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Patriota vai a Palestina e Israel com interesses políticos e comerciais

12 de outubro de 2012

Com delegação liderada pelo ministro das Relações Exteriores, governo brasileiro pretende se colocar como mediador da negociação de paz na região. Observadores destacam potencial econômico da aproximação com árabes.

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Foto: Reuters

A fim de reafirmar a posição brasileira em defesa de uma saída negociada pela paz no Oriente Médio, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, desembarca em Israel neste domingo (14/10) e, no dia seguinte, visitará a Palestina. Durante os encontros agendados com as principais autoridades dos dois povos, Patriota deve ainda discutir parcerias bilaterais em diversas áreas, como ciência, saúde, tecnologia, urbanismo e agricultura. E dar maior impulso às relações econômicas com o Oriente Médio.

Em seus discursos em Tel Aviv e em Ramallah, Patriota deverá defender o desarmamento nuclear no Oriente Médio, região quem vem sendo priorizada pela diplomacia brasileira nas discussões internacionais. Em diversas ocasiões, a presidente Dilma Rousseff reiterou a posição contrária do Brasil aos conflitos armados na região.

Na semana passada, durante o encerramento da 3ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e Países Árabes, no Peru, Dilma reforçou a posição brasileira contrária a qualquer forma de intolerância religiosa. A presidente disse ainda que o reconhecimento do Estado Palestino é a única saída para se construir a paz e para obter "segurança nas fronteiras e estabilidade política regional".

Causa palestina

Esta é a primeira viagem de um chanceler brasileiro ao território palestino desde o reconhecimento do Estado da Palestina por parte do Brasil, em dezembro de 2010. Na época, o governo brasileiro afirmou que a decisão favorável ao pedido do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, era coerente com a posição histórica do Brasil de contribuir para o processo de paz entre Israel e Palestina.

Em 2010, Lula visitou o presidente palestino, Mahmoud Abbas
Em 2010, Lula visitou o presidente palestino, Mahmoud AbbasFoto: AP

Antes mesmo da iniciativa de reconhecer o Estado Palestino, o governo brasileiro – então sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – já havia dado sinais de uma "reaproximação" com o mundo árabe, segundo avaliação de Salem Nasser, coordenador do Centro de Direito Global da Fundação Getúlio Vargas. O especialista ressalta que Lula incentivou a criação da Cúpula América do Sul-Países Árabes e foi o primeiro chefe de Estado brasileiro a fazer uma visita ao mundo árabe.

A política externa do governo Dilma deu continuidade a este movimento. "O Brasil mostra que quer participar das grandes questões e acredita que pode desempenhar um papel positivo", ressalta Nasser. "E apesar de manter relação muito boa com Israel, o Brasil tem como visão de fundo a atual injustiça sobre os palestinos, e que é preciso dar uma solução para a questão palestina."

Lugar no mundo

A iniciativa brasileira tem como objetivo ganhar espaço entre os grandes atores globais e se tornar um mediador alternativo entre Estados Unidos e Europa para a questão israelense-palestina. E, com isso, ganhar visibilidade. Para Nasser, este é o intuito também de outras iniciativas dirigidas pela política externa brasileira ao ampliar o volume de sua ajuda humanitária e em projetos de cooperação técnica na África, por exemplo.

Uma das motivações seria finalmente conquistar o almejado assento no Conselho de Segurança da ONU. "Primeiro o Brasil tem de ocupar um lugar no mundo relativo às grandes questões. Depois a cadeira no Conselho de Segurança virá por si", avalia o especialista, ressaltando, porém, que a grande barreira atualmente é a grande resistência dos atuais membros permanentes em aceitar mais um no grupo.

O cientista político Alcides Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, lembra que a capacidade de influência do Brasil neste contexto é bastante limitada. Mas manter a ousada decisão de apoiar o reconhecimento do Estado Palestino é importante para marcar posição. "Com isso, o Brasil tenta manter suas credenciais como ator independente, sem necessariamente concordar com Estados Unidos ou Israel", afirma Vaz.

Confiltos sangrentos entre judeus e palestinos são frequentes
Confiltos sangrentos entre judeus e palestinos são frequentesFoto: AP

Relações comerciais

O cientista político chama a atenção ainda para as possibilidades comerciais abertas pelo Brasil ao virar sua atenção para os palestinos e ao mundo árabe. Segundo o Itamaraty, as relações econômicas entre Brasil e Palestina vêm crescendo. O intercâmbio comercial em 2011 – primeiro ano de registro – foi de 15,8 milhões de dólares. E apenas no primeiro semestre deste ano já foram contabilizados 10,6 milhões de dólares. "O Acordo de Livre Comércio Mercosul-Palestina, firmado em 2011, possibilitará o fortalecimento dessas questões", afirma o comunicado do Itamaraty.

Nasser concorda que o potencial é grande e que o movimento de maior proximidade com o mundo árabe tem rendido frutos. Ele ressalta que as trocas comerciais entre o Brasil e os países do mundo árabe, sobretudo no Oriente Médio, quadruplicaram entre 2003 e 2009.

"Tanto do ponto de vista geopolítico quanto econômico, comercial, essa é uma aproximação que faz sentido, e que compõe essa estratégica de diversificação de nossas opções internacionais, especialmente diante da desaceleração do crescimento econômico na Europa e nos Estados Unidos", avalia Alcides Vaz. "E essa visita é uma confirmação disso."

Autora: Mariana Santos
Revisão: Roselaine Wandscheer