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Por que é importante para EUA manter tropas no Iraque

Carla Bleiker md
8 de janeiro de 2020

Parlamento iraquiano exige a retirada dos militares americanos, mas Washington afirma pretender manter seus militares. Especialistas explicam por que o país tem importância estratégica vital para o governo Trump.

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Fila de soldados com uniforme de camuflagem andando durante a noite
Washington enviou mais contingentes ao Oriente Médio em meio à tensão com IrãFoto: picture-alliance/dpa/M. Sue Gerrits

Uma das decisões de política externa mais importantes da história recente dos Estados Unidos é se o governo Trump deve retirar seus soldados do Iraque. Depois que os militares americanos mataram o general iraniano Qassim Soleimani num ataque de drone no aeroporto de Bagdá, aumentaram as tensões entre Washington e Teerã – com o Iraque entre os dois fronts. No domingo (05/01), o Parlamento iraquiano aprovou uma resolução

 determinando a retirada de todas as tropas americanas do país – uma expulsão mais ou menos cortês.

Considerando-se a seriedade da situação, a atitude dos EUA em relação ao assunto realmente não parece apropriada, como se a mão esquerda não soubesse o que a direita faz. Na segunda-feira, veio a público uma carta de um general americano ao Ministério da Defesa iraquiano dizendo que as tropas americanas seriam "reposicionadas". A carta termina com as palavras "respeitamos sua decisão soberana de ordenar nossa partida". Mas pouco depois veio o desmentido da liderança militar: de acordo com general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, a carta foi um erro, um primeiro rascunho que nunca deveria ter sido enviado.

A retirada das tropas do Iraque é, portanto, contestada com veemência: alega-se que, por várias razões, presença no país seria de grande importância estratégica para os EUA. "Por um lado, podemos manter contatos pessoais com as forças de segurança iraquianas", afirma Michael O'Hanlon, do think tank americano Brookings Institution. "Podemos ver diretamente quais comandantes são fortes e quais são fracos. No passado, diferentes lados logo se aproveitavam das forças de segurança para fins políticos, na nossa ausência", conta o especialista em segurança nacional, acrescentando que isso representaria um risco para as tropas americanas na região.

Soldado americano em uniforme de camuflagem, batendo continência, visto por trás
Especialista alerta que retirada de militares americanos pode mergulhar Iraque em caosFoto: picture-alliance/A. Widak

Outro motivo seria a luta contra a milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI). "O Iraque pode agir melhor contra o EI porque os EUA fornecem apoio aéreo ou de inteligência", explica O'Hanlon. Segundo ele, será difícil prever como a luta contra o terror continuará no país, caso os americanos se retirem repentinamente do Iraque.

"Pode ser que as forças iraquianas continuem se saindo bem por enquanto", mas há a possibilidade de que o EI se amplie com a saída dos americanos. Quando as tropas dos EUA foram retiradas do norte da Síria, em outubro de 2019, isso abriu caminho para uma ofensiva turca. Os combatentes curdos, que tiveram que se defender contra ela, não conseguiram mais continuar tomando conta dos prisioneiros jihadistas, e aparentemente várias centenas de combatentes do EI escaparam das prisões da região.

Embora a situação no Iraque seja diferente, ainda existe o risco de que a luta contra a milícia terrorista seja afetada após a retirada das tropas americanas. "Por exemplo, pode ocorrer um colapso na coleta de informações sobre o EI", alertava em 2019 o ex-funcionário da CIA Brian Katz, em entrevista à revista The Atlantic. "As pessoas são as melhores fontes quando se trata de comunicar ao governo dos EUA as estratégias e intenções de grupos terroristas", frisou. "E elas precisam de proximidade e confiança e do estabelecimento de relações in loco."

Outro ponto que torna a presença do Iraque nos EUA tão importante é o papel de Washington como contrapeso à influência do Irã na região. Especialmente na situação atual, isso pode ter valor inestimável para o governo Trump. "Os Estados Unidos mostram ao Iraque que o Irã não é o único poder a que ele pode recorrer", sublinha O'Hanlon.

O analista ressalta que uma retirada das tropas americanas pode resultar numa situação caótica no país, já que "o Irã está ansioso para se beneficiar de um conflito entre as populações xiita, sunita e curda que pode eclodir após a retirada das tropas dos EUA".

Um Iraque enfraquecido dessa forma pode ser vantajoso para o Irã por várias razões, segundo O'Hanlon. "Teerã pode se assegurar que os Estados Unidos não retornem, influenciando para que futuros governos iraquianos não tenham apoio suficiente para concluir novos acordos com os americanos. Ou pode interferir no comércio regional de petróleo e, por exemplo, forçar o Iraque a cortar as exportações para aumentar os preços do petróleo."

Por enquanto, parece que os EUA querem evitar consequências negativas. Isso foi reiterado pelo secretário de Defesa americano, Mark Esper, após o episódio da carta vazada: "Não há nenhuma decisão em qualquer sentido de deixar o Iraque", disse. "E não temos planos de sair ou de preparar uma retirada."

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