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Pandemia arranha imagem de uma Europa organizada

Uta Steinwehr
11 de janeiro de 2021

Apesar de boa reputação de diversos países do oeste e do norte europeu, realidade é outra quando se trata de controlar o coronavírus.

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Pofissionais de saúde tratam de paciente de covid-19 em uma unidade de terapia intensiva na capital belga, Bruxelas.
Com capacidades no limite: uma unidade de terapia intensiva na capital belga, BruxelasFoto: Getty Images/AFP/K. Triboillard

Alemanha

Durante a primeira onda, a Alemanha era vista como líder mundial na contenção da pandemia. Há muito tempo, porém, que o país perdeu esse status.

No final de setembro, quando a chanceler federal Angela Merkel avisou que poderia haver 19,2 mil novas infecções diárias no Natal. A declaração foi encarada com ceticismo por autoridades resistentes à imposição de novas medidas de confinamento. Duas semanas depois, em reunião com os chefes dos estados federais, o máximo que ela consegui foi um "lockdown light", embora defendesse medidas mais rígidas.

Já no início de novembro, o Instituto Robert Koch, responsável pelo controle e prevenção de doenças infecciosas na Alemanha, relatou pela primeira vez mais de 20 mil novas infecções em um dia. Em meados de dezembro e no início de janeiro, as regras tiveram então que ser reforçadas em todo o país.

Os governadores dos dois estados federais mais atingidos atualmente, Turíngia e Saxônia, já admitiram erros. "A chanceler estava certa e eu errado", disse Bodo Ramelow em uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine. Seu colega saxão Michael Kretschmer também reconheceu que, olhando em retrospecto, teria sido melhor paralisar o país muito antes, "mesmo que isso tivesse levado a muita incompreensão por parte da população", conforme citado pelo diário Free Press, de Chemnitz,

Criança estuda sentada em frente a um laptop, utensílios escolares, um livro aberto e uma máscara de proteção facial sobre a mesa.
As escolas continuam fechadas na Alemanha – e a aprendizagem digital nem sempre funcionaFoto: K. Schmitt/Fotostand/picture alliance

Os erros, porém, não foram observados apenas no outono europeu, em resposta ao número crescente de infecções, mas também na preparação para tal situação. No início da pandemia, virologistas e médicos enfatizaram que o vírus iria se espalhar fortemente na estação mais fria e que haveria uma segunda onda.

Porém, em vez de usar o verão para se preparar, o país dormiu no ponto ou simplesmente desperdiçou a oportunidade, criticaram políticos e associações, entre outros. Ainda faltam equipamentos digitais nas autoridades de saúde e nas escolas, assim como faltam conceitos funcionais sobre como manter o ensino durante a pandemia. Em muitos aspectos, a Alemanha parece ter sido pega de surpresa pela segunda onda.

Dinamarca

No início da pandemia, a Dinamarca também deixou uma boa impressão. A esmagadora maioria dos dinamarqueses – 95% dos entrevistados – disse que seu governo estava fazendo um bom trabalho no combate à pandemia, constatou o Pew Research Center durante o verão europeu.

Até que surgiu o problema dos visons. Uma mutação do coronavírus foi detectada em alguns desses animais, criados em grandes quantidades nas fazendas da Dinamarca devido ao valor comercial de sua pele. Preocupadas com a possibilidade de que a nova versão do vírus pudesse ser transmitida aos humanos e tornasse as vacinas menos eficazes, as autoridades dinamarquesas ordenaram a morte de todos os animais. Mais de 15 milhões de visons foram sacrificados.

Agora, o problema é a carcaça dos animais, pois os gases de decomposição chegaram à superfície, provocando temores de que a água potável seja poluída. Em maio, então, os animais deverão ser desenterrados e queimados.

Visons abatidos em fazenda perto de Naestved, na Dinamarca, em 6 de novembro de 2020.
Com medo do coronavírus, mais de 15 milhões de visons foram abatidos em fazendas dinamarquesasFoto: Mads Claus Rasmussen/Ritzau Scanpix/REUTERS

O escândalo pode ter consequências graves para a Dinamarca, avaliou Søren Riis Paludan, professor do Instituto de Biomedicina da Universidade de Aarhus. Em meados de dezembro, ele disse ao Financial Times que o caso dos visons ofuscou a luta contra a pandemia no mês anterior: "Durante três semanas, não falamos sobre o aumento do número de infecções. O foco não estava mais na pandemia, e a expansão passou despercebida."

Desde então, escolas, restaurantes e a maioria das lojas estão fechados. Há poucos dias, a Dinamarca tornou a aumentar as restrições.

Holanda

Por muito tempo, a Holanda não recorreu ao uso de máscaras em público, limitando-se a determinar sua obrigatoriedade apenas no transporte local. O governo questionava a utilidade de tal medida. Só no final de setembro, o país emitiu uma recomendação a favor do uso da proteção facial como forme de proteger a si e aos outros. Desde 1º de dezembro, as máscaras são obrigatórias em espaços públicos fechados. Para fins de referência: a Organização Mundial da Saúde (OMS) as recomenda como meio de combate à pandemia desde junho.

Uma estratégia de vacinação pouco clara também foi alvo de duras críticas. "Caótica", "confusa" e "constrangedora" são os rótulos usados pela oposição ou pelos médicos. No dia 6 de janeiro, a Holanda se tornou o último país da UE a iniciar a imunização de sua população – dez dias depois da Alemanha e de outros países –, embora a vacina já estivesse armazenada no país há tempos.

O fato de o país ter hesitado em algumas estratégias pode causar espanto, especialmente quando se leva em consideração que os hospitais estavam tão sobrecarregados durante a primeira onda que os pacientes de covid-19 tinham que ser levados para a Alemanha para receber tratamento.

Bélgica

Contradizendo o clichê de nações ocidentais bem organizadas, a imagem da Bélgica já estava arranhada antes mesmo da pandemia de coronavírus. Politicamente, os belgas se encontram numa posição complicada: com negociações intermináveis para formar uma coalizão de governo.

O país, cuja capital é a sede da UE, também luta contra o coronavírus. "Estamos à beira de um tsunami", disse o ministro da Saúde belga, Frank Vandenbroucke, em meados de outubro. Na ocasião, os hospitais estavam totalmente sobrecarregados, os pacientes eram transferidos para países vizinhos e os profissionais de saúde infectados tinham que continuar trabalhando.

Equipe médica, usando equipamento de proteção, trabalha com um paciente com coronavírus.
Com o sistema de saúde sobrecarregado na Bélgica, pacientes de covid-19 foram acolhidos pela AlemanhaFoto: Francisco Seco/AP/picture alliance

De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças da UE (ECDC), a Bélgica chegou a alcançar o maior número de novas infecções no bloco em termos populacionais. De acordo com os dados, a incidência de 14 dias atingiu um pico no final de outubro, com 1.774 novos casos por 100 mil habitantes.

Medidas mais rígidas levaram a uma melhora da situação no momento atual.

Suécia

Por muito tempo, a Suécia seguiu um caminho isolado e muito controverso na Europa. Em vez de medidas coercivas, o país escandinavo recorreu principalmente a apelos à população e a um processo de infecção natural para obter imunidade coletiva. Mas no outono, o número de infecções aumentou significativamente.

Em seu discurso de Natal, o rei Carl 16 Gustaf definiu a estratégia de seu país como um fracasso. "Temos um número elevado de mortes e isso é terrível", disse o chefe de Estado. Na sexta-feira (08/01), o parlamento sueco aprovou uma lei dando determinados poderes ao governo, como ordenar o fechamento de lojas.

Áustria

Quase um ano atrás, a estação de esqui de Ischgl ganhou notoriedade como impulsionadora da pandemia na Europa. Uma comissão independente de especialistas confirmou que as autoridades austríacas cometeram erros e falhas no tratamento do surto na cidade. As áreas de esqui na Áustria já estão abertas novamente, mas após o fluxo de turistas, às vezes enorme, algumas regiões tiveram que enrijecer as regras novamente.

Como um todo, o país passa por uma crise. Poucos demonstraram interesse nos testes em massa oferecidos no início de dezembro, que, para piorar, foram acompanhados por avarias técnicas. O chanceler federal Sebastian Kurz também foi duramente criticado quando acusou imigrantes de terem trazido o vírus para o país no verão, algo que os números refutam.

Esquiadores com máscaras faciais de proteção deixam teleférico na área de esqui de Semmering, na Áustria, em 24 de dezembro de 2020.
Estações de esqui foram reabertas na Áustria, mas os turistas geralmente desobedecem as regras de quarentenaFoto: Alex Halada/Getty Images/AFP

Atualmente, o processo de vacinação ocorre de maneira bastante irregular no país, com doses não utilizadas abandonadas em depósitos. Enquanto isso, aumentam os pedidos de demissão do ministro da Saúde Rudolf Anschober.

França

Na Europa, a França responde pela segunda maior taxa infecção por covid-19 depois da Grã-Bretanha, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. A propagação do vírus só pôde ser contida com medidas duras. Entre elas, estão toque de recolher noturno e um raio de locomoção muito pequeno. Devido à sobrecarga no início do ano, pacientes de covid-19 tiveram que ser transferidos para a Alemanha, e o procedimento foi repetido no outono como medida de precaução.

Diante de um início lento na vacinação, políticos regionais acusaram o governo de Paris de fracasso e de terem sido deixados de fora no processo de planejamento. "Nós nos tornamos motivo de chacota global", disse à DW Michaël Rochoy, clínico geral em Outreau, no norte da França. "Como as coisas podem andar tão devagar em um país que tem um sistema de saúde nacional tão bom?"

Profissional de saúde boceja enquanto faz uma pausa na unidade de terapia intensiva para pacientes infectados por covid-19 do hospital universitário (CHU) Cavale Blanche em Brest, oeste da França, em 4 de novembro de 2020.
No limite: profissionais de saúde que trabalham em unidades de terapia intensiva sofrem estresse constante há mesesFoto: Loic Venance/AFP/Getty Images

A pandemia também está tendo um impacto inesperado: uma empresa de eletricidade pediu aos franceses que economizassem energia. Na França, a maioria das famílias aquece suas casas com eletricidade, algo que agora está se tornando escasso. Segundo os fornecedores de energia, o motivo está nas baixas temperaturas aliadas à falta de manutenção.

Mas nem todos os países da Europa têm se saído tão mal em resposta à pandemia: Noruega e Finlândia têm conseguido surfar bem nesta segunda onda até aqui.