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Pobreza na infância

15 de novembro de 2011

O percentual de crianças na sociedade alemã diminui com os anos, mas a pobreza infantil cresce. Pelos dados oficiais, ela atinge hoje 15% dos menores no país.

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Foto: picture-alliance/dpa

A Alemanha é o país europeu com o menor percentual de jovens com menos de 18 anos na população: eles representam 16,5% do total. Em outros países do continente, como França, Reino Unido e Holanda, o percentual supera os 20%. Na Turquia, é ainda maior: um em cada três habitantes tem menos de 18 anos.

E tudo indica que a tendência de cada vez menos crianças vai se manter na Alemanha nos próximos anos. O país tem hoje 13,1 milhões de habitantes com menos de 18 anos, 14% menos do que em 2000.

Mas, enquanto as taxas de natalidade diminuem, a pobreza infantil cresce no país. Desde 1965, o número de nascimentos por ano caiu quase pela metade, de 1,3 milhão para 680 mil. Já o número de crianças consideradas pobres se multiplicou por 16 no mesmo período.

De acordo com um estudo apresentado em agosto pelo Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), 15% das crianças na Alemanha são pobres ou estão ameaçadas pela pobreza. A maioria delas vive em lares comandados por apenas uma pessoa: mais de um terço das crianças que vivem com mãe ou pai solteiro estão ameaçadas pela pobreza.

Pobreza: conceito relativo

Mas o que é ser pobre num país rico como a Alemanha? O relatório do Destatis se baseou num critério definido pela União Europeia. Conforme esse critério, as crianças são consideradas pobres quando a renda dos pais é inferior a 60% da renda média das famílias do país. Na Alemanha, essa renda média corresponde hoje a 11.151 euros por ano, ou 929 euros por mês.

Kinderarmut
Pobreza na infância é pouco debatida na AlemanhaFoto: picture-alliance/ dpa

Já para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é pobre a família que ganha menos de 50% da renda média anual, o que diminui o percentual de crianças pobres na Alemanha para 8,3%.

Pelos critérios das Nações Unidas, porém, a Alemanha tem 2,5 milhões de crianças vivendo abaixo da linha da pobreza, ou 19% do total.

Ao contrário do que acontece em muitos países do mundo, ser pobre na Alemanha não significa passar fome, mas se alimentar pior do que a média, ter um acesso mais difícil à educação e menos opções de lazer. Principalmente um acesso mais difícil à educação leva à chamada "pobreza hereditária".

Também decisivo para a qualidade de vida é o nível de bem-estar social de um país. Enquanto na Alemanha, por exemplo, quem recebe 11 mil euros por ano é considerado pobre, em Portugal quem recebe 6 mil euros por ano já não está mais nessa categoria.

Além da relatividade do conceito de pobreza evidenciado por esses números, as pessoas em Portugal podem levar uma vida melhor que os alemães na mesma faixa de renda devido a outros fatores, como o ambiente familiar e as relações sociais.

O contraste se torna mais acentuado quando a comparação é feita com outros países do mundo. Cerca de 2,6 bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia. Destas, 1 bilhão vive até mesmo com menos de um dólar por dia.

A situação é especialmente grave na região Sul da Ásia e na África subsaariana. Nestas áreas, três quartos das pessoas dispõem de menos de dois dólares por dia. Não há como relativizar esse tipo de pobreza.

Muitos não levam a sério a pobreza na Alemanha

A pobreza na infância muitas vezes não é levada a sério, mesmo estando presente de forma reiterada na imprensa alemã. Esta é a opinião do cientista político e pesquisador da área da Educação Christoph Butterwegge. Segundo ele, isso ocorre por cinco motivos.

Primeiro, a imagem da pobreza que predomina entre os alemães é impregnada pela situação de extrema miséria existente em muitos países pobres. Diante disso, a pobreza na Alemanha não é tão "espetacular".

Segundo, que as crianças sejam o principal grupo atingido pela pobreza é algo  relativamente novo na Alemanha. No período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a pobreza atingia mais os idosos, principalmente as mulheres.

Terceiro, educadores muitas vezes não reconhecem os problemas das crianças mais pobres por pertencerem à classe média e não terem, portanto, noção das condições de vida e de moradia de seus alunos.

Além disso, Butterwegge considera que entre a população alemã existe a opinião generalizada de que os pobres são culpados pela sua situação social porque não sabem lidar com dinheiro, são preguiçosos ou bebem demais.

Por fim, o especialista diz que predomina entre a população o pensamento errôneo de que a pobreza infantil em Colônia ou em Kassel é sempre muito menos grave do que na Cidade do Cabo, em São Paulo ou em Calcutá. Por isso nem valeria a pena perder tempo com o assunto.

Muitos políticos e pesquisadores avaliam que o auxílio preventivo para as crianças atingidas pela pobreza acaba saindo mais barato para a sociedade do que os gastos posteriores com pessoas que necessitarão de atendimento por problemas de saúde, desemprego e envolvimento com o crime. Mesmo assim, programas de auxílio que considerem essa perspectiva são até agora exceção. 

Autor: Günter Birkenstock (mp)
Revisão: Alexandre Schossler