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Aliança democrática triunfa no Brasil

31 de outubro de 2022

Em uma ressurreição política surpreendente, Lula reuniu apoio de quase todo o espectro político para derrotar a extrema direita e se tornar o primeiro presidente da História do Brasil eleito para um terceiro mandato.

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Lula e seu vice, Geraldo Alckmin
Lula contou com apoio de antigos rivais para se tornar o primeiro presidente eleito democraticamente para um terceiro mandatoFoto: Roberto Casimiro/Fotoarena/IMAGO

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retorna à Presidência do Brasil 20 anos depois de ser eleito para o cargo mais alto da República pela primeira vez. O resultado desta eleição é repleto de marcos históricos e simbologia. Lula torna-se o primeiro presidente da História do Brasil eleito democraticamente para um terceiro mandato. Já Bolsonaro será o primeiro presidente desde a redemocratização a não se reeleger. A vitória de Lula consolida ainda o novo ciclo da esquerda na América Latina, após guinadas no México, Argentina, Bolívia, Peru, Honduras, Chile e Colômbia.

A vitória também marca uma inimaginável ressurreição política para Lula, que passou 580 dias na prisão após ser condenado por corrupção em 2018. Três anos mais tarde, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações de Lula por erros processuais e por entender que o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro, aliado de Bolsonaro, agiu com parcialidade e motivação política.

Aliança de forças outrora rivais

Barrado de disputar a Presidência em 2018, Lula voltou com força no pleito de 2022 e reuniu em torno de si o apoio de políticos, empresários e intelectuais de quase todo o espectro político. Ele estendeu a mão à centro-direita ao compor a chapa com o ex-rival Geraldo Alckmin. Adversários históricos e figuras importantes da política brasileira que sempre detestaram Lula declararam apoio a ele. Viram-no como a melhor opção diante de Bolsonaro, que conduziu um governo desastroso e se dedicou incansavelmente a atacar as instituições democráticas.

Assim, o resultado da eleição significa uma vitória para essa ampla aliança democrática. Não se pode negar, porém, que mais uma vez o presidente do Brasil foi escolhido em um duelo de rejeições. A rejeição a Bolsonaro foi maior, mas isso não significa que Lula terá tranquilidade para governar. Forças bolsonaristas conquistaram espaço expressivo no Congresso e compõem uma oposição nada desprezível, quando se tem pela frente a tarefa de resgatar mais de 30 milhões de pessoas ameaçadas pela fome, impulsionar o crescimento econômico, fortalecer a defesa do meio ambiente e recuperar o prestígio do país no cenário internacional. O desafio à capacidade de Lula para costurar alianças nunca foi tão grande.

Suspense sobre a transição

O primeiro passo já será difícil: o presidente precisa aceitar a derrota e passar o poder para as mãos de Lula no dia 1º de janeiro de 2023. Bolsonaro ameaçou diversas vezes não aceitar o resultado da eleição se não a considerar "limpa". O mandato presidencial de Lula pode começar tumultuado por uma batalha judicial parecida com a que aconteceu após a eleição presidencial de 2014, quando o Brasil entrou na crise em que está atolado até hoje.

A transição também deve ser barulhenta. Mais de 58 milhões de eleitores chancelaram a agenda de extrema direita do presidente, e boa parte deles provou ser suscetível à máquina de propaganda bolsonarista. A mobilização dentro das bolhas ideológicas nas redes sociais vai dar o tom dos próximos acontecimentos. E confirmar ou descartar os medos de uma ruptura democrática.

O clima tóxico pós-eleição vai adiar novamente o trabalho mais importante que o país tem a fazer: o de reconciliação. Para evoluir como democracia, os brasileiros precisam recuperar a capacidade de discordar sem violência e construir consensos. Já as ideias fascistas que ganharam o mainstream nos últimos anos, essas, sem dúvida, precisam voltar para o buraco de onde nunca deveriam ter saído.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.