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ConflitosCoreia do Norte

Por que Coreia do Norte está retomando seu programa nuclear?

Julian Ryall
31 de agosto de 2021

Preocupados com a pandemia e o Afeganistão, EUA têm negligenciado Kim Jong-un, que agora busca sua atenção, pois seu país precisa de dinheiro. Mas o resultado pode ser uma nova proliferação de armas nucleares.

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Líder norte-coreano Kim Jong Un conversa com funcionários junto a artefato nuclear
Kim Jong Un (c.) tem usado a ameaça de desenvolver armas nucleares como trunfo na política internacionalFoto: picture-alliance/AP/Korean Central News Agency

O órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas descreveu como "profundamente preocupante" a retomada das operações no reator de Yongbyon, na Coreia do Norte, durante o último fim de semana (28-29/08).

Em seu novo relatório anual sobre o tema, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aponta sinais de que o reator de cinco megawatts teria voltado a produzir plutônio, pela primeira vez desde dezembro de 2020.

Apesar de o acesso a Yongbyon não ter sido permitido aos fiscais, "indícios, incluindo a descarga de água para refrigeração, são consistentes com o funcionamento do reator" no início de julho.

"A continuação do programa nuclear da República Democrática da Coreia é uma clara violação de resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU, e profundamente lamentável", comentou a AIEA, acrescentando ter entrado em contato com Pyongyang para que aja conforme as estipulações das Nações Unidas.

Imagens de satélite mostram que a usina de vapor para o laboratório radioquímico estava igualmente operando na primeira metade de 2021. Além disso, as atividades de pulverização e concentração prosseguem na mina de urânio de Pyongsan e no sítio de fabricação adjunto.

Kim quer atenção dos EUA

Segundo Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Ewha Womans University, de Seul, a Coreia do Norte teria diversas razões para reiniciar a produção de material físsil.

A pandemia de covid-19 tornou a vida na nação de fronteiras fechadas ainda mais difícil do que nos últimos anos, obrigando o regime a procurar concessões da comunidade internacional, mas, "apesar da incrível pressão que sofrem a economia e sociedade norte-coreanas, sob o isolamento antipandemia autoimposto, o regime do ditador Kim Jong-un. avança com seu programa nuclear".

"Como a administração do presidente americano, Joe Biden, está concentrada no coronavírus e no Afeganistão, Pyongyang pode estar tentando criar uma nova crise, a fim de extrair benefícios." Mas seria melhor para todos se o país "saltasse o ciclo de provocação e aceitasse a assistência humanitária e a retomada do diálogo", observa Easley.

A opinião de Toshimitsu Shigemura, especialista em assuntos norte-coreanos e professor da Universidade Waseda, de Tóquio, é semelhante: Pyongyang estaria desesperadamente buscando a atenção dos Estados Unidos, agora que os americanos encerraram seu engajamento militar no Afeganistão.

Como Biden tem estado "menos interessado nos assuntos coreanos, talvez Kim esteja se sentindo um pouco negligenciado", e os "indícios de que eles estão novamente começando a fabricar mais ogivas bélicas vão garantidamente captar a atenção dos EUA", resume Shigemura.

Imagem de satélite  da usina nuclear Yongbyon, na Coreia do Norte
Imagens de satélite, de julho de 2021, parecem indicar atividades na usina Yongbyon Foto: Planet Labs Inc./AP/picture alliance

Perigo de recrudescimento nuclear

Daniel Pinkston, docente de Relações Internacionais da Universidade Troy, na capital sul-coreana Seul, adverte que o regime Kim pode estar pretendendo vender tecnologia nuclear ou armamentos prontos, já que o país está necessitado de dinheiro para sobreviver.

Apesar de terem sido causados pelas sanções internacionais, os problemas econômicos do país comunista se exarcebaram com a decisão de fechar suas fronteiras para os parceiros comerciais, devido à pandemia, e "a Coreia do Norte alocou uma imensa parcela de seus recursos limitados nesse programa, por muitos, muitos anos, portanto não vai abandoná-lo tão cedo".

Para Pinkston, que foi-vice-subdiretor do Projeto de Não Proliferação para o Leste da Ásia, no Centro de Estudos de Não Proliferação de Monterrey, Califórnia, a maior preocupação pela retomada das atividades de processamento em Yongbyon é o aumento da possiblidade de proliferação nuclear.

Calcula-se que o país possua algo entre 50 e 60 ogivas nucleares, então acrescentar mais uma a essa pilha não quer dizer grandes coisas: o maior problema agora seria econômico. "Eles podem estar procurando nações que não têm armas nucleares no momento, para as quais, portanto, uma só ogiva já teria grande significação."

Pyongyang ignora esforços de Washington e Seul

O enviado-chefe da Coreia do Sul para assuntos nucleares, Noh Kyu-duk, desembarcou no domingo em Washington, a fim de debater com seus homólogos americanos estratégias visando encorajar o Norte a retornar às negociações.

No dia seguinte, a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki confirmou à imprensa que os EUA prosseguem insistindo junto a Pyongyang para que se discuta a desnuclearização da Península Coreana.

Desde que o democrata Biden assumiu como presidente, em janeiro, o regime do autocrata norte-coreano Kim Jong Un tem basicamente ignorado os esforços americanos pela retomada do diálogo, e tampouco reagiu a esta mais recente oferta de negociações.