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Opinião: Trump está cumprindo o que prometeu

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Michael Knigge
23 de novembro de 2016

Duas semanas após a surpreendente vitória nas urnas, fica óbvio como se enganaram aqueles que pensavam que o mandato do magnata não seria tão terrível como anunciava a campanha, opina o jornalista Michael Knigge.

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Michael Knigge é jornalista da DW
Michael Knigge é jornalista da DW

Há quem se incomode por Donald Trump – agora assinando oficialmente presidente eleito dos Estados Unidos – seguir esbravejando no Twitter contra a mídia, manifestantes ou um grupo de teatro crítico a ele e a suas políticas.

Há quem se incomode por o presidente eleito Trump sugerir publicamente, também pelo Twitter, quem um outro país, o Reino Unido, deve enviar aos EUA como embaixador – ou seja, Nigel Farage, seu amigo do peito e arquiteto do Brexit.

Há quem se incomode que o presidente eleito Trump continue não divulgando sua declaração de imposto de renda, e que esteja ocorrendo de forma no mínimo duvidosa a anunciada separação entre seus interesses comerciais e o cargo presidencial, com a entrega da gestão dos negócios a sua família.

Tudo isso pode e deve incomodar. Pois esses são indicadores de que até agora o presidente eleito não difere fundamentalmente do candidato Trump. Claro, é possível se apostar que ele atravessará tal mudança no momento em que assumir a Casa Branca.

Contudo essa esperança poderá se provar enganosa, já que até o momento Trump não apenas soltou os cachorros no Twitter, como também realizou ações concretas, contendo uma mensagem clara: ele pretende mesmo implementar muito do que proclamou durante sua campanha presidencial.

Desse modo, acaba de confirmar, por mensagem de vídeo, que a saída dos EUA do Tratado Transpacífico (TPP), de livre-comércio, consta entre suas primeiras medidas presidenciais. Além disso, eliminará as regulamentações no setor de energia que impediam o fraturamento hidráulico (fracking) e a produção de carvão mineral americano.

Com essas duas medidas, Trump dá uma guinada em relação ao governo Barack Obama em dois setores políticos centrais. Enquanto o democrata propeliu o livre-comércio e a proteção do clima, o futuro chefe de Estado se move em direção ao protecionismo e à exploração energética tradicional em detrimento do meio ambiente.

Tal não deveria espantar, pois não foi só durante a campanha que Trump formulou seu posicionamento quanto a esses dois temas, a seu ver, interligados. Quatro anos atrás ele já postulara que o conceito de aquecimento global foi inventado pela China para debilitar a indústria americana. Com isso está claro que, sob Trump, os EUA jamais vão conseguir, ou mesmo tentar, alcançar as metas climáticas acordadas em Paris.

No entanto, pelo menos tão alarmantes quanto o anunciado retrocesso na proteção do clima e no livre-comércio são suas decisões no setor de pessoal. Como ao nomear como seu conselheiro-chefe Steve Bannon, antigo cabeça do portal de internet direitista Breitbart.

Para compreender o alcance dessa decisão, é preciso considerar que o mais influente estrategista do futuro presidente americano será um homem que em sua primeira entrevista após a eleição declarou ser nacionalista. Em meados deste ano, Bannon já se gabara de ter criado a Breitbart  como plataforma para o assim chamado movimento alt-right, de extrema direita.

Uma segunda decisão de pessoal de Trump é motivo de preocupação. Michael Flynn, ex-diretor do serviço secreto militar dos EUA, será seu conselheiro de segurança nacional. No início deste ano, Flynn causou alvoroço ao tuitar que ter medo dos muçulmanos seria "racional". E causa igualmente apreensão sua simpatia declarada pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cujo curso se torna cada vez mais autocrático; assim como o bem remunerado discurso de Flynn em Moscou, em 2015, com foto ao lado do presidente Vladimir Putin e tudo mais.

Naturalmente Donald Trump não implementará todas as suas promessas eleitorais, nem comporá seu gabinete só com figuras duvidosas. Contudo, duas semanas após sua vitória, está claro que o futuro pretende transformar em atos os anúncios feitos na corrida presidencial. E seria bom se – ao contrário do ocorrido durante a campanha eleitoral – desta vez a mídia e a opinião pública o levassem a sério desde o início.