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'Partida' como retorno

Thomas Kirschner (av)23 de maio de 2008

Estréia em Praga a mais nova peça do ex-presidente, após longo recesso teatral. Autor, político e ícone da virada democrática na República Tcheca, sua verdadeira pátria é o palco.

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Peça de Havel (c) é um sucessoFoto: AP

Faz cinco anos que Václav Havel deixou o mais alto posto político da República Tcheca. Agora, aos 71 anos, ele está de volta, mas não à política, e sim ao palco. Odcházení – Partida –, assim se intitula sua mais recente peça. Ansiosamente aguardada, ela estreou nesta quinta-feira (22/05), no teatro Archa, de Praga, e não decepcionou as expectativas.

Sobre despedida e retorno

A melancolia da despedida tomou todo o palco. O tema é picante: a perda do poder. No centro da trama, está um político idoso que tem que entregar o cargo e abandonar a vila presidencial. Cercado de puxa-sacos e de traidores, em algum lugar entre o rei Lear de Shakespeare e O jardim das cerejeiras de Tchekhov.

Mas, apesar dos paralelos biográficos, Havel não quer que se veja sua peça como um drama à clef. O título Partida deve ser entendido no sentido mais amplo do termo, explica. O tempo escoa e o que acontece, se foi, irreversivelmente. "Mas deve estar preservado em algum lugar. Ininterruptamente algo se vai de nós, outras coisas vêm e algumas também retornam. E nas últimas semanas também eu tenho a sensação de um retorno."

Velhos temas

Tschechien Theater Vaclav Havel mit seiner Frau Dagmar Havlova
Dagmar Havlová ao lado do maridoFoto: picture-alliance/ dpa

Trata-se da volta à cena que Havel desejava há tanto tempo. Durante 13 anos renunciou ao teatro, em favor do cargo máximo no Estado. É também o retorno a uma temática antiga, pois boa parte da obra foi escrita já em 1989, ainda antes do esfacelamento da União Soviética e da ascensão à presidência da ex-Tchecoslováquia. Porém sua própria despedida do cargo conferiu, sem dúvida, uma nova faceta à peça, admite Václav Havel.

"Na época, como hoje, me interessava, sobretudo, o significado existencial das coisas." Como pode ser que perder o poder signifique perder o sentido da vida? Como é possível que o poder possua tamanho carisma para certas pessoas, que, ao perdê-lo, o mundo entra em colapso para elas?

A relatividade do tempo e dos valores

Essa dissolução é também visível no palco. Tão logo os símbolos do poder desaparecem, inicia-se, irrefreável, a decomposição. Ao fim, os cenários e os últimos adereços sobem para o céu teatral. A direção é de David Radok, cuja fama internacional se deve em especial a suas montagens operísticas.

Ele explica que a peça não contém uma solução. "Apresentam-se questões existenciais, sobre a relatividade dos valores, sobre o que tem valor na vida e o que não." E estas são perguntas para as quais ninguém ainda encontrou uma resposta satisfatória. Trata-se de uma consideração sobre a relatividade do tempo e dos valores.

Making of acidentado

Samtene Revolution Prag 1989
A 'Revolução de Veludo' em Praga, 1989Foto: Picture-Alliance /dpa

Nas últimas décadas, nenhum evento teatral de Praga foi observado com tanta curiosidade quanto o retorno de Václav Havel à cena. Uma notoriedade que se deve, em parte, à história prévia da produção.

Durante longas negociações, o palco da estréia foi mudado várias vezes. Além disso, a esposa do ex-presidente, a atriz Dagmar Havlová, deveria ter assumido o principal papel feminino, e há apenas três semanas teve que renunciar, por motivos de saúde. Apesar de tudo, as apresentações estão todas com lotação esgotada, e diversos teatros estrangeiros já manifestaram interesse pela peça.