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Opinião: Os riscos da aliança entre Otan e Montenegro

Dragoslav Dedovic Kommentarbild App
Dragoslav Dedović
2 de dezembro de 2015

A Aliança Atlântica ofereceu a filiação a um antigo inimigo de guerra nos Bálcãs. Mas essa decisão não levará necessariamente a paz interna a Montenegro, opina Dragoslav Dedovic, da redação sérvia da DW.

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Dragoslav Dedovic é jornalista da redação sérvia da DW

Durante a Guerra do Kosovo, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) realizou em 1999 intensos ataques aéreos contra sérvios e montenegrinos, na época unidos no Estado denominado "República Federal da Iugoslávia". Nessa guerra, Montenegro foi atacada com bem menos frequência do que a Sérvia, a qual, sob o autocrático presidente Slobodan Milosevic, era vista pelo Ocidente como problema principal.

O foco militar sobre a Sérvia, na época, contrariou alguns montenegrinos, para quem a valentia faz parte da celebrada autoimagem nacional. Durante os piores bombardeios noturnos em Belgrado, lia-se na cidade de Niksic um grafite gaiatamente desafiador: "Bombardeiem a gente também!"

Os tempos de hostilidade agora são definitivamente coisa do passado. O primeiro-ministro montenegrino, Milo Dukanovic, tem razões para estar bem satisfeito: a Otan acaba de oferecer a filiação a seu país, situado na costa do Mar Adriático, entre dois membros da Aliança – a Croácia e a Albânia.

No fim dos anos 90, Dukanovic primeiro se distanciou de Milosevic, e, após a queda deste, da Sérvia democrática, acabando por conduzir Montenegro à independência em 2006, tendo claramente em vista o ingresso na União Europeia e na Otan. Há décadas o domínio de Dukanovic é estável, porém controvertido: consta que ele estaria envolvido no contrabando de cigarros em grande escala, além de ter boas conexões na Itália.

Como mão direita de Milosevic, forneceu a munição ideológica àqueles franco-atiradores montenegrinos que, em 1991, no início das guerras secessionistas da Iugoslávia, penetraram até Dubrovnik, na Croácia. Alguns chegam a classificar o que Dukanovic fez, na época, como incitação a crimes de guerra – num país a que Montenegro estará futuramente ligado, como parceiro da Otan.

No entanto, o premiê sempre afirmou ter ficha limpa. Com o convite da Aliança Atlântica, ele se sentirá ainda mais confirmado como democrata convicto dos Bálcãs Ocidentais, e se encenará de forma condizente. Se, no futuro, a atualmente fragmentada oposição de Montenegro se radicalizar, há todo motivo para que se veja o fato como consequência da presente decisão.

O importante é o chefe de governo manter os russos longe do Adriático. Aqueles russos que, alguns anos atrás, ele ainda recebia em seu país de braços abertos, como amigos de tradição, tanto na qualidade de veranistas sedentos de sol como de homens de negócios.

O tom desaprovador de Moscou diante das ambições montenegrinas relativas à Otan deverão ser tão desagradáveis para Dukanovic, do ponto de vista político, como os protestos da agressiva oposição diante do Parlamento em Podgorica. Entretanto, para o político, o que conta mais é a tão almejada impunidade, mesmo ao fim de uma quase principesca hegemonia de um quarto de século, e também a recém-adquirida legitimidade internacional.

A Otan, por sua vez, fecha uma potencial lacuna geoestratégica e assegura sua presença dominante no Adriático: isso é tudo. Os montenegrinos podem ser soldados corajosos, mas, em termos militares, são irrelevantes. Mesmo que o país enviasse todo seu contingente de 2 mil homens a uma região de conflito, esse certamente não seria um fator decisivo, em termos bélicos.

Será que a Otan pode ter, pelo menos, um papel modernizador para Montenegro? Bom seria. Carece de qualquer fundamento realista a afirmativa de que a filiação tornaria irreversível a vinculação ao Ocidente e o consenso de valores nos Estados aceitos na organização.

São numerosas as exceções que logo vêm à mente: Albânia, Bulgária, mas também Grécia e Turquia, membros veteranos da Otan, são exemplos de Estados altamente corruptos, quer sob regime autoritário, quer manobrados por oligarcas. Nem mesmo golpes militares abalaram a associação à Aliança Atlântica.

O que a organização acabou de fazer foi, antes, adotar uma criança-problema, mesmo que no momento o fato seja muito elogiado. Os departamentos de relações públicas em Podgorica e Bruxelas certamente já estão engendrando a lenda de vitória do Estado transformado com sucesso.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, já deu o exemplo: "Este é o início de uma belíssima aliança", declarou. Mas não é com essa decisão que Montenegro alcançará a própria paz interna.