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Opinião: Trump sabe lucrar com acordos entre Israel e árabes

Ines Pohl
Ines Pohl
15 de setembro de 2020

Em meio à campanha eleitoral, presidente dos EUA sabe usar pactos israelenses com Barein e Emirados Árabes para se posicionar como um homem forte e um político que faz as coisas acontecerem, opina Ines Pohl.

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Trump entre assessores e diplomatas no Salão Oval da Casa Branca
Trump em 13/08, quando anunciou que Israel e Emirados chegaram a um acordo para normalizar relações diplomáticasFoto: picture-alliance/dpa/AP/A. Harnik

Basta questionar algumas pessoas em qualquer rua dos Estados Unidos para saber que a maioria dos americanos nunca ouviu falar no Barein. Nem nos Emirados Árabes Unidos. Nem em Omã ou no Catar.

Também desconhecidas da maioria da população são as origens do conflito mortal entre palestinos e Israel, assim como os argumentos contra a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém.

O fato de o campeonato nacional de beisebol se chamar World Series (série mundial, em tradução literal) diz muito sobre a percepção dos americanos sobre o world (mundo).

Ainda há muitas pessoas que não percebem como o presidente Donald Trump sabe tirar proveito de algumas situações. A menos de 50 dias da eleição presidencial, a cerimônia de assinatura dos acordos de Israel com os Emirados Árabes Unidos e com o Barein vem a calhar para o presidente.

Trump, um profissional da mídia, sabe como se cercar das insígnias do poder de forma eficaz. Ele sabe a impressão que causa em apoiadores e potenciais eleitores quando, nessas horas difíceis, se apresenta como um político que faz as coisas acontecerem.

E aqui pouco importa se os palestinos são negligenciados de forma imperdoável e se um solução real para o conflito fique ainda mais distante com esses acordos, que têm motivações econômicas.

Ninguém está interessado em saber que o bloco árabe, que durante muitos anos apoiou incondicionalmente os palestinos, já não existe mais. E que, também nessa região, o que interessa é cada vez mais o vil metal, e não a coesão fraterna.

Há muito tempo que a maioria dos americanos não andava tão insegura. É o vírus que mata, são os enormes problemas da economia. Existe realmente uma ameaça de guerra civil nos subúrbios da classe média branca, como sugerem as imagens de muitos protestos? E ainda há os megaincêndios na costa oeste, nunca antes vistos nessa magnitude.

Numa situação como a atual, o anseio, alimentado pelo medo, de muitos americanos por uma mão forte não dá qualquer chance a quem tenta analisar motivações de forma crítica e racional.

Em vez de tentar entender o que todas essas catástrofes têm a ver com um presidente que já está há quase quatro anos no cargo, a maioria quer apenas alguém "que resolva", que coloque os próprios interesses acima de tudo. Um homem que mostre ao mundo quem é que manda. E que coloque os Estados Unidos no lugar que eles de direito merecem no mundo.

Para isso, uma cerimônia ao lado de homens fortes e com muita pompa vem a calhar. Em dias como esses, Trump quer mostrar até mesmo ao maior de todos os céticos quanta força e fome de poder ele ainda tem. E como é fácil, para ele, fazer com que seu adversário, Joe Biden, pareça velho.

Quanto mais se aproxima o dia da eleição, mais difícil se torna entender por que os democratas, de novo, escolheram um candidato de quem, no fim, todos poderão dizer "Trump não ganhou, foi o democrata que perdeu".

Ines Pohl foi editora-chefe da DW e é correspondente em Washington. O texto reflete a opinião pessoal da autora, e não necessariamente da DW.

Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl