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Indulto sem verdade?

Geraldo Hoffmann26 de abril de 2007

A libertação de Brigitte Mohnhaupt, o pedido de indulto de Christian Klar e novas acusações contra Stefan Wisniewski, todos ex-integrantes da RAF, reabrem o debate sobre a história do terrorismo de esquerda na Alemanha.

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Encontro inédito na TV alemã entre o ex-terrorista Peter-Jürgen Boock (e) e Michael Buback, filho do procurador-geral da República morto pela RAFFoto: NDR/Marcus Krueger

Mais de 30 pessoas morreram em conseqüência de atentados perpetrados pela Fração do Exército Vermelho (RAF) entre 1968 e 1998. Um balanço assustador, embora não seja comparável ao número de vítimas do terrorismo islâmico dos últimos anos. Mesmo assim, a RAF conseguiu desafiar o Estado alemão.

Há 30 anos, um pequeno grupo de desesperados colocou o país em estado de exceção. Politicamente, a organização terrorista já havia fracassado. Todas as atividades estavam voltadas para a libertação da geração fundadora da RAF. No confronto, houve várias mortes de representantes do Estado, mas também de terroristas.

Quando o fantasma já parecia ter sumido, a RAF ainda conseguiu formar uma terceira geração de criminosos. Seus atentados até hoje não foram esclarecidos, os autores continuam desconhecidos, os motivos permanecem uma incógnita.

"Indulto sem verdade?"

De 1970 a 1991, ocorreram 34 assassinatos cometidos pela RAF. Segundo Wolgang Herles, autor do documentário Indulto sem verdade?, produzido pela emissora de televisão ZDF, no entanto, "em momento algum a República Federal da Alemanha esteve diante da derrocada. Utopistas megalomaníacos tentaram levar os movimentos de libertação da América Latina e do Oriente Médio para as metrópoles do Ocidente. Mas a população jamais sonhou em se deixar libertar por grupos radicais do movimento estudantil".

Bad Kleinen
Manifestação de simpatizantes da RAF em 1993 em Bad Kleinen, onde a polícia matou o suposto terrorista Wolfgang GramsFoto: AP

Mesmo assim, acrescenta Herles, "os alemães deixaram se contagiar pela histeria de poucos. Os meios de comunicação de massa espalharam o pânico. O estado de direito esqueceu seus limites. Ele não tratou os terroristas como criminosos comuns, como dizia, e sim os submeteu a penas rigorosas, criou leis especiais e restringiu os direitos dos advogados de defesa. Isso trouxe novos simpatizantes para os terroristas, que usavam greves de fome nas prisões como armas de publicidade".

Segundo o documentário, só assim é possível entender por que o fantasma do terrorismo de esquerda sobreviveu por três décadas na Alemanha, até que em 1998 a RAF anunciou sua dissolução, sem mostrar qualquer arrependimento. Outros países, como o Reino Unido (com o IRA) e a Itália (com as Brigadas Vermelhas) tinham sofrido muito mais com o terrorismo, mas reagiram com mais moderação.

Doença infantil da democracia

O terrorismo da RAF poderia ser interpretado como uma doença infantil da jovem democracia alemã, não fossem as contradições típicas do país, como lembra Herles. "A revolta estudantil foi um protesto contra o silêncio da geração dos pais sobre os crimes da Alemanha nazista. Hoje, são os terroristas que, mesmo depois de décadas na prisão, se omitem diante da verdade e em nada contribuem para o esclarecimento dos crimes", diz Herles.

Aparentemente, o chamado "pacto do silêncio da RAF" está se rompendo. Embora haja dúvidas sobre a credibilidade do ex-terrorista Peter-Jürgen Boock, suas novas revelações sobre o assassinato do procurador-geral da República, Siegfried Buback, já colocaram o serviço secreto alemão em apuros (veja link abaixo).

Os familiares das vítimas exigem o esclarecimento completo dos crimes. E isso ainda pode causar surpresas, porque há muitas questões em aberto. Até onde a população apoiou a chamada "guerra dos seis contra os 60 milhões"? Qual foi realmente o papel do Estado? Quais eram as verdadeiras ligações da RAF com "movimentos de libertação" e serviços secretos estrangeiros? Os terroristas foram manipulados?

A conclusão do documentário Indulto sem verdade? é que a história da RAF ainda contém muito teor explosivo, porque ela ainda não acabou. "Mas perdoar só é possível através da lembrança", conclui Herles.