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Opinião: Resultado eleitoral obscuro no Equador

Deutsche Welle Ofelia Harms Arruti Online Porträt
Ofelia Harms Arruti
3 de abril de 2017

Candidato do governo é declarado rapidamente vencedor da eleição presidencial. Oposição pede recontagem. Não é de admirar, pois o Conselho Eleitoral tem cada vez menos credibilidade, opina a jornalista Ofelia Harms.

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Ofelia Harms é jornalista da Deutsche Welle
Ofelia Harms é jornalista da Deutsche WelleFoto: Nilab Amir

Desde outubro, os equatorianos vivem em prolongada agonia. Naquela época, oito nomes se candidataram ao primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 19 de fevereiro. Mas não houve um vencedor claro, e foi anunciado um segundo turno.

Os dois primeiros colocados não podiam ser mais distintos. Lenín Moreno, paraplégico que se candidatou pelo partido governista de esquerda Aliança País (AP) disposto a continuar a "revolução civil" de Rafael Correa; e o ex-banqueiro e seguidor da Opus Dei Guillermo Lasso, do partido conservador Criando Oportunidades, defendendo um programa neoliberal.

Já nas sondagens pôde-se sentir as profundas divisões no país. Dos mais de 12 milhões de eleitores, quase 50% desejavam uma mudança de governo. O presidente Rafael Correa esteve dez anos no poder. O economista conseguiu dar estabilidade política no país, pela primeira vez em muitas décadas, e combateu a pobreza com projetos sociais estatais. Mas a crise mundial de petróleo e um forte terremoto em abril de 2016 sustaram o crescimento econômico do Equador.

Além disso, vários políticos de seu governo se viram envolvidos em escândalos de corrupção. O povo estava farto. Para muitos, Lasso não era a melhor escolha, mas o mal menor. Embora ele represente a oligarquia de direita, que antes de Correa havia levado o país a uma crise profunda, muitos pensavam que pior do que agora não podia ficar.

Mas a outra metade do eleitorado, um segmento mais pobre da população, sentiu na última década uma melhora e se beneficiou dos muitos programas sociais. Eles preferem ficar com o "velho mal" do que conhecer a "boa nova" (como no provérbio espanhol "Mais vale um mal conhecido do que um bem por conhecer").

No final, o "correísmo" conseguiu vencer. Como anunciou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em Quito, Moreno ganhou com 51% (!) dos votos, Lasso chegou a 49%. Mas só é questionável a rapidez com que o CNE conseguiu contar os votos dessa vez. Na primeira rodada, ele precisou de quatro dias para publicar os resultados finais. Agora, tudo foi contado em poucas horas.

E, mais uma vez, a internet entrou em colapso, exatamente como no primeiro turno. Desta vez, isso aconteceu após a contagem de menos de 20% dos votos. E, pronto, uma hora e meia depois eles estavam de volta, online, com mais de 90% dos votos apurados. É compreensível que a oposição culpe o CNE. Ela protesta diante da sede do órgão e exige uma recontagem "voto por voto".