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Mike Pence e Kamala Harris mostraram como deve ser um debate

Autorenbild l Kommentatorenbild DW Carla Bleiker PROVISORISCH
Carla Bleiker
8 de outubro de 2020

Vice-presidente e senadora democrata protagonizaram um duelo que conseguiu ser mais presidencial do que o debate entre Trump e Biden na semana anterior. E Harris se saiu melhor, opina a jornalista Carla Bleiker.

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Mike Pence e Kamala Harris em palco de debate
Primeiro e único debate entre os candidatos à vice-presidência correu de forma comportada na maior parte do tempoFoto: Justin Sullivan/AP Photo/picture-alliance

Após o debate entre o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, e a candidata democrata ao cargo, Kamala Harris, uma coisa é certa: o comportamento de ambos os políticos foi muito mais presidencial do que o de seus chefes há uma semana. Enquanto Donald Trump e Joe Biden constantemente interrompiam um ao outro e se xingavam mutuamente, Pence e Harris fizeram um duelo civilizado na maior parte do tempo. Um debate em que o telespectador depois de alguns minutos não pensa desesperadamente em tirar o áudio da televisão – que refrescante!

Com certeza, também desta vez, no primeiro e único debate entre os candidatos à vice-presidência, nem tudo correu bem. Ambos os candidatos viam as perguntas da moderadora Susan Page como boas sugestões e oportunidades para promover suas posições ou criticar as do oponente. Raramente eram dadas respostas diretas a perguntas. Mas pelo menos houve discussões entre o atual vice-presidente e a senadora da Califórnia que os eleitores conseguiram acompanhar. E quando Pence tentava interromper Harris, ela o alertava com um firme mas calmo "estou falando", silenciando o republicano.

Atuação de Harris pode levar democratas às urnas

No geral, Kamala Harris pareceu se sair melhor no debate. Ela não teve um momento de estrela como teve num debate das primárias democratas, durante uma discussão com o atual chefe da chapa, Joe Biden. Mas com suas fortes críticas às políticas de coronavírus do governo Trump e a maneira como ela orgulhosamente falou sobre a história de sua família – a mãe de Harris imigrou da Índia para os EUA –, ela deve ter convencido muitos potenciais eleitores democratas a irem às urnas na eleição presidencial em novembro ao invés ficarem em casa.

A falta de entusiasmo por Joe Biden, outro velho branco candidato à presidência, é uma ameaça real para os democratas, e Harris deu uma resposta a esse problema com seu desempenho na noite de quarta-feira. Muitas mulheres negras que não se empolgam com Biden amam Harris. E ela não decepcionou seus fãs.

Pence também conseguiu ganhar alguns pontos de vez em quando, por exemplo, ao persistir e ressaltar que Harris se recusava a dizer se ela e Biden planejam ampliar o número de juízes na Suprema Corte. Mas ele pareceu apático na maior parte do tempo. Harris ainda marcou pontos na discussão sobre a Suprema Corte: ela contou a história de Abraham Lincoln, um dos presidentes mais reverenciados da história dos Estados Unidos, que em 1864 teve a chance de preencher um posto de juiz da Suprema Corte 27 dias antes da eleição – e não o fez, por não ser o mais adequado, tão pouco tempo antes da eleição. O governo Trump não conhece tais preocupações e está fazendo tudo o que pode para colocar a juíza conservadora Amy Coney Barrett na Suprema Corte o mais rápido possível.

Ponto de Pence em resposta sobre RBG

Somente na última pergunta Pence conseguiu brilhar com uma bela resposta. Um aluno da oitava série enviou uma pergunta sobre como os americanos normais conseguiriam se entender se nem os políticos em Washington conseguem. Pence citou então a recém-falecida Ruth Bader Ginsburg, juíza da Suprema Corte, e seu colega Antonin Scalia, morto em 2016. Os dois eram ideologicamente bem distantes, mas nutriam uma profunda amizade.

"Aqui nos EUA podemos estar em desacordo, podemos debater rigorosamente, como a senadora Harris e eu fizemos esta noite", disse Pence. "Mas quando o debate acaba, nós, americanos, nos unimos." Mas infelizmente, nos últimos quatro anos, o governo Trump fez mais para dividir os americanos liberais e conservadores e semear o ódio do que para realmente unir as pessoas.

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*Carla Bleiker é jornalista da DW.  O texto acima reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.