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Perda de olfato e paladar podem indicar coronavírus

24 de março de 2020

Médicos relatam queixas similares em cada vez mais casos de covid-19, inclusive nos considerados assintomáticos. Sinais podem ajudar detecção de "propagadores silenciosos", que difundem vírus sem saber que estão doentes.

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Nariz de uma pessoa junto a frasco de perfume aberto
Cada vez mais especialistas associam perda de olfato ao Sars-CoV-2Foto: Imago/Michael Westermann

Perda de olfato ou paladar pode ser um sinal precoce de infecção pelo novo coronavírus, afirmam especialistas de vários países. Segundo eles, esse sintoma pode até servir como uma ferramenta útil para detectar doentes com covid-19 considerados assintomáticos, por não apresentarem sinais como febre, tosse e falta de ar.

Estatísticas oficiais sugerem que o novo coronavírus infectou mais de 380 mil pessoas no mundo, mas muitos casos ainda seguem não diagnosticados, e especialistas estão preocupados com o potencial que doentes assintomáticos têm de espalhar a doença.

A ideia de que uma infecção por vírus pode reduzir o olfato não é nova. Uma infecção viral respiratória é uma causa comum de perda de olfato, já que uma inflamação pode interferir no fluxo de ar e na capacidade de detectar odores. O sentido do olfato geralmente retorna quando a infecção é curada, mas em uma pequena parcela de casos, a perda da capacidade de sentir cheiro pode persistir após outros sintomas desaparecerem. Em alguns casos, ela pode ser permanente.

Segundo uma carta aberta divulgada pelos presidentes da Sociedade Britânica de Rinologia e do ENT UK, grupo britânico que representa otorrinolaringologistas, agora, há "evidências", vindas de países como Coreia do Sul, China, Irã, França e Itália, para perda ou comprometimento do olfato em pessoas infectadas pelo vírus Sars-Cov2.

Na Coreia do Sul, cerca de 30% das pessoas que deram positivo para o vírus citaram a perda do olfato como sua principal queixa em casos casos leves, escreveram os especialistas.

"Qualquer coisa que possamos fazer para atrasar a disseminação é absolutamente vital", afirma Claire Hopkins, presidente da Sociedade Britânica de Rinologia.

Cerca de 40% dos casos de perda repentina de paladar em adultos são causados por uma anosmia (perda de olfato) pós-viral, segundo a especialista. Ela acrescenta que tipos de coronavírus conhecidos anteriormente possivelmente são responsáveis por mais de 15% desses casos.

Pessoas com roupa anticontaminação recolhem teste de motorista dentro de carro
Coreia do Sul já testou 300 mil pessoas. Mas maioria dos países só testa casos mais severosFoto: AFP/Jung Yeon-je

"Começamos a perceber um aumento de pacientes que jovens e completamente assintomáticos, mas que apresentavam perda de paladar", diz Hopkins. "Nove de 20 pacientes que atendemos na semana passada tinham perdido recentemente sua

habilidade de sentir sabores. Isso é extremamente raro", afirma.

Na Alemanha, o virologista Hendrik Streeck, da Universidade de Bonn, relatou, em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, que cerca de dois terços dos infectados com coronavírus examinados por sua equipe reclamaram de perda temporária de olfato e paladar. "A coisa chegou ao ponto de uma mãe não conseguir sentir o cheiro da fralda cheia de seu bebê. Outros não conseguiam mais sentir o cheiro de seu shampoo, e a comida começou a ficar insípida", relatou.

Jérôme Salomon, diretor-geral dos serviços de saúde da França, afirmou na sexta-feira que otorrinolaringologistas observaram um "surto" de casos de anosmia e disse que, embora ainda seja raro, que isso ocorre em pacientes mais jovens com sintomas "leves".

A Academia Americana de Otorrinolaringologia também constatou algo semelhante, tendo publicado neste domingo um texto afirmando haver acumulado rapidamente evidências de casos no mundo todo em que o novo coronavírus pode causar não apenas perda de olfato, mas também uma diminuição do paladar. A entidade argumenta que o aparecimento desses sintomas em pessoas sem outra explicação deve alertar os médicos para a possibilidade de uma infecção por coronavírus.

Maria Van Kerkhove, especialista em surtos da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou a repórteres nesta segunda-feira que o órgão está analisando a questão, para saber se a perda de olfato ou paladar é uma característica definidora da doença.

Eric Holbrook, especialista em otorrinolaringologia do Massachusetts General Hospital, em Boston, EUA, frisa que o assunto tem sido tema de debates entre pesquisadores e médicos. "Mas não temos evidência concreta ainda sobre a frequência que a perda de olfato ocorre em infectados pelo coronavírus", disse em entrevista nesta segunda-feira.

Ele também diz ser difícil avaliar relatos de perda de paladar, porque as pessoas com um olfato comprometido geralmente relatam uma perda de sabor, tecnicamente diferente de uma diminuição do paladar. O especialista afirma que está tentando organizar um estudo sobre o olfato em pessoas com teste com resultadio positivo para o coronavírus em hospitais da região de Boston.

A falta de testes em muitos países faz com que geralmente apenas aqueles com sintomas mais severos sejam diagnosticados como portadores do vírus. Entretanto, vários pacientes famosos e com casos mais leves relataram perda de olfato.

Nadine Dorries, a primeira política britânica a ter resultado positivo, disse que perdeu tanto o olfato quanto o paladar. "Comer e beber quente ou frio é tudo o que posso dizer", escreveu no Twitter na semana passada. O jogador de basquete francês Rudy Gobert, de 27 anos, cujo teste positivo para coronavírus levou a NBA a encerrar sua temporada, escreveu no domingo no Twitter: "Não tenho conseguido sentir o cheiro de nada nos últimos quatro dias".

MD/ap/ots

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