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O elefante na sala da UE

3 de janeiro de 2019

Quem quiser combater a ascensão do populismo de direita na União Europeia tem que começar exatamente pela política para refugiados, opina o jornalista Christoph Hasselbach.

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CDU-Jahresempfang 2018 | Sebastian Kurz
Com um posicionamento rígido anti-imigração, Kurz e sua coalizão deram uma guinada à direita na ÁustriaFoto: DW/K. Brady

Para onde foi o espírito europeu de cooperação e reconciliação? Basta olhar para a situação em alguns Estados-membros para se chegar à conclusão de que a União Europeia vai extremamente mal atualmente.

O Reino Unido quer deixar completamente a UE, possivelmente sem acordo algum.

Na França, Emmanuel Macron, antes figura modelo, perdeu o encanto. Cidadãos normais com coletes amarelos saem às ruas em massa, alguns sequer abriram mão da violência. Extremistas de direita e esquerda tentam tirar proveito desse clima.

O governo populista da Itália se opôs abertamente à Comissão Europeia na disputa pelo orçamento. Bruxelas fez concessões bastante generosas à Itália pouco antes do Natal, abriu mão de medidas disciplinares contra o país por quebra das regras fiscais da UE, vendendo isso como uma vitória da razão sobre o confronto. É possível que a audácia de Roma logo faça escola no continente.

Em disputas sobre o Estado de Direito, os governos de Polônia e Hungria também só cedem quando diante do inevitável e, mesmo assim, só desviam o mínimo suficiente para contornar o problema.

Na Espanha, um dos últimos baluartes contra o populismo de direita, o partido direitista Vox, obtém agora fortes ganhos na Andaluzia. A agremiação tem no ex-ditador Franco um ídolo.

O populismo de direita é o grande fenômeno da Europa. Partidos da extrema direita estão em ascensão em praticamente todos os países da UE. Em alguns casos, como na Áustria e na Itália, já participam do governo. Lá, os cidadãos estão satisfeitos.

A Alemanha não é poupada disso. Embora muito menos refugiados cheguem agora à Alemanha do que em 2015/16 e embora a chanceler federal Angela Merkel tenha se despedido de sua política liberal de “portas abertas”, as taxas de aprovação da AfD não estão em queda. O partido populista de direita pode se tornar a primeira ou ao menos a segunda maior força nas próximas eleições estaduais no leste da Alemanha no segundo semestre deste ano.

O teste decisivo para toda a UE virá em poucos meses, nas eleições ao Parlamento Europeu. Todas as pesquisas indicam que os partidos populistas de direita e antieuropeus conseguirão uma representação parlamentar ainda maior do que as que já têm. As forças razoáveis e moderadas terão então dificuldades ainda maiores.

Parte das razões para a radicalização política é diferente em cada país da UE. Na França, é a arrogância do presidente. Na Espanha, o sucesso do Vox também é uma reação ao separatismo catalão. Na Itália, o ânimo contra a UE é alimentado, acima de tudo, pela insatisfação com a situação econômica – que, naturalmente, não se deixa solucionar com as receitas do populismo.

Mas o grande tema comum em todos os países é a imigração – uma imigração que é, em grande parte, descontrolada e não desejada. Enquanto os políticos dos partidos moderados não conseguirem encontrar uma resposta para o problema, nada deve mudar esse estado de espírito. Três anos atrás, Angela Merkel levou as coisas ao ápice dizendo que não podia fechar as fronteiras e que não havia um teto para a concessão de refúgios. Ela pediu a colaboração de toda a UE por conta de seu erro político – e, assim, se isolou completamente. Isso tem repercussões até hoje.

Quem quiser melhorar o estado da UE, tem que começar exatamente por aqui: as pessoas anseiam por segurança, pelo momento em que os Estados e a UE como um todo recuperarão o controle sobre a migração.

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