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Por que o plástico está se tornando escasso?

Andreas Becker
15 de abril de 2021

Utilizado sobretudo na embalagem de alimentos, material sofre escassez por conta de problemas na cadeia de abastecimento global. Pandemia é apontada como principal fator.

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Tomates em embalagem de plástico
Nos supermercados, muitos alimentos são embalados com plásticoFoto: picture alliance/dpa/A. Burgi

Se a pandemia de coronavírus serviu para alguma coisa, foi para mostrar como as cadeias de abastecimento globais são vulneráveis. Até mesmo a produção de coisas simples, como plástico filme para embrulhar carnes e queijos em supermercados, foi afetada por se tratar de um produto que envolve a cooperação global.

Para produzir o material, a maioria das pequenas e médias empresas alemãs ativas no setor de embalagens de plástico depende fortemente de produtos intermediários.

Entre esses produtos intermediários está a nafta, um derivado do petróleo processado em grandes fábricas de craqueamento a vapor. Empresas de petróleo e produtos químicos que operam na Arábia Saudita, nos Estados Unidos, na China e na Europa desempenham, portanto, um papel crucial nesta cadeia, antes mesmo que os produtores de plástico filme possam começar a fazer seu trabalho.

Fábrica de craqueamento a vapor da BASF, em Ludwigshafen, Alemanha.
Fábrica de craqueamento a vapor da BASF, em Ludwigshafen, Alemanha.Foto: Ronald Wittek/dpa/picture alliance

Cadeias de abastecimento abaladas

"A indústria de embalagens plásticas está muito conectada no mundo todo, muito dependente das respectivas áreas de aplicação – e, portanto, muito vulnerável se algo emperra no meio do caminho", disse Mara Hancker, porta-voz e diretora da Associação da Indústria de Embalagens Plásticas (IK) da Alemanha.

Atualmente, muitos lugares estão "emperrados" ao mesmo tempo. Tanto é que, em uma pesquisa feita pela associação no início de março, três em cada quatro empresas reclamaram que o fornecimento de matéria-prima era ruim ou mesmo muito ruim.

Cerca de 80% declararam ainda que sua capacidade de entrega já estava limitada, e muitos esperavam que a situação continuasse assim ou até mesmo piorasse nas próximas semanas.

Um mês depois, pouco antes de publicar os resultados de outra pesquisa, a porta-voz da associação não pode retirar o alerta. "Ainda é difícil obter matérias-primas. E onde se pode obtê-las, elas são extremamente caras", disse Hancker à DW.

Preços em alta

Nos primeiros três meses do ano, houve um aumento acentuado nos preços de importantes plásticos na indústria de embalagens. O polietileno, por exemplo, subiu mais de 35%, enquanto outros plásticos, como o poliuretano (PUR), ficaram 50% mais caros nos últimos seis meses.

É claro que isso acaba pressionando as margens de lucro dos fabricantes de embalagens. "Mas a maioria deles ficaria feliz se conseguissem ao menos material suficiente para atender seus clientes", disse Hancker.

Grânulos utilizados na fabricação de produtos plásticos.
A partir destes grânulos, são fabricados todos os tipos de produtos plásticos Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel

A Associação da Indústria de Processamento de Plásticos (GKV) também fala de uma grande interrupção das cadeias de abastecimento de matéria-prima.

Com isso, algumas empresas tiveram que reduzir a produção, pois não há matéria-prima suficiente, por exemplo, para filme plástico retrátil de PVC. Outros consideram até a possibilidade de migrar para plásticos alternativos– mas isso não é apenas um desafio técnico, e está ligado a todos os tipos de requisitos, especialmente no setor de alimentos.

Produção menor, demanda crescente

E como surgiu essa escassez? O principal motivo, segundo Hancker, é a pandemia de coronavírus, que "abalou" a economia global e as cadeias de abastecimento. Um exemplo é o transporte marítimo: primeiro os navios de carga ficaram parados nos portos, depois os preços dos contêineres explodiram.

Com tudo apontava para tempos de marasmo, muitos produtores de matéria-prima decidiram que agora seria um bom momento para fazer a manutenção de suas fábricas. "Tal trabalho de manutenção é planejado com seis meses de antecedência", diz Hancker. O processo leva muito tempo, às vezes vários meses. "Não se pode desligar instalações como estas em uma semana e reiniciá-las na próxima."

Soma-se a isso as paralisações na produção atribuídas a calamidades, como as tempestades de inverno nos EUA. No comércio internacional, isso é conhecido como motivo de "força maior". No início de março, cerca de 80% das empresas alemãs disseram ter sido afetadas. Na última pesquisa, publicada no início de abril, elas ainda eram 65%.

O congestionamento no Canal de Suez, causado pelo navio porta-contêineres encalhado Ever Given, também pertence a esta categoria e coloca pressão adicional nas cadeias de abastecimento.

Portanto, embora houvesse menos matérias-primas disponíveis, a demanda cresceu mais rápida e fortemente do que o esperado, algo que pode ser atribuído sobretudo à recuperação econômica da China. "O mercado lá está em alta e atualmente está sugando tudo", explica Hancker. Na Alemanha, são as indústrias automotiva e de construção os principais motores da demanda.

Recipiente de isopor para o transporte de órgãos destinados ao transplante sobre uma mesa em sala de cirurgia de um hospital em Berlim, em 27 de setembro de 2012.
Recipientes de isopor também são usados ​​na medicina para transporteFoto: picture-alliance/dpa/S. Stache

Remessas de vacinas afetadas?

Até agora, a escassez foi sentida mais drasticamente em filmes e embalagens para alimentos. Mas já existem sinais de alerta também na área médica.

"Nossas empresas têm dificuldades consideráveis ​​para obter poliestireno expandido (EPS) – mais comumente conhecido como isopor. Essa também é o material que atualmente é usado para isolar as vacinas contra o coronavírus e mantê-las resfriadas durante o transporte." Portanto, devemos desde o início garantir que esses materiais permaneçam disponíveis.

Levará algum tempo, porém, até que a situação do abastecimento se normalize. "A maioria de nossos membros supõe que a situação não vai relaxar novamente até o outono [no hemisfério norte], no mínimo", disse a porta-voz da IK.