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Política econômica brasileira é séria, diz especialista alemão

Márcio Pessôa (as)12 de janeiro de 2006

O diretor do Centro de Estudos da Fundação Konrad Adenauer no Brasil, Wilhelm Hofmeister, afirma que o pagamento adiantado da dívida com o FMI não tem apenas efeito eleitoral.

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Política orçamentária do governo Lula é mais séria que a da Argentina, opina HofmeisterFoto: dpa - Bildfunk

Desde 1999, Wilhelm Hofmeister representa no Brasil a Fundação Konrad Adenauer, mantida pela União Democrata Cristã (CDU) e uma das mais importantes e conhecidas instituições alemãs. A ligação com a América Latina começou em 1988, quando ele assumiu o escritório da Fundação Konrad Adenauer no Chile. Ficou no país até 1993, podendo acompanhar de perto o processo de transição para a democracia chilena.

Doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Mainz, Hofmeister é organizador e autor de várias publicações sobre política na América Latina e presença freqüente em palestras sobre o tema no Brasil e na Alemanha. Aqui, trechos de sua entrevista concedida à DW-RADIO:

A quitação da dívida do Brasil com o FMI é um esforço para avançar no pagamento da dívida externa do país ou é um tentativa de conseguir boas avaliações de fontes externas num ano de campanha eleitoral?

É um esforço muito sério do governo do Brasil para organizar suas relações exteriores, para diminuir sua dependência de agências financeiras internacionais e para mostrar seriedade ao exterior. Não tem somente um efeito eleitoral, tem um efeito de longa percepção para a economia brasileira, muito além das eleições.

O diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, projeta um crescimento importante da economia brasileira em 2006. Em 2005, o crescimento foi de 2,5%, inferior a 2004, que foi de 4,9%. Como o senhor vê esse quadro?

Todas as projeções indicam crescimento maior este ano. O governo parece mais otimista que o mercado, onde se fala num crescimento de 3% a 4%. O governo está falando de 5%. Os governos no início do ano são sempre mais otimistas que observadores mais neutros, sobretudo num ano eleitoral.

Wilhelm Hofmeister
Hofmeister elogia decisão de pagar dívida com o FMIFoto: KA-Stiftung
IWF und Weltbank Treffen in New York Rodrigo de Rato
De Rato prevê crescimento brasileiro este anoFoto: AP

O crescimento do Brasil ainda fica um pouco contido pela alta taxa de juros. É um política muito exitosa para o controle da inflação, mas prejudica um pouco o crescimento. O Brasil, no contexto latino-americano, não tem o mesmo nível de crescimento que os outros países.

Mas temos que reconhecer que os esforços do governo para resolver os problemas da dívida são sérios e têm benefícios muito positivos, como por exemplo a melhora na avaliação pelo mercado financeiro, o que significa dinheiro em caixa, já que o governo paga menos juros pela dívida.

Logo após o Brasil, a Argentina também anunciou que vai quitar sua dívida com o FMI. É este um novo momento na relação financeira internacional dos países da América Latina?

Há uma grande diferença entre Brasil e Argentina. O Brasil logrou pagar sua dívida com esforços sérios, com uma política orçamentária austera, respeitando o superávit primário combinado com o FMI, com o crescimento das exportações e o ingresso de divisas. Esse conjunto de políticas sérias permitiu ao governo brasileiro adiantar o pagamento da sua dívida.

Nestor Kirchner
Governo Kirchner ainda enfrenta problemas com a inflaçãoFoto: dpa

Vejo o quadro da Argentina como mais complicado. Ela emprestou dinheiro da Venezuela para pagar sua dívida e os esforços orçamentários da política fiscal da Argentina me parecem muito menos sérios. A Argentina está enfrentando um processo novo de inflação, parece que este ano serão 12%. Algumas perspectivas para o ano próximo indicam uma inflação ainda maior.

O governo da Argentina não está comprometido com a mesma seriedade que o governo brasileiro com a sua política fiscal. Aí há uma grande diferença. Mas para as instituições financeiras internacionais, sobretudo o FMI, o pagamento do Brasil e também o da Argentina significam uma nova etapa, porque o poder e a influência do FMI não serão tão grandes no futuro como eram no passado.

Há uma disputa interna no principal partido de oposição do Brasil, o que teria mais força para se opor ao governo Lula. A disputa, no PSDB, é entre Geraldo Alckmin e José Serra. A balança pende mais para quem?

É complicado prever. É óbvio que José Serra aparece mais nas pesquisas de opinião, é mais conhecido no país e tem apoio maior dentro do PSDB, de várias lideranças regionais. Alckmin mostrou uma capacidade de gerência muito alta, o Estado de São Paulo está numa situação muito favorável. Está crescendo nas pesquisas.

O PSDB está numa situação muito complicada. Antes das eleições municipais, Serra jurou várias vezes não ser candidato a nada. Deixar a prefeitura de São Paulo poderia ter um custo muito alto, principalmente porque o vice-prefeito não tem uma trajetória política muito conhecida. Entregar a prefeitura de São Paulo em troca de um candidatura presidencial que pode não dar certo é um risco para o PSDB.