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Opinião: TTIP não é bicho-papão

3 de maio de 2016

O Greenpeace conseguiu fazer barulho com seu vazamento sobre negociações do acordo de livre-comércio entre UE e EUA. Mas poucos questionam o que há de verdade nas críticas ao tratado, opina o jornalista Miodrag Soric.

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Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington
Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington

Desde o princípio, o Greenpeace colocou areia no processo de negociação do TTIP. E isso é legítimo. Para isso é que servem os lobistas. E o que é surpreendente: grande parte da imprensa alemã e políticos caíram na armadilha. Poucos questionam publicamente as alegações dos críticos. Acusações são repassadas ​​como fatos. Propaganda, em vez de esclarecimento.

Quase como Donald Trump. Ele também faz da política um teatro, distribui meias-verdades mundo afora – e se deixa, então, ser festejado por isso. Até combina que o próprio Trump vocifere contra acordos de livre-comércio. Claro, para proteger seus compatriotas dos malvados do exterior. Ele calunia o establishment político que, "de alguma forma está comprado pelo empresariado".

Para variar, alguns fatos. Acordos internacionais são sempre negociados a portas fechadas. Isso tem pouco a ver com dissimulação, como propaga o Greenpeace. É simplesmente uma questão de praticidade. Se os políticos democraticamente eleitos não estiverem de acordo com o resultado do contrato, então eles o recusam no final. Ou o tratado será renegociado.

É curioso que particularmente na Alemanha muitos tenham reservas contra o TTIP. Mas é exatamente o mercado mais forte de exportação do Velho Continente que mais lucra com o livre-comércio. Ramos industriais inteiros, como de tecnologia médica, vivem do comércio exterior, empregam milhares de pessoas. As montadoras alemãs gastam anualmente várias centenas de milhões de euros para certificar os seus novos motores ou outras peças de automóvel nos EUA. Essa é uma desvantagem competitiva que beneficia, no final, a concorrência nos EUA e na Ásia.

Bálticos, britânicos, poloneses, espanhóis ou holandeses devem se surpreender pelo fato de que exatamente a Alemanha esteja botando o pé no freio em relação às conversações do TTIP. Naqueles países, a maioria dos cidadãos é a favor acordo do livre-comércio com os EUA.

Mas o Greenpeace se importa menos com a preservação da qualidade de vida. Suas preocupações são com a proteção do meio ambiente. Alegam isso, de qualquer forma. Mas esquecem o fato de que a proteção ao meio ambiente nos EUA é, em parte, mais rigorosa do que na UE.

Os carros a diesel da Volkswagen que circulam aos milhares nas estradas alemãs foram retirados das ruas pelas autoridades americanas. Seja em laticínios, produtos de carne ou aditivos alimentares: os americanos são frequentemente muito mais rigorosos que os europeus. Sucos de frutas que estão nas mesas das reuniões do Greenpeace não podem ser comercializados nos EUA, por poderem conter resíduos de agrotóxicos. Que os europeus morram com ele, pois os americanos não querem o produto de jeito algum.

O Greenpeace também acusa que a defesa dos consumidores seria sacrificada no altar da TTIP. Eu nunca vou esquecer as palavras de um velho fazendeiro em Iowa, com o qual conversei sobre o tema milho geneticamente modificado: "Nós, americanos, também amamos nossos netos."

Claro que o TTIP não será um acordo perfeito. Tanto europeus como americanos terão que fazer concessões. E eles vão também se beneficiar juntos. Por exemplo, quando as tarifas alfandegárias desaparecerem, quando as certificações forem reconhecidas mutuamente, quando o cliente decidir se quer comprar um produto americano ou europeu.