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Opinião: Um debate com muito ódio e de pouco conteúdo

10 de outubro de 2016

Numa noite marcada pelo desprezo e pelo ódio, Trump perdeu pontos entre os indecisos, mas Hillary não obteve a vitória clara que alguns esperavam, opina a correspondente em Washington Ines Pohl.

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A jornalista Ines Pohl é correspondente da DW em Washington

No segundo duelo entre Hillary Clinton e Donald Trump, o conteúdo foi ainda menos importante do que no primeiro. Foi uma guerra psicológica. Como Trump reagiria à divulgação de um vídeo que o mostra como um machista misógino? E o que Hillary faria se o seu rival a responsabilizasse pelas agressões sexuais do marido?

A batalha deste domingo (09/10) começou já antes da transmissão. Uma hora antes do debate, Trump convocou uma entrevista para a imprensa. Nela, quatro mulheres lhe declaram apoio, incluindo três que acusaram o ex-presidente Bill Clinton de violência sexual.

A intenção, sem dúvida, era atacar Hillary de surpresa. Foi uma tentativa de tirá-la do sério de supetão e, assim, recuperar terreno, o que Trump perdeu maciçamente desde a última sexta-feira. Foi quase assustador ver como os cônjuges dos dois duelistas entraram na arena. O desgosto que ambos sentiram durante o obrigatório aperto de mãos pôde ser percebido pelas telas.

Esta foi uma noite de desprezo é ódio. E, se expressões faciais e linguagem corporal não deixaram nenhuma dúvida sobre a antipatia mútua, os dois candidatos conseguiram se controlar de tal forma que não se chegou a nenhum dos ataques verbais que milhões de pessoas poderiam estar esperando em segredo.

No caso de Hillary, já se podia contar com isso. Não só porque, em sua carreira de décadas, ela teve de suportar inúmeras situações que exigiam grande disciplina, mas também porque, para ela, o que importa é uma agenda de conteúdos, que ela gostaria de detalhar nos debates. Ela nunca se cansa de explicar a seus apoiadores, mas também às eleitoras e eleitores ainda indecisos, por que ela é a mais qualificada para a presidência e com que planos pretende chegar à Casa Branca.

Pode-se considerar uma injustiça que ela não pudesse fazer nada para ganhar esse segundo duelo, mas que a sua vitória dependesse somente de Trump se comportar mal. E ele não se comportou mal. Claro, mais uma vez, ele não deu nenhuma resposta consistente a qualquer uma das perguntas e não foi capaz de embasar as suas promessas pretensiosas com planos. Seus apoiadores, porém, não vão culpá-lo por isso. Eles compartilham com Trump o ódio declarado por Hillary. E até mesmo escorregadas verbais, como a afirmação de que, como presidente, ele colocaria Hillary na cadeia, agradam seus eleitores. Em todo comício de Trump veem-se inúmeras camisetas justamente com esses dizeres: Hillary na prisão.

Trump perdeu pontos, no entanto, entre os eleitores indecisos e apartidários que vão decidir esta bizarra eleição. Com suas explicações precisas e com seu novo carisma, é bem possível que Hillary tenha conseguido convencê-los. Mas não foi a vitória clara que alguns esperavam. O show vai continuar. E a única notícia realmente boa da noite é que se está um dia mais perto do 8 de novembro, quando acontecerá a verdadeira votação.

Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl