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"Putin ri das expulsões de diplomatas"

Peter Hille rk
27 de março de 2018

Em entrevista à DW, deputado verde Jürgen Trittin diz considerar leviano tomar essa decisão sem que haja evidências conclusivas e que correto seria esperar pelo relatório da Opaq sobre caso Skripal.

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O ex-ministro do Meio Ambiente Jürgen Trittin, do Partido Verde
Jürgen Trittin: "Não sei se é boa ideia adotar o rumo do acirramento e de provocação mútua"Foto: Getty Images

O deputado verde alemão Jürgen Trittin, ex-ministro do Meio Ambiente, afirmou à DW que considera "leviana" a expulsão de diplomatas russos por países ocidentais, em resposta ao suposto envolvimento do Kremlin no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha em solo britânico. Trittin é membro do Comitê de Relações Internacionais do Parlamento alemão e vice-presidente do grupo parlamentar de relações Alemanha-Rússia.

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Segundo ele, o caminho certo teria sido esperar o relatório da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), "para então agir com base em resultados concretos". "Não sei se é boa ideia adotar o rumo do acirramento e de provocação mútua", acrescentou.

Para ele, a reação europeia é sobretudo um sinal de solidariedade para com a primeira-ministra Theresa May diante as atuais negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

DW: O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, chamou a expulsão de diplomatas de "sinal". Já o presidente do seu partido, Robert Habeck, descreveu a decisão como "demonstração de solidariedade para com o Reino Unido". O senhor concorda com ele?

Jürgen Trittin: Eu acho que é mais um sinal de solidariedade para com [a primeira-ministra britânica] Theresa May. A intenção é fortalecer a posição dela no Reino Unido diante das atuais negociações do Brexit – e, para isso, a Europa demonstra união nesse momento.

Para citar o senhor Maas, do meu ponto de vista essa atitude é leviana, já que foi tomada num momento em que não há evidências conclusivas, mas suposições e plausibilidades. A plausibilidade indica em direção à Rússia, mas como se deve contar com uma reação óbvia da Rússia, não sei se é boa ideia adotar o rumo do acirramento e de provocação mútua.

O senhor acha que teria sido melhor esperar a divulgação do relatório da Opaq no caso Skripal?

Sim, o caminho certo teria sido esperar esse relatório, para então agir com base em resultados concretos. Aí ainda se poderia demonstrar essa solidariedade, e não haveria a suspeita de que tudo isso tem pouco que ver com Skripal e muito mais com o Brexit.

No que diz respeito ao Brexit, a Alemanha e a União Europeia confiam pouco no governo britânico, tanto em Boris Johnson [ministro britânico do Exterior] como em Theresa May. Eles também não confiam nos britânicos no caso Skripal?

Os britânicos investigaram bem. Sobre Boris Johnson e sua relação com a verdade, sabemos desde a campanha do Brexit que ele tem uma relação bastante tática [com a verdade], por assim dizer. Mas eu não sou da opinião de que não haja dedos apontando para a Rússia. Só que, se quiserem dar uma resposta à Rússia, é preciso mais do que plausibilidade.

Antes das expulsões, o senhor já havia alertado para uma "espiral da indignação". Que consequências o senhor espera agora?

Se essas ações continuarem, vamos nos encaminhar rapidamente para uma versão 2.0 da Guerra Fria. E eu não acho isso prudente. Por tudo aquilo que queremos da Rússia e em todos os pontos em que esperamos uma mudança de comportamento da Rússia (seja na Síria, seja no âmbito do posicionamento de foguetes de médio alcance), uma nova Guerra Fria não será vantajosa. Ao contrário, possivelmente será até prejudicial.

O que o senhor responde àqueles que dizem que Putin só entende a força?

E aí se expulsa quatro diplomatas? Ele ri disso.

E qual seria o caminho certo?

Existe um procedimento para esse tipo de caso e é preciso levá-lo a sério. Então se espera pelo relatório em questão e se age com base nele. Eu não sou a favor de deixar delitos, o assassinato de pessoas ou coisas do gênero impunes. Mas eu sou muito a favor de agir com base em evidências e não com base em plausibilidades.