1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Alemães em São Paulo

29 de junho de 2009

Quando os primeiros colonos alemães recrutados pelo governo brasileiro chegaram a São Paulo, em 1827, ainda não se sabia onde assentá-los. Isso ficou definido em 29 de junho de 1829.

https://p.dw.com/p/Id4O
Padaria de propriedade da família Gilger, em Santo Amaro (1891)Foto: DW

Os colonos alemães em São Paulo nos primeiros anos do Brasil independente guardavam uma segunda similaridade com os atuais sem-terra que esperam um pedaço de chão no campo. Muitos deles eram trabalhadores urbanos e sequer sabiam manusear uma enxada. Afinal, foram duas as causas básicas que levaram milhares de alemães a trocar sua pátria na Europa pela construção de seu futuro em terras brasileiras.

A fragmentação das propriedades rurais por direito de herança, sobretudo na região do Hunsrück (ao sul do rio Mosela), deixara para as novas gerações de famílias camponesas unidades mínimas, inviáveis economicamente. Nas cidades, as máquinas da revolução industrial substituíam operários nas fábricas e venciam a concorrência com os artesãos autônomos.

Assentamento

Sem perspectivas na Alemanha, muitos jovens camponeses sem-terras e desocupados urbanos aceitaram o tentador convite de recrutadores alemães e brasileiros para construir um novo país. A promessa de ganharem vastas terras convencia-os.

O primeiro grupo de 226 pioneiros desembarcou em Santos em 13 de dezembro de 1827, alcançando São Paulo em 12 de fevereiro de 1828. Foram alojados num hospital militar no então município de Santo Amaro, atualmente bairro da capital paulista. Mais tarde, o local abrigou o colégio alemão Humboldt e hoje em seu lugar está a Universidade de Santo Amaro (Unisa).

Haus der Familie Cremm in Itapecerica da Serra
Casa de taipa da família Cremm em ItapecericaFoto: DW

Ao longo de 1828 e 1829, novas levas de colonos os seguiram, chegando à soma de quase mil. Entretanto, apesar do recrutamento oficial na Alemanha, as autoridades brasileiras ainda não sabiam onde assentar os alemães recém-chegados a São Paulo. Alguns colonos que haviam trazido algum capital acabaram não esperando e compraram terras em Itapecerica, enquanto alguns artesãos decidiram logo exercer seus ofícios de alfaiate, sapateiro, serralheiro, torneiro, construtor de moinhos etc.

Enquanto isso o médico Justiniano de Mello Franco, que sabia alemão, procurava com os demais imigrantes terras onde pudessem ser assentados. A busca abrangeu uma ampla região que inclui vários dos atuais municípios ao redor da cidade de São Paulo. Muitos locais sugeridos pelo grupo foram vetados pelas autoridades para o assentamento. Em paralelo, os colonos trabalhavam na abertura de estradas.

A demora consumiu a paciência de alguns imigrantes, que passaram a cobrar uma decisão no fim de 1828. Mello Franco sugeriu, enfim, pela primeira vez, a região de Santo Amaro, com a adesão de 129 colonos. Mas o Conselho da Província rejeitou inicialmente a ideia. Por se rebelarem, 26 colonos foram penalizados com a perda de direito a terras e benefícios.

Vida isolada

Finalmente, a 29 de junho de 1829, 94 famílias receberam lotes na região de Colônia, em Parelheiros, no então município de Santo Amaro, 40 quilômetros ao sul do centro da capital paulista. Ao todo 336 imigrantes foram assentados em Santo Amaro, indo 238 para Rio Negro (hoje território paranaense), 57 para Cubatão e 39 para Itanhaém, espalhando-se os demais pela cidade de São Paulo e arredores.

Com os alemães, Santo Amaro tornou-se o único município produtor de batatas em 1837. Milho, feijão e mandioca também destacavam-se na produção. Outros dedicaram-se à extração de madeira e abriram serrarias e carvoarias.

A reconstituição do modo de vida dos colonos alemães nesta primeira fase tem sido quase impossível. "Não há documentos oficiais, nem comunitários ou particulares", diz Daniela Rothfuss, coordenadora do arquivo e da biblioteca do Instituto Martius Staden, que procura documentar e pesquisar a história da imigração alemã, sobretudo em São Paulo.

Daniela Rothfuss in der Bibliothek des Martius-Staden Instituts
Daniela Rothfuss, do Instituto Martius StadenFoto: DW

Não teria havido sequer vida comunitária dos colonos, uma vez que receberam grandes propriedades e tornaram-se fazendeiros com vidas quase isoladas. A religião dos colonos (80% era luterana) dificultava a integração com os brasileiros católicos, e a falta de uma igreja e um pastor luteranos deixou-os sem um ponto de encontro regular entre eles mesmos. Não podiam casar no religioso, somente em cartório.

Sem escolas, língua alemã não resistiu

Na igreja de Santo Amaro, seus mortos eram enterrados no lado externo, enquanto os católicos tinham sua sepultura dentro do templo. Somente em 1840 fundou-se o primeiro cemitério protestante em Colônia, mas supõe-se que muitos corpos já eram enterrados no local anteriormente. Difícil imaginar que durante 10 anos os colonos luteranos tenham levado seus mortos por 30 quilômetros para sepultá-los em uma igreja católica. Possivelmente, muitos tiveram o solo de suas próprias fazendas como último leito.

Os colonos também não abriram escolas próprias, de modo que o idioma alemão caiu em desuso já na terceira geração dos imigrantes. A língua trazida da Alemanha teria resistido até fins do século 19, através de canções e rezas.

Acredita-se que as moradias nas fazendas eram modestas: de madeira, depois taipa, como sugere a ruína de uma casa encontrada em Colônia. O tijolo seria empregado somente a partir de 1890.

De acordo com o Instituto Martius Staden, ainda vivem em Colônia 18 famílias descendentes dos primeiros imigrantes.

Autor: Marcio Weichert
Revisão: Alexandre Schossler