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Malvinas ou Falkland?

19 de fevereiro de 2010

Malvinas ou Falkland? Essa é novamente a questão, quase três décadas após a guerra entre a Argentina e o Reino Unido. Agora o pomo da discórdia é o petróleo.

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Monumento à guerra de 1982, entre Argentina e Reino UnidoFoto: AP

A disputa anglo-argentina pelas ilhas Malvinas (Falkland, para o Reino Unido) se agita novamente. O estopim agora é o progresso das explorações petrolíferas por companhias britânicas na região. O vice-chanceler argentino, Victorio Taccetti, condenou esse avanço como um "ato unilateral de agressão".

A plataforma de extração Ocean Guardian, a caminho desde novembro último, chegará às Malvinas em princípios de março. Sua proprietária é a firma estadunidense Diamond Offshore. Ela conta com 46 instalações desse tipo e extrai petróleo do subsolo marinho por encargo da britânica Desire Petroleum e de outras duas empresas.

O empreendimento compreende perfurações numa área de 200 milhas ao redor das ilhas, e, segundo estimativas, renderá 60 bilhões de barris de óleo cru. Já em 1998 o Reino Unido realizara prospecções de teste, mas abandonara o projeto por não considerá-lo rentável. O aumento do preço do combustível fóssil reverteu essa decisão.

O governo de Cristina Fernández de Kirchner expressou sua inconformidade e acusou o Reino Unido de descumprir as resoluções das Nações Unidas. A presidente argentina firmou o decreto 256/10, com o fim de bloquear o trânsito marítimo entre as ilhas e o território argentino. O documento exige que toda embarcação que queira atravessar as águas nacionais em direção às ilhas Malvinas solicite autorização argentina.

Stanley, Falkland Islands
Plataforma britânica será instalada na região das ilhasFoto: Flickr/Czar I. King

Direitos ou manipulação?

O prolongado conflito entre os dois países data do século 19 e teve seu auge em 1982, quando o exército da última ditadura militar argentina ocupou as ilhas, sob ordens do presidente de fato, Leopoldo Galtieri. A operação desencadeou uma guerra de 73 dias com o Reino Unido. A Argentina saiu derrotada, e o saldo foi de 649 argentinos e 255 britânicos mortos.

Agora se especula se a reação do governo em Buenos Aires não seria uma manobra para desviar as atenções, diante da crise de credibilidade que atravessa devido à corrupção, à inflação crescente e à recente crise interna. O governo teve que aceitar que não podia dispor "por decreto", sem seguir os passos institucionais, dos fundos de reserva do Banco Central Argentino para pagar as dívida externa. O Congresso ainda não aprovou os planos do governo.

Segundo Mariana Llanos, do Instituto de Estudos Latino-Americanos do Giga, em Hamburgo, "em situações de extrema debilidade, como a que enfrenta o governo argentino, essas questões que atacam o sentimento nacional, sempre tão sensíveis na Argentina, podem servir para unificar e fortificar o consenso em favor do governo". Ou para iniciar um conflito de consequências imprevisíveis, acrescentou.

O chanceler argentino, Jorge Taiana, solicitará na próxima semana ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, uma mesa de negociações em Nova York, a fim de "discutir a questão de fundo: a soberania das Malvinas".

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, defendeu o direito de seu país de explorar as reservas petrolíferas nas águas próximas às ilhas. "Tomamos todas as medidas necessárias para assegurar que os habitantes das ilhas estejam devidamente protegido", declarou o premiê, ao ser indagado sobre o suposto envio de navios de guerra à região.

Kirchner: tradição malvinense

Sobre a reação do governo argentino, a cientista política Claudia Zilla, da Universidade Livre de Berlim, diz que o casal Kirchner sempre foi um defensor da causa das Malvinas. "Essas explorações britânicas deram a eles um motivo a mais para mostrar sua posição."

Segundo ela, os Kirchner sempre mostraram uma posição mais dura que a de outros governo argentinos na questão das Malvinas. "A reação atual deve ser vista nesse contexto. Devido à sua postura tradicional em relação ao tema, eles não poderiam permanecer impassíveis diante do fato de uma empresa chegar a fazer perfurações."

Zilla lembra que o tema Malvinas é um dos raros que alcança quase um consenso na sociedade argentina. "A situação atual não é a ideal, o apoio da sociedade é baixo e está em queda, e há um conflito institucional. Claro que a temática 'Malvinas' desvia a atenção de tudo isso, mas não acredito que se trate de uma tática premeditada e consciente de manipulação, já que a causa Malvinas sempre foi uma causa dos Kirchner."

Ela lembra que o ex-presidente Néstor Kirchner, ao assumir o governo, declarou: "Somos do sul e viemos da cultura malvinense".

Por causa dessa posição, Zilla diz ver poucas chances de uma solução para o problema no atual governo. Ela também diz que uma intensificação do conflito é pouco provável, pois não traria benefícios a nenhum dos dois lados.

Autor: Cristina Papaleo (av)
Revisão: Alexandre Schossler