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Alemanha diante de um longo e duro inverno de pandemia

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Jens Thurau
18 de outubro de 2020

Já não se ouvem mais os elogios à saúde e liderança alemãs: os contágios sobem, um novo período de confinamento está às portas. Em meio à indecisão da política, o cidadão só tem uma coisa a fazer, opina Jens Thurau.

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Chanceler federal alemã, Angela Merkel, coloca máscara protetora
Premê Merkel vai perdendo a paciência com o individualismo dos governos estaduaisFoto: Stefanie Loos/AFP/dpa/picture-alliance

A relação dos alemães com novo coronavírus no começo de 2020 foi marcada pelas restrições aos contatos e a ação decidida da política. Eles ficaram conhecendo o trabalho a partir do home office, andaram de bicicleta e passaram a maior parte do tempo em casa.

Chocados, vimos as imagens da Itália ou Espanha: clínicas totalmente sobrecarregadas, mortos. Ficamos repugnados com a indiferença de um presidente Jair Bolsonaro, no Brasil, e, mais do que tudo, de um Donald Trump na Casa Branca. Mas nós tínhamos Angela Merkel. E o confinamento não ia durar para sempre, logo chegaria o verão.

E mais uma vez escapamos só com um olho roxo – era o sentimento geral. Mesmo que também na Alemanha houvesse alguns milhares de mortos a prantear. Os alemães se viram um pouco refletidos na crise: lá está ela novamente, a German angst, a ansiedade tipicamente alemã, tendo como símbolo os rolos de papel higiênico empilhados no porão.

Agora tudo é diferente. Nada está passando rápido, nem o vírus, nem a crise. Os alemães tiveram que aprender a importância do número de incidência. Eles vivenciam uma política que decreta, afobada, a proibição de hospedagem nos hotéis dos estados, só para em seguida esta ser anulada pelos diferentes tribunais.

Todos – ou pelo menos a maioria – usam máscaras onde têm que usar, certamente também o fariam em locais ao ar livre. E veem como sua chefe de governo, Angela Merkel, aos poucos vai perdendo a paciência com a o afã individualista das medidas anti-covid dos diversos governadores.

Calaram-se os louvores à excelente assistência sanitária dos alemães, à sensatez de seus políticos e cientistas: uma profunda preocupação se alastra. Comparadas, por exemplo, às da França, as taxas de contágio entre a população alemã ainda são relativamente baixos. Mas a política está jogando um jogo arriscado.

Não se pode mais impor um segundo lockdown à economia e à cultura, os dirigentes depositam nas mãos dos cidadãos a responsabilidade pela evolução futura da pandemia. Especialmente nas grandes cidades, os agentes da lei e da ordem não conseguiram impedir grandes festas no verão – e não seria de espera outra coisa, considerando-se a crônica falta de pessoal da polícia, há décadas.

Máscaras protetoras, distância, higiene. E de volta aos contatos estritamente necessários. Nas conversas privadas, fica claro que um número cada vez mais maior dos cidadãos que, no geral, apoiam a política antipandemia, agora têm alguns questionamentos.

Por que custava e custa um tremendo esforço visitar um familiar agonizante na clínica, quando, ao mesmo tempo, a Bundesliga voltou a jogar para o público? Por que cidadãos conscienciosos têm que abrir mão de viagens a dois, num hotel no estado vizinho, enquanto a polícia não consegue dissolver festas com centenas de participantes?

São equações que seguramente não servem a ninguém. Não tem jeito: a grande maioria dos sensatos do país vai ter que atravessar de novo a crise. Possivelmente será um inverno duro, frio e escuro. Agora a política experimentou diferentes alternativas, cometeu erros, primeiro elogiou e depois exagerou com o federalismo. Porém a sociedade democrática é composta por liberdade e responsabilidade; não só direitos, mas também deveres.

Agora temos que tomar a tarefa nas mãos, cada um de nós. Por enquanto, a política está emaranhada em rodeios e indefinição, mas os próprios alemães sabem o que fazer agora. Crise do coronavírus, capítulo dois: usar máscara, manter o distanciamento, reduzir os contatos. E não perder a paciência.