, mas sim da experiência com o destino de tantos partidos de protesto na Europa: muitos vieram, mas a maioria foi-se rapidamente.

Pois o AfD ainda não provou que, além de brados anti-islâmicos, também seja capaz de encarar temas árduos e oferecer soluções reais. Só isso é que torna um partido atraente no longo prazo – apesar de toda a alegria pelo fato de antigos não eleitores terem encontrado novamente, através do AfD, um canal político para sua insatisfação crônica.

Também está em aberto se, no longo prazo, as figuras de proa da legenda confirmarão sua elegibilidade. Na democracia midiática, o AfD só permanecerá presente se se confirmar a integridade da presidente Frauke Petry e seus assessores. Pois as regras da decência nas apresentações em público também valem para os que se engajam nos extremos do espectro político: quem não as acata, deixa de ter espaço.

Prognosticar um maior crescimento do AfD diante de um possível aumento do número de refugiados, seria como acreditar nos modelos econômicos que prediziam crescimento infinito, antes da crise econômica mundial de 2008. Não, é preciso bem mais análise diferenciada – e um pouco menos de crença em fórmulas.

Se Merkel perde, o AfD ganha: essa equação política é simples demais para ser realmente verdade. A política – assim como o mundo contemporâneo – é bem mais complexa.