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Os jovens judeus que trocam a Alemanha por Israel

Dana Regev av
6 de março de 2019

O avanço do antissemitismo e sobretudo um sentimento generalizado de não pertencimento estão entre principais motivos citados por judeus na faixa dos 20 a 30 anos que decidem emigrar para o país no Oriente Médio.

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Suástica em muro de sinagoga em Dresden: crimes contra judeus cresceram no país
Suástica em muro de sinagoga em Dresden: crimes contra judeus cresceram no paísFoto: picture-alliance/dpa

Quem nasceu e cresceu em Israel não está acostumado a escutar que sua biografia desperte inveja. O país está envolvido num conflito sangrento com os palestinos, o serviço militar é compulsório, o nível de desigualdade social é alto. Os israelenses também têm a jornada de trabalho mais longa entre os países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As estatísticas não fazem de Israel uma destinação óbvia para imigrantes, especialmente os vindos da Alemanha. Também membro da OCDE, o país suplanta Israel em diversas áreas, entre as quais em salário médio e desempenho educacional. Mas para alguns judeus alemães as cifras nuas e cruas são irrelevantes: eles decidiram mudar-se para Israel, e não lamentam.

"É possível, sendo judeu na Alemanha, sair de casa sem ser tratado como uma peça de museu? Na verdade, não", afirma Alon Kogan, de 22 anos, nascido na cidade de Offenbach e vivendo em Israel desde 2015. "Eu sempre me senti quase como uma atração turística. Aqui eu não me sinto mais como um forasteiro."

Kogan era um dos mais de 6.500 judeus que moram nas proximidades de Frankfurt, mas o fato não o deixava mais à vontade quanto a sua religião. "As pessoas sempre cochichavam: 'Olha, aqui tem judeus! Olha como eles se vestem!', se um grupo de judeus ortodoxos atravessava a rua. É como se fosse um espanto ainda haver judeus por lá."

Episódios de antissemitismo também eram uma realidade em sua vida. "Nunca me aconteceu nada de mais sério, mas os amigos sempre contavam de incidentes aqui e ali. Logo depois de eu terminar o curso médio um amigo me falou dessa migração positiva para Israel. Eu senti vontade de fazer isso também, como se fosse a coisa certa para mim".

Maya Rosenfeld, de 22 anos, mudou-se também para o país no Oriente Médio três anos atrás. "Eu estava cansada de estar me explicando o tempo todo, cansada de explicar o judaísmo para o mundo", recorda. "As pessoas me perguntavam por que os judeus circuncidam seus filhos ou exigiam que eu explicasse as políticas de Israel. Por que eu? Vai se educar por conta própria."

Quando ela frequentava a escola em Colônia, alguém escreveu em sua cadeira "porca judia". Outro lhe disse que os judeus eram responsáveis pelo 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, e alegou falsamente que nenhum judeu morreu nos atentados. "Simplesmente não é verdade, basta olhar no Google", foi sua resposta.

Uma outra vez, um colega trouxe um jornal para a sala de aula e perguntou o que ela estava fazendo com as pessoas na Faixa de Gaza. "Para ele, eu era de alguma forma responsável pela coisa, por ser judia." E o assédio não parou depois da escola. "Você pensaria que as pessoas por volta dos 30 anos são mais informadas sobre os judeus do que colegiais. Mas, mesmo durante o profissionalizante as perguntas esquisitas continuaram vindo."

Rosenfeld diz ter diversos amigos judeus na Alemanha que escondem a identidade para evitar conflitos. Para ela, no entanto, essa não era uma opção, e em 2016 decidiu se mudar. "Não podia mais viver como uma estranha em meu próprio país", enfatiza.

Maya Rosenfeld, judia alemã que vive em Israel
Maya Rosenfeld cansou-se de "viver como uma estranha em meu próprio país"Foto: privat

O governo alemão registrou um incremento de 10% dos delitos antissemíticos em 2018, com 1.656 casos registrados em todo o país, contra 1.504 no ano anterior. Também o número de crimes violentos motivado por ódio a judeus aumentou de 37 em 2017 para 62.

Para Lina, de 28 anos, entretanto, o que a motivou a se mudar para Israel cinco anos atrás não foi tanto o antissemitismo, mas antes um sentimento generalizado de ser estrangeira. Chegada a Munique da Lituânia com a família aos sete anos de idade, ela diz ter sempre se sentido como hóspede, apesar de falar alemão fluente e ter frequentado tanto a escola quanto a universidade na Alemanha.

"Eu sempre tive um histórico de vida diferente do dos outros. Por isso, meus amigos mais íntimos sempre eram de origem estrangeira", explica. Depois de se envolver com a comunidade judaica local, Lina passou a considerar seriamente mudar-se para Israel.

"Os israelenses pareciam ter vidas tão mais normais. As histórias deles pareciam ser algo que eu gostaria de vivenciar. Comecei a pensar como seria minha vida se eu tivesse crescido em Israel. Na Alemanha, eu ficava sempre procurando um senso de pertencimento."

Frequentar a sinagoga ou celebrar os feriados judaicos não é mais considerado estranho ou exótico, diz Rosenfeld. Mas, embora feliz por ter se mudado, sua nova vida em Israel não é livre de dificuldades: "Agora eu me confronto com a ignorância do outro lado: teve gente me dizendo que nunca visitaria a Alemanha por causa do Holocausto, e me perguntando se nós todos somos nazistas."

Kogan também teve suas dúvidas: "Muitas vezes eu me perguntei o que estava fazendo, deixando para trás a minha confortável vida na Alemanha. Principalmente no meu primeiro dia de serviço militar", diz, rindo. "Mas sempre que visitei Israel, eu me sentia em casa. Então segui o meu coração, e foi a escolha certa."

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