1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Os pais arrependidos da Alemanha

Nastassja Shtrauchler (md)1 de agosto de 2016

Um em cada cinco pais e mães na Alemanha se arrepende de ter tido filho, segundo pesquisa. Autor do estudo afirma que governo deveria fazer mais para incentivar natalidade no país.

https://p.dw.com/p/1JZaK
Foto: picture-alliance/Bildagentur-online/Tetra Images

"Eu me arrependo bastante hoje de ter colocado um filho no mundo." É a frase de uma mãe e uma das muitas respostas que o psicólogo Holger Geissler recebeu. O especialista do instituto de pesquisas YouGov realizou, junto com uma colega, um levantamento com 2.045 pessoas na Alemanha, perguntando se prefeririam viver sem filhos, se pudessem novamente fazer a escolha. O resultado é que 19% das mães e 20% dos pais preferiam não ter tido filhos – algo que Geissler considera "preocupante".

Três fatores desempenharam um papel particularmente importante: por um lado, o aspecto do desenvolvimento pessoal. Na sondagem, 52% disseram que houve momentos em suas vidas em que foram restringidos pela paternidade. Por outro lado, 77% dos pais afirmaram que ter filhos é motivo de satisfação.

Um dos principais fatores que influenciaram as respostas parece ter sido a questão do acompanhamento da criança. "Vimos de forma relativamente clara que quanto mais opções de assistência às crianças existem, menos pais se arrependem de terem tido filhos", explica Holger Geissler, em entrevista à DW.

Danos à carreira profissional

Dos entrevistados, 64% disseram acreditar que a Alemanha tem muito poucas opções de estabelecimentos onde deixar as crianças enquanto os pais trabalham. O tema "carreira" também desempenhou papel importante, e 44% das mães e 20% dos pais afirmaram que suas carreiras teriam sido melhor se eles não tivessem tido filhos.

Holger Geissler, pai de quatro filhos, diz que o governo alemão deveria fazer mais nesse aspecto, especialmente em um país como a Alemanha, onde a taxa de natalidade está em constante declínio: "Se 20% dos pais dizem que se arrependem de terem tido filhos, onde isso vai parar?"

24-Stunden-Kita
Crianças na creche: pais reclamam de poucas opções para deixar seus filhos quando trabalhamFoto: picture-alliance/dpa/J. Büttner

Mensagens no Twitter dão uma pista de para onde esse debate caminha. Uma internauta escreveu que se arrepender de ter filho não é nada mais do que uma traição ao próprio filho. Outra foi mais específica e falou em "mães de pedra" que realmente não merecem ter uma criança, em razão de seu comportamento.

Comentários similares foram ouvidos recentemente após a publicação de um estudo da socióloga israelense Orna Donath, em 2015, sob o título Regretting Parenthood (arrependendo-se da paternidade), no qual ela realizou entrevistas com 23 mães que não teriam tido filhos, caso pudessem optar novamente.

O argumento de muitas, que disseram não terem encontrado nenhuma realização, provocou tanto desaprovação como alívio entre o público alemão. Muitas mulheres alemãs ficaram felizes em obter a confirmação de que não há problema se uma mulher não se sentir plenamente realizada apenas no papel de mãe.

Papel tradicional

Holger Geissler, do instituto de pesquisas de opinião YouGov, observa que a Alemanha se encontra no bom caminho para acabar com a imagem tradicional dos papéis de homens e mulheres, mesmo que as mulheres frequentemente continuem tendo um papel secundário na sociedade após terem filho.

"A fim de prevenir um arrependimento posterior, ambos os sexos têm que pensar bem no que estão fazendo", aconselha Geissler. "Faz sentido se pensar antes o que significa ter um filho."

Ele acrescenta que muitos homens, em particular, não estão cientes do quanto sua posição na família muda e em relação ao tema sexualidade. "Suspeito que esse seja um aspecto pelo qual muitos pais se arrependem mais tarde de terem se tornado pais."

A sondagem do YouGov, entretanto, também teve um resultado positivo: 95% dos entrevistados disseram que amam seus filhos, apesar de tudo. Assim como a mãe descrita por Holger Geissler, que escreveu: "Meu filho é o maior presente que já recebi."