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Por que os populistas europeus não precisam de Trump

Michael Knigge rk
16 de maio de 2019

A extrema direita da Europa precedeu a ascensão do presidente americano ao poder. Apesar de compartilharem alguns valores do magnata, têm poucas conexões concretas com ele.

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Donald Trump (e.) acena sorridente para as câmeras ao lado do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán (d.), durante visita deste à Casa Branca
Donald Trump dá "brilho de legitimação internacional" a líderes populistas como o húngaro Orbán (d.)Foto: Imago Images/UPI Photo/K. Dietsch

Donald Trump é provavelmente o populista mais poderoso do mundo e, nitidamente, é o que mais concentra a atenção da imprensa. Mas isso não significa que ele é o responsável pela introdução desse conceito na política global moderna.

Muito antes da surpreendente ascensão de Trump a presidente dos Estados Unidos, populistas europeus já haviam se acomodado em escritórios políticos em todo o continente.

Na Áustria dos anos 1990, o Partido da Liberdade (FPÖ) ganhou popularidade e colocou o sistema partidário do país de ponta cabeça. Ao mesmo tempo, na Itália, o ex-magnata da mídia Silvio Berlusconi se transformou no primeiro líder populista moderno europeu quando assumiu o posto de primeiro-ministro, há 25 anos.

"Berlusconi foi meio que um canário na mina de carvão", diz Anna Grzymala-Busse, professora de estudos internacionais com enfoque em populismo na Universidade de Stanford. "Ele mostrou que era possível governar como um populista durante um governo caótico e que não tinha um programa muito coerente como base", recorda.

Entre os líderes populistas europeus pré-Trump, também estava Viktor Orbán, da Hungria, que foi recebido pelo presidente americano na Casa Branca no início desta semana (13/05). Orbán assumiu o poder pela primeira vez em 1998 e, logo em seguida, começou a atacar as instituições liberais democráticas do país, numa agenda que ele manteve e exacerbou desde o início de seu segundo mandato como primeiro-ministro, em 2010.

A cronologia mostra que populistas europeus existem de maneira completamente independente de Trump. Eles não precisavam nem precisam de seu apoio para serem bem-sucedidos, explica Grzymala-Busse. "Eles fizeram um trabalho muito bom de conquista da popularidade interna, sozinhos", acrescenta.

Esse populismo europeu é, em grande parte, de origem doméstica, e costuma ser alimentado por queixas específicas de cada país. Por isso, é difícil internacionalizá-lo. Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, aprendeu essa lição da pior maneira, quando tentou criar um grupo europeu de populistas de direita antes das eleições para o Parlamento Europeu, no final deste mês.

O ex-premiê italiano Silvio Berlusconi em cabine de votação durante eleição em 2018
Populistas europeus como Berlusconi antecederam ascensão de TrumpFoto: Getty Images/P. Marco Tacca

O esforço foi um amplo fracasso – o que não surpreende, segundo Mabel Berezin, socióloga da Universidade de Cornell e atualmente no Instituto de Estudos Avançados em Princeton. "Eles não precisam de Bannon", constata, referindo-se aos populistas europeus. "Eles estão se virando muito bem sozinhos."

Por isso, seria prematuro esperar que uma derrota potencial de Trump na tentativa de se reeleger em 2020 signifique necessariamente a derrocada do populismo na Europa, argumenta Grzymala-Busse.

Porém, apesar de haver poucas ligações concretas entre Trump e populistas europeus, os dois campos defendem uma posição política de base, mesmo que ampla e vaga. "Acho que eles compartilham muito da mesma ideologia, no sentido de que são céticos em relação a alianças internacionais, à democracia liberal e por simplesmente reivindicarem representar a população como um todo", define.

Além dessas posições ideológicas indefinidas, o elo mais comum entre Trump e populistas europeus é sua afinidade conjunta com a Rússia. "Eles também compartilham um apoio comum na Rússia e do fato de que a Rússia está muito ativa no suporte a movimentos na Europa e, como indicado pelo relatório Mueller, tem conexões com o presidente Trump também", diz Grzymala-Busse.   

Apesar de populistas europeus não precisarem do apoio de Trump para ter sucesso, eles veem com bons olhos o fato de o presidente americano convidá-los para a Casa Branca, como ele fez com Orbán. "Sua capacidade de dar, de certa forma, um selo americano de autenticidade a personalidades como Orbán é profundamente perturbador", afirma Berezin, da Universidade de Cornell.

"Definitivamente, isso legitima Orbán e sua turma", assinala Grzymala-Busse. "O que Trump dá a eles é um brilho adicional de legitimação internacional. E ser aceito pelo maior populista entre eles torna Orbán mais poderoso e mais legítimo não apenas internamente, mas em toda a Europa", comenta.

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