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Pastagens na Amazônia e o aquecimento global

13 de setembro de 2019

Recuperar cobertura vegetal de áreas de pastagem pode reduzir emissões de metano e impactos da pecuária para o clima, diz estudo. Estima-se que até 80% das áreas desmatadas da Amazônia sejam utilizadas como pasto.

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Gado em pastagem próximo a Floresta Amazônica em Novo Progresso
Gado em pastagem próximo à Floresta Amazônica em Novo Progresso, no ParáFoto: picture-alliance/dpa/AP/L. Correa

Um dos impactos ambientais mais conhecidos da atividade pecuária é a emissão de gases poluentes causadores do aquecimento global, fenômeno que contribui para o aumento da temperatura média da Terra.

Um recente estudo do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), sobre a Amazônia indica que recuperar áreas degradas usadas como pastagem pode reduzir as emissões de metano, produzido pela decomposição de matéria orgânica e que é um dos gases do efeito estufa.

"Concluímos que o manejo adequado da pastagem na Amazônia, visando manter a cobertura vegetal do solo, pode reduzir as emissões de metano gerado na atividade pecuária", afirma o biólogo e doutorando do Cena-USP Leandro Fonseca de Souza, que desenvolveu a pesquisa, analisando emissões e micro-organismos no solo da Amazônia.

O biólogo explica que tanto micro-organismos produtores quanto micro-organismos consumidores de metano habitam os solos. "Nos solos de floresta, há mais consumidores e, nos solo de pastagem, há mais produtores. Observamos que, em um pasto bem cuidado, as raízes das gramíneas reduzem a quantidade de micro-organismos que produzem metano, e há mais consumo que produção do gás."

Segundo Souza, estimativas existentes apontam que de 60% a 80% das áreas desmatadas da Amazônia são utilizadas como pasto, e de 40% a 60% delas estão degradadas em algum nível.

"Áreas de pasto degradadas na Amazônia são um problema tanto para o produtor quanto ambiental, pois se tornam terras improdutivas e também deixam de oferecer os serviços ecossistêmicos de uma floresta [funcionamento e a regulação naturais do meio ambiente essenciais para os seres humanos]", explica.

Em agosto, o projeto MapBiomas, uma parceria entre universidades, ONGs e empresas de tecnologia que monitora a cobertura e uso da terra no país, divulgou que de cada 10 hectares desmatados na Floresta Amazônica, um é usado para agricultura, urbanização ou mineração; três são abandonados; e seis viram pasto.

O monitoramento também mostrou que a abertura de pastagens tem se intensificado na Amazônia Legal. Em 2005 havia 45 milhões de hectares de pastos na região, e em 2018 já eram 53 milhões de hectares.

A busca por novas áreas de pastagens que avançam sobre a Floresta Amazônica pode estar associada à acidez do solo da região, ruim para pastagem.

"Pastagens na região amazônica têm solos pobres em nutrientes, dada sua origem em solos onde antes havia floresta, sendo normalmente solos mais ácidos e com altos níveis de alumínio", afirma Souza, explicando que solos dessa região tendem a se degradar mais facilmente quando pastos são mal conservados.

Outra explicação para a procura por novas áreas a serem exploradas é o fator econômico. "O processo de recuperação de um solo degradado é custoso, exigindo tempo e recursos", explica Souza.

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Moacyr Bernardino Dias Filho também aponta a recuperação de áreas degradadas na Amazônia como a melhor solução.

"A pecuária na região amazônica é importante para preservar a segurança alimentar regional e nacional. No entanto, não há mais condições dessa atividade ser desenvolvida de forma amadora", afirma.

"Em termos numéricos, para cada hectare de pastagem em degradação recuperada na Amazônia, cerca de três hectares poderiam ser liberados para outros fins: agrícolas, florestais ou de preservação, sem que com isso houvesse perda dos níveis atuais de produção de carne ou leite da região", aponta Dias Filho.

Acordo de Paris

O Brasil possui o maior rebanho comercial bovino do mundo, com cerca de 209 milhões de cabeças de gado, de acordo com dados de 2016 da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). 

A posição faz com que o país seja considerado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) um dos maiores contribuintes nas emissões de gases do efeito estufa, principalmente do metano, um gás poluente produzido em locais como aterros sanitários, lixões e pastagens. Seu poder de provocar o aquecimento global é 21 vezes maior que o do dióxido de carbono, gás poluente usado como base para medir emissões.

Em 2015, durante a reunião da Cúpula da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 43% até 2030.

A recuperação de pastagens com solos degradados é uma das metas do Brasil no Acordo de Paris: para reduzir suas emissões, o país se comprometeu a recuperar mais de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030.

"Pastagens produtivas, ou seja, bem manejadas, são muito eficientes em acumular carbono, sendo inclusive, capazes de armazenar esse elemento no solo em quantidades superiores àquelas armazenadas no solo da floresta nativa", explica Dias Filho.

"Assim, as pastagens tropicais são um sistema de uso da terra bastante eficaz em sequestrar o CO2 atmosférico, tendo, portanto, papel importante em mitigar as emissões de gases efeito estufa."

Para o engenheiro agrônomo, porém, para essa meta ser alcançada, é preciso haver incentivo técnico e econômico do governo na região amazônica, para que haja uma transição da atividade pecuária amadora para a profissional.

"É preciso apoio governamental à geração de tecnologia na pecuária, mediante o fortalecimento das instituições de pesquisa e ensino superior na Amazônia. Da mesma forma, o governo deveria priorizar uma política atraente de financiamento de custos para produtores menos capitalizados, objetivando a adoção dessa tecnologia, assim como fortalecer a assistência técnica pública para esses mesmos produtores", defende Dias Filho.

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