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Opinião: Sem conceito, não adianta visitar refugiados

Marko Langer
26 de agosto de 2015

Sem ideiais para superar a crise migratória, Merkel e seu vice foram a Heidenau, cidade que foi palco de protestos violentos contra refugiados. Para o articulista Marko Langer, as elites políticas fracassaram.

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Foto: Sarah Ehrlenbruch

Façamos uma pequena viagem com o dedo sobre o mapa. A primeira parada – Atenas. A Grécia não dispõe nem de dinheiro nem de um governo funcional, e o antigo primeiro-ministro já é visto como o próximo. E é ele quem não tem um governo funcional.

Um pouco mais para sudeste – Beirute, no Líbano. O lixo já vem se acumulando há meses, um depósito se encontra fechado, a população está irada e vai às ruas. Eles estão fartos do mau cheiro e da corrupção do governo e de toda a miséria.

Ou, um pouco mais para leste – Damasco, na Síria. Estranhamente, o governante aqui se chama Assad, ainda que venha matando há anos o seu próprio povo e os expulsando em massa do país. Quanto tempo isso vai durar? Ninguém sabe.

O que nos leva ao nosso tema atual: dos três países mencionados, como também de muitos outros, pessoas vêm até nós. Eles são ou se autodenominam refugiados e anseiam por participação – na nossa prosperidade, no nosso espírito de humanidade. Felizmente, muitos de nós estão dispostos a acolhê-los. Outros também falam – como o jornalista Jasper von Altenbockum no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung – de uma "balbúrdia da política de asilo" e que os municípios foram deixados sozinhos com todas as dificuldades.

Em 1990, a emissora britânica BBC produziu para a TV o drama A marcha, baseado em romance de William Nicholson. O protagonista é o norte-africano Isa el-Mahdi, que organiza as marchas dos campos de refugiados da África do Norte para a Europa. No filme, ele diz: "Acreditamos que, quando estiverem diante de nós, vocês não nos deixarão morrer."

Isso é verdade. Mas não resolve nenhum problema. Quando a chanceler federal alemã voltar de Heidenau e tiver algum tempo, ela poderia assistir a esse filme. Uma visão de 25 anos atrás – e nesses 25 anos quase nada foi feito para impedir que a ficção se tornasse realidade.

Chegou a hora. Eles vêm de verdade. Estamos vivenciando um fracasso internacional das elites políticas. Que ao sul de Berlim prevaleçam a corrupção e o nepotismo em detrimento do bem comum – ninguém merece! Que a União Europeia aceita há meses que pessoas da África padeçam no Mediterrâneo, depois de cair em mãos de atravessadores e bandos de tráfico humano – um fracasso! Mas que a liderança política da Alemanha esteja mais preocupada com o efeito que uma visita a um antigo mercado de material de construção, transformado em abrigo de refugiados em Heidenau, possa ter sobre os próprios partidários políticos ou sobre a chamada "plebe rude" – esta é a expressão de um fracasso.

Quando houve, de fato, um encontro de cúpula da União Europeia com a União Africana em que foi discutido um plano diretor comum para a crise de refugiados? Com discussão noite adentro e todo o burburinho que se conhece em relação à crise do euro. Quando a chefe alemã de governo falou pela última vez ao telefone com o presidente americano, Barack Obama, para discutir a catástrofe humanitária na Síria? E quantas sessões do Conselho de Segurança da ONU houve para debater o tema da onda de refugiados?

O que não existem: ideias. Em lugar nenhum. E, já que é assim, os cidadãos na Alemanha vão ajudar cada vez mais as pobres pessoas que perderam a sua pátria e talvez nunca mais a vejam. Contra isso, aliás, todo esse altruísmo só presta uma ajuda relativa. E aqueles por aqui que dispõem de pouco dinheiro e têm que lutar pelo pão de cada dia vão ter dificuldades em assumir tal disposição de ajuda.