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Partido governista perde força na África do Sul

Martina Schwikowski md
10 de maio de 2019

CNA mantém maioria no Parlamento, mas perde eleitores. Pela primeira vez, legenda, que teve como maior ícone Nelson Mandela, não consegue alcançar 60% dos votos.

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Apuradora de votos mostra folha de papel, cercada por fiscais durante contagem de voto na África do Sul
Fiscais e apuradores durante contagem de voto na África do SulFoto: Reuters/R. Ward

Vinte e cinco anos após o fim do apartheid e o estabelecimento do Congresso Nacional Africano (CNA) como principal partido da África do Sul, a legenda  conseguiu manter a maioria parlamentar, mas apresentou uma queda histórica de votos nas eleições deste ano, realizadas nesta quarta-feira (08/05).

Pela primeira vez, o partido, que teve como maior ícone Nelson Mandela, não consegue alcançar 60% dos votos. Após apuração das urnas de cerca de 95% dos distritos eleitorais, o CNA havia obtido pouco menos de 58% nesta sexta-feira (10/05). Nas últimas eleições, de 2014, o partido tinha conseguido mais de 62%. O anúncio dos resultados oficiais é previsto para este sábado.

O apoio cada vez menor para o CNA, que elegeu Cyril Ramaphosa como novo presidente do país há apenas um ano, representou, de certa forma, o sucesso de seus dois principais oponentes políticos, o Aliança Democrática (DA) e o Combatentes da Liberdade Econômica (EFF). A maior legenda da oposição, o liberal DA, porém, esperava um crescimento maior do que mostram os resultados. A agremiação chegou a cerca de 20%.

Na eleição de 2014, o DA obteve nível parecido: 22% dos votos. Seu carismático líder negro Mmusi Maimane liderou uma campanha eleitoral difícil neste ano, concentrando-se em um eleitorado multiétnico, na esperança de garantir mais adeptos. Ele mirava os eleitores do CNA que estão fartos da política corrupta de seu partido nos últimos dez anos, sob a liderança do ex-presidente Jacob Zuma, que renunciou no ano passado.

Mas alguns dos tradicionais eleitores brancos do DA mudaram seu voto para um velho mas ressurgente grupo ultraconservador: a Frente da Liberdade Plus (FF+). O partido obteve quase 3%, o que significa um crescimento, se comparado ao menos de 1% da última eleição.

Sithembile Mbete, da Universidade de Pretória, não está muito surpresa com isso. "Quando você olha para o crescimento deles a partir de uma perspectiva numérica, pode-se ver o quanto cresceram. Tem a ver com o aumento do nacionalismo branco globalmente ", disse ela, em entrevista à DW. Mbete acredita que isso mostra como raça ainda é um fator importante quando as pessoas vão às urnas.

Presidente da África do Sul, Cyrill Ramaphosa, no meio de uma multidão, fala com jornalistas
Presidente da África do Sul, Cyrill Ramaphosa, no dia da votaçãoFoto: DW/A. Kriesch

"O DA perdeu parte de sua base central para partidos como o FF+, mas também ganhou alguns dos eleitores desiludidos do CNA. No entanto, eles não se beneficiaram do declínio do CNA, que beneficiou apenas o EFF", acrescenta. De acordo com Mbete, o DA esperava festejar as perdas do CNA. "Eles não o fizeram. Eles cresceram, mas não tiraram todas as vantagens disso."

Parece que o DA não é mais o lar político de muitos eleitores brancos, enquanto o partido também fracassou em atrair muito mais eleitores negros. É aí que o EFF entra em jogo; partido defensor da reforma agrária sem compensação para os agricultores brancos e que oferece uma oposição mais radical à política do CNA, denunciando a corrupção profundamente enraizada do partido governista.

O EFF pôde, assim, obter ganhos em comparação com cinco anos atrás, mas deve ficar com pouco mais de 10% – pouco diante dos 14% previsto por alguns antes da votação.

Há outro fator crucial a considerar: o comparecimento às urnas foi de 65%, em vez dos 72% previstos. Este é um sinal da desilusão dos eleitores, segundo analistas. Olhando para a sociedade desigual da África do Sul, o analista político Makhosini Mgitywa acredita que os eleitores sul-africanos podem ter sido influenciados pelos esforços do CNA para se redimir.

"O CNA elegeu um líder que não apenas fala sobre, mas também atua contra a corrupção", afirma. "As pessoas veem essas coisas e pensam: 'o CNA vai conseguir mudar'."

Mgitywa acredita que o partido governista ainda tem muito trabalho pela frente. "Agora a chave está com Cyril Ramaphosa e o ministério que ele vai nomear."

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