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Putin e Zelenski frente a frente pela primeira vez em Paris

Roman Goncharenko av
8 de dezembro de 2019

Conferência em "Formato Normandia", reunindo líderes da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, visa a paz no Leste ucraniano. Mas expectativas divergem, e nível de confiança mútua é menos do que ideal.

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Presidente Volodimir Zelenski de capacete militar olha preocupado através de buraco
Presidente Volodimir Zelenski na região de conflito LuhanskFoto: picture alliance/AP Photo

As expectativas são elevadíssimas no primeiro encontro cara a cara entre os presidentes ucraniano, Volodimir Zelenski, e russo, Vladimir Putin, na cúpula desta segunda-feira (09/12), em Paris. Observadores da imprensa e política concordam que as conversas entre os chefes de Estado e governo da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França poderão marcar um ponto de guinada nas tensões ucraniano-russas.

Na Ucrânia, é avassalador o número de análises sobre o que prestar atenção na cúpula sobre o Leste do país – e o que poderá dar errado. Políticos de oposição pró-Ocidente já advertiram Zelenski para não cruzar nenhuma linha vermelha ao encontrar-se com Putin. Há também pressão dos Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, afirmou que a conferência tem grandes chances de progresso.

Essas expectativas se apoiam na disposição de Zelenski de fazer concessões dolorosas à Rússia em troca da paz na Ucrânia Oriental. Chegar a uma conclusão diplomática do conflito que arde desde 2014 era uma das promessas eleitorais centrais do ex-cômico de 41 anos, e contribui para que fosse eleito em abril.

O roteiro para a paz foi estabelecido pelo Protocolo de Minsk, de 2015, embora ele ainda tenha que ser ratificado. Todos os lados – o Kremlin, os separatistas do Leste ucraniano apoiados por Moscou, e o governo em Kiev – se acusam mutuamente pelo impasse. O Kremlin via o antecessor de Zelenski, Petro Poroshenko, como um impedimento, recusando-se a tratar com ele. Consequentemente, desde 2016 não se realizaram cúpulas organizadas no assim chamado "Formato Normandia".

Moscou sinalizou disposição para conversar após a eleição de Zelenski, mas também impôs pré-condições: retirada das tropas ucranianas, assim como dos separatistas, de três áreas específicas na Ucrânia Oriental; e uma declaração de intenções por escrito de que se seguirá o plano apelidado "Fórmula Steinmeier".

Ele deve seu nome ao ex-ministro do Exterior e atual presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e propõe status especial para os territórios sobre controle separatista com o fim da realização de uma eleição regional, além de determinar quando e como uma série de leis seria aplicada.

Zelenski cumpriu a exigência de Putin, renunciando a uma das posições fundamentais de Poroshenko, de primeiro assegurar um cessar-fogo e então retirar as tropas. Os embates prosseguem na Ucrânia Oriental, com soldados ucranianos morrendo quase diariamente. O fato de Zelenski aceitar a Fórmula Steinmeier causou indignação no país, e ativistas prestigiados recorreram às redes sociais com ameaças de retomar os protestos, caso o presidente faça concessões demais na cúpula desta semana.

Para Zelenski, Paris constitui a chance de estabelecer um cessar-fogo total e organizar novas trocas de prisioneiros, o que tem sido repetidamente adiado. A primeira troca direta ocorreu em setembro, com a libertação do cineasta Oleg Sentsov, condenado a 20 anos de prisão na Rússia por terrorismo.

Falando recentemente no Parlamento Europeu, Sentsov alertou que Zelenski possa estar caindo na armadilha de Putin. Olena Zerkal, até há pouco vice-ministra do Exterior do país, também revelou à DW que tem "dúvidas quanto à honestidade das intenções de Putin".

Por sua vez, o chefe do Kremlin se encontra sob pressão consideravelmente menor do que seu homólogo ucraniano. Sua meta é forçar Kiev a fazer concessões políticas, entre as quais uma lei garantindo status especial aos separatistas, com Moscou se apresentando como mediador imparcial, em vez de parte beligerante.

Entretanto, não há dúvida de que o objetivo principal de Putin é pressionar por eleições nas regiões sob controle separatista, como meio de dar legitimação política à autonomia delas. Os tópicos mais polêmicos em Paris certamente serão se é possível realizar eleições em Donetsk e Lugansk, e sob que condições, e se o país recuperará o controle de suas fronteiras.

A última grande questão irresolvida capaz de aumentar a tensão na cúpula desta segunda-feira é o trânsito de gás russo através da Ucrânia para a Europa. O atual contrato a respeito entre Kiev e Moscou expira em 31 de dezembro, e até o momento têm falhado as negociações por um substituto. Essa será uma das últimas chances de resolver o conflito.

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