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Passadas as eleições, temas urgentes estão na pauta dos políticos alemães

Jeanette Seiffert (msb)23 de setembro de 2013

Crise do euro, alta dívida interna, injustiças sociais: definida reeleição de Merkel e com início das negociações para uma coalizão de governo, partidos agora terão que buscar soluções para questões cruciais para o país.

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Foto: picture-alliance/ZB

Em época de campanha eleitoral, fala-se bastante sobre política, mas pouco é colocado em prática. Com os partidos alemães em busca de votos, decisões importantes vêm sendo adiadas há meses, fazendo com que elas tenham se tornado ainda mais urgentes para as próximas semanas – especialmente as que se referem a um tema central da atual política externa: a crise do euro.

Temporariamente envolvida em silêncio, a crise financeira deve voltar com tudo na imprensa, depois que as eleições de domingo (22/09) consagraram a chanceler federal Angela Merkel, que conseguiu votos suficientes para um terceiro mandato, mas que ainda busca um parceiro para formar uma coalizão de governo na Alemanha.

Apesar de a economia de alguns países europeus já mostrar sinais de recuperação, a Grécia parece ainda não conseguir se reerguer sozinha, dado o tamanho de sua dívida pública, que chega a 300 milhões de euros.

Recentemente, o atual ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, admitiu que a situação dos gregos ainda preocupa. "Será preciso um novo programa para a Grécia. Isso vem sendo dito sempre em público no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão)", afirmou.

Importantes institutos de pesquisa econômica acreditam que no máximo até o fim deste ano os países da União Europeia precisarão deliberar sobre um novo pacote de ajuda. Sendo assim, esse já deve ser um dos grandes "abacaxis" que precisarão ser descascados de imediato pelo próximo governo em Berlim.

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Governo precisará de mais dinheiro para quitar dívida públicaFoto: picture-alliance/dpa

Dívidas internas alemãs

É inegável que a situação na Alemanha anda bem melhor do que na maioria dos Estados-membros da UE. A economia está se expandindo e o recolhimento de impostos vem crescendo como nunca. O país, porém, já acumula uma dívida interna de 2,1 bilhões de euros e, ano a ano, continua gastando mais do que tem. Muitos estados federados alemães apresentam dívidas altas, e alguns já estão completamente quebrados – situação que praticamente todos os partidos prometeram mudar.

O que diferenciou as legendas foi seu posicionamento sobre como alcançar esse objetivo: apertando o cinto com relação aos gastos públicos ou elevando os impostos. O Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde anunciaram ser favoráveis a cobrar mais de quem ganha mais. Já a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Liberal Democrático (FDP), que governaram a Alemanha juntos durante os últimos quatro anos – e que não poderão mais fazê-lo porque o FDP não conseguiu votos suficientes para continuar no Parlamento –, são contra.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, chegou a alfinetar o adversário Peer Steinbrück sobre o tema no único debate que fizeram na televisão. "O plano de reajuste de impostos apresentado pelos social-democratas e pelos verdes trazem o perigo de não conseguirmos melhorar, ou até mesmo de piorarmos, a boa situação que temos hoje", afirmou Merkel.

Ao mesmo tempo, a maioria dos partidos precisará de mais dinheiro para implementar os projetos de sua preferência – como a CDU e a proposta de aposentadoria mais alta para mães; o SPD e os verdes, com investimentos em educação e mais vagas nas creches; e o partido A Esquerda, para ampliar a rede de ajuda social.

Mas uma coisa é certa: daqui a três anos, passará a valer o chamado "freio da dívida", uma emenda constitucional decidida em 2009 que proíbe o Estado de gastar mais do que ganha. A partir daí, a Alemanha só poderá pegar empréstimos em condições bastante limitadas. Com isso, o país espera equilibrar o orçamento a partir de 2020.

Mais justiça social

Justiça social e igualdade de direitos também devem entrar na pauta pós-eleições. Uma das prioridades é poder conceder o mesmo direito à educação a todas as crianças do país. Hoje em dia, o sistema educacional alemão ainda deixa falhas: estudantes de vindos de família com maior formação acadêmica têm muito mais chances de completar o ensino médio regular do que os outros jovens.

Outro tema no topo da lista de tópicos prioritários é a adequação dos salários ao trabalho prestado por muitos alemães. "Há muita gente que trabalha duro o dia todo, mas no fim do mês ganha tão pouco que mal dá para viver", destacou certa vez o candidato do SPD ao governo, Peer Steinbrück. A discussão deixa uma questão em aberto: a Alemanha deveria estabelecer um salário mínimo?

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Com mais idosos, Alemanha terá que equilibrar contas das aposentadoriasFoto: picture-alliance/dpa

O sistema de saúde na Alemanha também é considerado injusto por muitos cidadãos, uma vez que assegurados privados têm mais benefícios do que aqueles que associados a planos públicos (na Alemanha, todos precisam contribuir para algum sistema, público ou privado). E os governantes ainda precisam buscar uma saída para equilibrar as contas da previdência social diante do envelhecimento da população e da consequente redução do número de jovens contribuintes.

Futuro energético

Estabelecida há dois anos, a mudança da política de energia da Alemanha, que ficou conhecida no país como "virada energética", já colheu resultados: hoje em dia, 23% da energia no país são geradas por fonte solar, eólica ou por biogás. A meta é ambiciosa – até 2015 este índice deve chegar a 35%. Mas também nessa área ainda há alguns nós a serem desatados. Faltam, por exemplo, cabos condutores que possam transportar a energia produzida.

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Mudança energética está custando caro ao consumidor alemãoFoto: picture-alliance/dpa

"Nada vai para frente", criticou o líder dos social-democratas no Bundestag, Frank-Walter Steinmeier. "A mudança energética fracassou antes mesmo de ter começado a valer", disparou.

Além disso, a população vem pagando cada vez mais pela energia. Atualmente, a geração solar e eólica é parcialmente financiada por uma taxa extra paga pelos usuários. E esse complemento deve ficar ainda mais caro, com a expansão da energia de fontes verdes. Há ainda a crítica de que muitas empresas – inclusive várias que apresentam alto consumo energético têm presença no cenário de concorrência internacional – simplesmente não pagam essa taxa.

Refugiados na Alemanha

Com a guerra na Síria se estendendo por mais de dois anos, vários países vêm precisando acertar uma política para tratar do assunto. Apesar de a Alemanha ter prometido acolher apenas cinco mil pessoas – número considerado baixo dado o tamanho do território alemão – existem divergências sobre onde e como essas pessoas devem morar. Muitos alemães se opõem ao estabelecimento de campos de refugiados nas proximidades de suas residências. Há ainda polêmicas leis que não permitem que refugiados trabalhem nem saiam de um determinado espaço sem autorização – o tamanho dessa área varia de acordo com a regulamentação de cada estado.

A rigidez das regras para refugiados na Alemanha já levou dezenas deles às ruas para protestar. Alguns chegaram a fazer greve de fome em sinal de indignação.