1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Pressionado, Hollande se esquiva de perguntas sobre caso com atriz

Augusto Valente14 de janeiro de 2014

Diante de 500 jornalistas, presidente francês, que conta com apenas 22% de aprovação popular, evita abordar suposto relacionamento com atriz, fala em "momentos dolorosos" e pede respeito a sua privacidade.

https://p.dw.com/p/1AqaV
Foto: Reuters

Sintomaticamente, a primeira pergunta que partiu dos cerca de 500 jornalistas franceses e estrangeiros presentes à coletiva de imprensa do presidente da França, François Hollande, foi: "Valérie Trierweiler ainda é a primeira-dama?"

Recordista de impopularidade – a aprovação a sua gestão está em apenas 22% – e diante do momento mais delicado de sua carreira de homem público, o chefe de Estado pretendia que a entrevista desta terça-feira (14/01), a terceira de seu mandato, fosse uma espécie de relançamento político.

Em vez disso, viu-se forçado a se esquivar da curiosidade da imprensa em torno do escândalo recentemente desencadeado pelas revelações do semanário Closer sobre um suposto caso seu com a atriz cinematográfica francesa Julie Gayet, de 41 anos.

Hollande adiantou que não pretende processar a revista de fofocas. Segundo conhecidos de sua companheira, a jornalista Valérie Trierweiler, ela está profundamente abalada pela divulgação do caso, e teve que ser hospitalizada na sexta-feira, por tempo indeterminado.

"Todo mundo, em sua vida pessoal, pode atravessar provações. Este é o nosso caso. São momentos dolorosos", declarou o presidente. "Mas tenho um princípio: assuntos privados se tratam em particular, na intimidade respeitosa de cada um. Portanto aqui não é o lugar nem o momento para fazê-lo."

Primeira-dama que não existe

O político socialista de 59 anos encerrou o assunto assegurando que dará todos os esclarecimentos cabíveis antes da visita aos Estados Unidos, programada para entre 9 e 11 de fevereiro, durante a qual Trierweiler deveria acompanhá-lo.

Valerie Trierweiler
Valerie Trierweiler está hospitalizadaFoto: Reuters

Para os detratores de François Hollande, mais do que um escândalo moral, o caso Gayet é interpretado como a confirmação de um caráter fraco e incapaz de decisões sólidas. Suas escapadas noturnas do palácio presidencial seriam uma "metáfora para seu estilo de governo enrustido".

Apesar de obsessivamente evocada pela imprensa marrom, a "primeira-dama" não existe aos olhos da lei francesa. Ao contrário do glamour das first ladies americanas, nenhum status oficial está previsto para o cônjuge do presidente da República, independente do sexo e de a união ser legalizada ou não. A função dessa figura – muitas vezes onerosa, mesmo não estando definida em forma protocolar ou constitucional – tem sido frequente objeto de polêmica no país.

Apelo à cooperação alemã

Na entrevista, para além de sua vida pessoal, Hollande manifestou-se sobre uma gama ampla de temas, indo desde a interdição da peça antissemita do humorista Dieudonné ("uma vitória") e o recorde de 20 mil nômades da etnia rom deportados em 2013 ("a França não tem por que se envergonhar"), aos 700 jovens franceses e estrangeiros que partiram do país para o jihad na Síria ("É demais. Alguns estão mortos.").

Antes de se disponibilizar para as perguntas dos jornalistas, o socialista fizera um preâmbulo de 40 minutos, em que antecipou reformas visando a dinamizar a economia do país. Com grande ênfase, anunciou três iniciativas franco-alemãs para tentar "relançar" a União Europeia, num ano de eleições europeias delicadas e da renovação das instâncias de governo do bloco.

Angebliche Affäre von Francois Hollande mit der Shauspielerin Julie Gayet
Francois Hollande: suposto caso com atriz Julie Gayet (d)Foto: picture-alliance/dpa

A primeira iniciativa será "por uma convergência econômica e social entre a França e a Alemanha", uma ideia já antiga, mas que tem esbarrado nas diferenças de modelo e de saúde econômica entre os dois países.

Segundo Hollande, desse ponto de vista, seria "um primeiro passo" a decisão da coalizão conservadora-socialista alemã, liderada por Angela Merkel, de estabelecer um salário mínimo. "Mas devemos também harmonizar as regras fiscais entre a França e a Alemanha, notavelmente para as empresas", no sentido do "pacto de responsabilidade", acrescentou.

A segunda iniciativa, prosseguiu Hollande, consistirá em Berlim e Paris coordenarem sua ação em termos de transição energética, setor em que a Alemanha tomou a dianteira, sobretudo no desenvolvimento da energia renovável. "Esse é um grande desafio para a Europa, mas nós devemos mostrar o exemplo", na forma de "um grande empreendimento franco-alemão para a transição energética, uma bela aliança".

Französische Truppen patrouillieren in Zentralafrikanischer Republik 8.12.13
Tropas francesas patrulham na República Centro-AfricanaFoto: S.Kambou/AFP/GettyImages

"Europa da Defesa"

Por fim, ele evocou a criação de uma dupla binacional capaz de "agir pela Europa da Defesa", o que, até aqui, tem sido um de seus pontos fracos, já que a colaboração militar se limita ao essencial – ou seja, a uma "brigada franco-alemã" cuja utilidade ainda está por ser demonstrada.

Com isso, o chefe de Estado aludia obviamente a algo que, há bom tempo, vem sendo criticado nos círculos governamentais franceses: a reticência alemã em relação às missões militares internacionais, sobretudo às realmente perigosas.

"Devemos fazer mais do que simplesmente uma brigada. Devemos mostrar uma responsabilidade comum pela paz e a segurança no mundo", arrematou.

Essas três iniciativas fazem parte da pauta da próxima conferência franco-alemã de ministros, marcada para 19 de fevereiro em Paris.