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Opinião: Uma nova era na Turquia

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Seda Serdar
17 de abril de 2017

Erdogan conseguiu o que queria com o referendo constitucional: mais poder. Mas quase metade da população votou contra isso, e discurso de unidade do presidente está longe de unir sociedade polarizada, opina Seda Serdar.

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Seda Serdar
Seda Serdar é chefe da redação turca da DW

A Turquia não está mais numa encruzilhada. Uma nova era começou. Pouco mais de 51% dos cidadãos turcos votaram "sim" no referendo constitucional, abrindo caminho para um sistema presidencial à moda turca. Ao fazerem isso, esses eleitores entregaram a Erdogam e a quem quer que lhe suceda o poder supremo. No entanto, considerando quantos recursos o partido governamental AKP tinha, o nível de votos pelo "sim" indica algumas dinâmicas interessantes.

Em primeiro lugar, o pacto com Devlet Bahceli, líder do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), não se mostrou tão lucrativo quanto Erdogan esperava. A oposição dentro do MHP foi mais poderosa do que tanto o AKP quanto Bahceli queriam acreditar. Poderia surgir um novo partido, que criaria fissuras ainda mais profundas dentro do MHP de Bahceli? Isso certamente não parece estar fora de questão.

Em segundo lugar, é importante não esquecer que o referendo foi realizado durante um estado de emergência. O AKP tinha todos os instrumentos e vantagens financeiras do governo, além do poder da mídia. Mas ele conseguiu apenas 51% dos votos. E não podemos esquecer que ele perdeu na capital, Ancara, assim como em cidades como Adana, Antalya e até Istambul, que foram redutos do AKP nas eleições gerais de novembro de 2015 e nas eleições presidenciais de 2014.

Quando os votos estavam sendo contados, o Supremo Conselho Eleitoral (YSK) afirmou que as cédulas com selos oficiais seriam contadas. E é claro que isso logo deu a impressão de uma manobra injusta.

A oposição fará tudo o que estiver a seu alcance para contestar o referendo e para que os votos sejam recontados onde acredita que tenha havido manipulação. Ao mesmo tempo, vídeos e imagens que viralizaram nas redes sociais levantam uma questão semelhante.

O governo precisa levar em conta tais preocupações, especialmente considerando o fato de que o resultado foi tão apertado e que as alterações constitucionais terão um impacto crucial no futuro da democracia na Turquia. No entanto, para o AKP a única coisa que pareceu importar foi que eles conseguiram a vitória do "sim".

Líderes do AKP afirmaram uma série de vezes que o novo sistema entraria em vigor em 2019, mas discussões sobre eleições antecipadas já estão em curso. Por que esperar para implementar a decisão do povo? Tal argumento já foi levantado há muito tempo, e Erdogan não quer perder mais tempo até ser oficialmente reunido novamente com seu partido. Isso significa que a temporada de eleições provavelmente está apenas começando.

Mesmo que um homem tenha ganhado enormes poderes como resultado do referendo, quase metade da população votou contra isso. Em outras palavras, o presidente Erdogan está diante de uma sociedade polarizada. O discurso de unidade feito na noite do referendo está muito longe de começar a unir as profundas divisões surgidas ao longo dos anos.

Erdogan realmente tem muito pela frente: a Síria, a delicada relação com os aliados da Turquia, a questão dos refugiados e a questão curda, para citar apenas alguns pontos. Mas em vez de focar nesses assuntos urgentes, parece que ele deve preferir priorizar a rápida estabilização de seus novos poderes.