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Opinião: Alemanha vive falsa sensação de segurança

Yanis Varoufakis
13 de setembro de 2017

Alemães têm ilusão de saúde econômica, o que se reflete na campanha para estas eleições. Na verdade, superávits são sinal de fraqueza e desequilíbrio, opina o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.

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Yanis Varoufakis

A complacência é o pior inimigo de um país. Meus compatriotas, certa vez, se deixaram convencer por uma falsa sensação de ter "conseguido". Isso foi claramente uma ilusão, pela qual hoje pagamos caro. Tenho muito medo de que a maioria dos alemães sinta que seu país está "indo bem".

A campanha eleitoral morna é reflexo da falsa sensação de segurança gerada pelos três superávits da Alemanha: as empresas economizam, os domicílios economizam, os bancos de Frankfurt estão inundados com dinheiro enviado de outros países europeus, e até mesmo o orçamento do governo federal está superavitário. Mas esses excedentes são sinal de fraqueza, e não de força. Eles são prenúncios de grandes dificuldades que a maioria dos alemães enfrentará agora e no futuro.

Pense nisso por um minuto: um superávit de quase 10% da renda nacional significa que a nação deve enviar suas economias para o exterior, para investir em países com déficit. Seria isso uma coisa prudente a fazer, especialmente quando o capital alemão no exterior está criando bolhas que em algum momento irão explodir (como aconteceu na Grécia e na Espanha)?

Além disso, quão inteligente é depender do influxo de dinheiro nos bancos de Frankfurt para cobrir suas insolvências, especialmente quando esse tsunami de dinheiro estrangeiro está inundando a Alemanha porque seus proprietários italianos ou franceses estão perdendo esperança na economia de seus próprios países? Finalmente, quão racional é para o Ministério das Finanças celebrar um superávit orçamentário que se deve às taxas de juros negativas que (a) estão esmagando os fundos de pensão alemães e (b) fazendo com que a famosa dona de casa suábia perca a fé no establishment político alemão?

A Alemanha precisa de um debate franco entre os seus cidadãos sobre como lidar com a ameaça que os seus excedentes estão representando para a sociedade alemã, tanto quanto a Grécia precisou de um debate semelhante, há algum tempo, sobre a ameaça representada por nossos déficits. Afinal, para cada superávit, há um déficit em algum outro lugar dentro de uma união monetária. Ter o establishment político celebrando os desequilíbrios como sinais de saúde econômica, só porque a Alemanha é abençoada por seus superávits é vender para o público alemão uma fonte de problemas como uma evidência de sucesso.

Do ponto de vista histórico, a Alemanha alcançou seu status invejado pelo mundo todo como resultado de um contrato social que ofereceu à sua classe trabalhadora uma forte proteção (e assentos nos conselhos de administração de grandes empresas) em troca de um ambiente liberal, flexível e regulamentado no qual o empresariado pode progredir.

Mas isso só foi possível enquanto os Estados Unidos estavam gerenciando o ambiente macroeconômico em nome da Europa e, claro, da Alemanha. Infelizmente, desde a crise de 2008, os americanos não podem mais desempenhar esse papel, e a classe trabalhadora alemã experimenta, ano após ano, dia após dia, a fragmentação desse escudo protetor. Agora, cabe à Alemanha e ao resto de nós, europeus, construir um mecanismo racional dentro da Europa para reciclar nossos déficits e superávits. Se falharmos, a Europa falhará, a Alemanha falhará, e a própria civilização estará em perigo.

A julgar pelo atual debate pré-eleitoral, nenhum dos partidos do governo parece interessado em discutir esse tema. Felizmente, há muitos membros inteligentes de partidos existentes que reconhecem a importância dessa reorientação da política alemã. Os membros alemães do DiEM25, nosso Movimento Democracia na Europa, estão trabalhando freneticamente para conseguir unir esses atores políticos num movimento que coloque na agenda esse tema central. É disso que a Alemanha precisa. É disso que a Europa precisa.

Yanis Varoufakis foi ministro das Finanças da Grécia durante seis meses em 2015, no governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras. O economista, de 56 anos, é professor de Economia na Universidade de Atenas e cofundador do movimento DiEM25. Ele é um dos mais tenazes críticos da política de austeridade econômica do governo alemão.