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Opinião: Precisamos mesmo de Merkel?

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Felix Steiner
26 de setembro de 2017

Parece que a ficha ainda não caiu na CDU: derrota estrondosa na eleição deveria acender a luz dentro do partido e levar alguém a questionar o inquestionável, afirma o articulista Felix Steiner.

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Angela Merkel, chanceler federal da Alemanha e líder democrata-cristã
Angela Merkel, chanceler federal da Alemanha e líder democrata-cristãFoto: Reuter/K. Pfaffenbach

Na eleição de domingo (24/09), a chefe de governo conservadora Angela Merkel sofreu uma derrota estrondosa, mas parece que nem todos receberam essa notícia. Logo após o fechamento das urnas, diante do júbilo da ala jovem da União Democrata Cristã (CDU) na sede federal do partido, numerosos espectadores se perguntavam que droga aqueles jovens teriam tomado. E no dia seguinte, na entrevista à imprensa em Berlim, veio a estoica constatação da líder de que ela realmente não sabia o que poderia ter feito diferente.

Pode ser que os esfuziantes parabéns do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, tenham contribuído para essa percepção tão distorcida da realidade. Ainda que, a rigor, ambos deveriam saber que os alemães haviam elegido apenas o seu Parlamento, como prevê a Lei Fundamental, e não reeleito a chanceler federal.

Felix Steiner
Felix Steiner é articulista da DW

Esta, para continuar sendo o que é há 12 anos – já que o Partido Social-Democrata (SPD) não quer mais cooperar –terá primeiro que formar uma coalizão quádrupla entre sua CDU, a irmã bávara União Social Cristã (CSU), o Partido Liberal Democrático (FDP) e o Partido Verde. Uma façanha que, nas atuais circunstâncias, equivale à quadratura do círculo.

Ainda mais importante: se até lá a nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) não tiver se esfacelado – a saída da presidente Frauke Petry já antecipa isso – tal coalizão de governo seria um formidável programa de incentivo para que os populistas de direita cresçam ainda mais na próxima eleição.

Mas a CSU cuidará para que a coisa não vá tão longe. A perda de votos dela na Baviera foi ainda mais dramática do que a da CDU nos demais estados. Por isso, impera desde domingo em Munique o pavor da perda da maioria absoluta no pleito estadual do próximo ano.

Embora sequer estivesse concorrendo como candidato, o errático líder social-cristão, Horst Seehofer, foi punido na Baviera. Quem acusa a chanceler federal de transgredir conscientemente a lei e não consegue se impor com a penetrante e incondicional exigência de um teto máximo para o ingresso de refugiados na Alemanha deveria abandonar a coalizão em vez de, pouco antes da eleição, voltar a encarnar o "Horst bonzinho".

Se não, que então pelo menos não se admire de os populistas da AfD ganharem tantos eleitores. Mas Seehofer não aprende e agora quer "deixar as coisas bem claras e definidas" e fechar o "flanco da direita". Isso numa coalizão com os verdes e liberais. Só rindo, mesmo!

Chato para Angela Merkel é que, se na coalizão anterior, com os social-democratas, ela contava com maioria de dois terços e poderia passar tranquilamente sem o partido-irmão bávaro, agora a CSU é indispensável para uma maioria. Assim, agora todos vão expressar e mostrar sua responsabilidade perante o Estado, sondar longamente, negociar mais ainda – e, no fim das contas, não chegar a lugar nenhum.

E aí, o que acontecerá? Antes de se lançar numa totalmente imprevisível nova eleição, alguém na CDU ainda vai seguramente se lembrar das palavras do líder do SPD, Martin Schulz, no domingo e na segunda-feira: seu partido não participará de "nenhuma coalizão com Angela Merkel à frente", disse.

A velha raposa Schulz deixou uma portinha dos fundos aberta ao optar pela oposição! Pois ele também sabe que, depois de 12 anos de mandato, nem o povo nem o eleitorado da CDU fazem tanta questão assim de Merkel, como uma ou outra pesquisa de opinião sugere de vez em quando.

A líder conservadora conta com apreciação ilimitada sobretudo entre aqueles que lhe devem os cargos que ocupam ou naqueles círculos que nunca votam na CDU – pois até a CDU, sob Merkel, age conforme a visão de mundo desses círculos.

Duas questões ficam em aberto: quem mais na CDU pode ser chanceler federal? E quem será o primeiro a dizer o inevitável? Se os democrata-cristãos ainda têm a pretensão de, como um atuante partido de massas, não só governar, mas também influenciar ativamente, então é preciso encontrar alguém para essas duas questões. Houve um tempo em que secretários-gerais do partido assumiam esse papel. Alguém aí ainda se lembra?

[Nota da redação: Em 1999, na qualidade de secretária-geral da CDU, Merkel liderou a oposição interna ao então líder honorário e figura de proa do partido, Helmut Kohl, envolvido num escândalo de doações ilícitas. No ano seguinte, ela se sagrava presidente da União Democrata Cristã.]