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Pnuma precisa de mais dinheiro e de mais poder, defende Achim Steiner

16 de junho de 2012

O chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente conversou com a DW sobre suas propostas para fortalecer o órgão, um dos temas em debate na Rio+20.

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Foto: dapd

A reforma do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) é motivo de desentendimento na Rio+20. No atual contexto de crise ambiental e ameaças de mais catástrofes no futuro, os países que negociam o texto final da conferência ainda não sabem como dar mais poderes ao órgão.

Mas Achim Steiner, diretor executivo do órgão, tem ideias claras de como isso deve acontecer: mais dinheiro, mais poder e mais países-membros. Ele conversou com a DW Brasil durante a Rio+20.

Deutsche Welle: Antes do início da Rio+20, o senhor criticou a ausência de liderança do Brasil. A opinião do senhor mudou agora, com a conferência em andamento?

Achim Steiner: Na ocasião, eu fui questionado se haveria uma crítica internacional quanto à preparação da Rio+20. É claro que antes de um encontro como este existem críticas direcionadas às Nações Unidas, à organização, ao papel político do país anfitrião. Mas agora estamos no Rio, e dentro de alguns dias mais de 100 chefes de Estado estarão aqui. Esta reunião de cúpula já ganhou vida.

As negociações são difíceis e nós trabalhamos em um ambiente influenciado por crises políticas e financeiras. E o mundo de hoje não é mais aquele de 1992: não existe mais a divisão entre norte e sul, oeste e leste. Agora, são muitos interesses nacionais em jogo e todos tentam tirar o melhor para si dessa cúpula.

Esse é, justamente, um grande desafio do multilateralismo, no qual cada país negocia visando apenas seus próprios interesses. Mas por que então todas essas nações virão ao Rio? Elas querem um resultado. O Brasil quer um resultado, a presidente Dilma vai querer sair daqui com um resultado. Tendo em vista essas considerações, até o último minuto da cúpula ninguém deve abandonar a discussão.

O que o senhor espera da Rio+20? Está otimista?

Faz parte do meu trabalho ser otimista. Como diretor executivo do Pnuma eu não posso espalhar resignação. Ao contrário, sou sempre otimista porque acredito que a humanidade não deseja conscientemente destruir esse planeta. Precisamos identificar alternativas agora e essa é a razão pela qual esse encontro acontece.

Quando os países e os diversos setores não conseguem avançar na questão da sustentabilidade, é preciso haver também negociações internacionais. Desta maneira, acredito que, 20 anos após a Eco 92, todos têm um motivo para se reencontrar aqui. Como mostrou recentemente um relatório do Pnuma, nós não conseguimos alcançar praticamente nenhum critério de sustentabilidade.

Temos todas as soluções à disposição, mas elas precisam de incentivo econômico e político. Sem essas condições, não chegaremos lá. E esse é o núcleo do trabalho aqui.

A Rio+20 também debate uma reforma na estrutura do Pnuma. Aliás, esse é um ponto de desentendimento nas negociações. De que maneira essa reforma deveria acontecer?

Em 1972, o mundo se encontrou pela primeira vez para discutir o meio ambiente numa reunião de cúpula em Estocolmo. Então o Pnuma foi fundado. Mas o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que nasceu naquela época com uma agenda de compromissos, não teve qualquer alteração ao longo das últimas quatro décadas.

O orçamento, o mandato, a definição de tarefas ainda pertencem a uma era que foi atropelada pela realidade. Nós lidamos hoje com problemas ambientais gravíssimos. A maioria dos países da ONU disse aqui no Rio que quer uma reforma da política ambiental internacional. E o fortalecimento do Pnuma faz parte disso.

Nós esperamos fazer grandes avanços aqui na conferência, mas isso também depende de que haja consenso em outros temas dessa negociação. Essa é a dinâmica da cúpula.

O que seria então um Pnuma mais forte?

Um Pnuma mais forte teria uma presença universal: hoje, somos um programa das Nações Unidas composto por apenas 58 países, que podem fazer parte do conselho com um mandato de dois anos. Estamos tentando fazer política ambiental sem que dois terços das nações integrantes da ONU façam parte ativamente do Pnuma.

Um segundo ponto seria dar aos ministros de Meio Ambiente um mandato mais forte, de forma que eles discutam não apenas meio ambiente dentro da política, mas que possam também implementar medidas.

O terceiro ponto: precisamos de um orçamento adequado. Dependemos totalmente de doações voluntárias. Em caso de uma crise econômica na Europa, pode acontecer que, do dia para noite, o Pnuma não tenha mais condições de trabalhar [por falta de recursos].

Esses são alguns exemplos de como achamos que a reforma do Pnuma deve ser discutida aqui na Rio+20.

Entrevista: Nádia Pontes, do Rio de Janeiro
Revisão: Mariana Santos