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Liberdade de imprensaAlemanha

"Quanto mais escuridão, maior é a necessidade de jornalismo"

19 de junho de 2023

Um dos jornalistas investigativos mais conceituados da América Latina, Óscar Martínez, de El Salvador, recebe o Prêmio Liberdade de Expressão, concedido pela DW. Em discurso, ele lembra colegas vítimas de perseguição.

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Peter Limbourg e Óscar Martinez
Óscar Martínez após receber o prêmio entregue pelo diretor-geral da DW, Peter LimbourgFoto: Florian Goerner/DW

O jornalista salvadorenho Óscar Martínez recebeu nesta segunda-feira (19/06), em uma cerimônia em Bonn, na Alemanha, o Prêmio Liberdade de Expressão (Freedom of Speech Award) concedido pela Deutsche Welle (DW). Martínez, de 40 anos, é editor-chefe da revista online salvadorenha El Faro, fundada em 1998 e que desde então se tornou um dos principais veículos de mídia investigativa da América Latina.

"Óscar Martínez e os editores do El Faro resistem corajosamente à enorme pressão a que os jornalistas estão expostos em seu trabalho em El Salvador, mas também em outros países da América Central", disse o diretor-geral da DW, Peter Limbourg, ao entregar o prêmio.

A região é considerada uma das mais perigosas do mundo para jornalistas. Também em El Salvador, a situação piorou ainda mais para os jornalistas nos últimos anos. Desde que assumiu o poder em 2019, o presidente Nayib Bukele ataca e ameaça repetidamente profissionais críticos ao governo, bloqueia muitos nas redes sociais e tenta desacreditar a imprensa como inimiga do povo.

O país da América Central ocupa o 115º lugar entre 118 países do mundo num ranking de liberdade de imprensa. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, os meios de comunicação estão "entre as vítimas da violência generalizada em El Salvador".

Durante seu discurso ao receber o prêmio, Martínez abordou a perseguição que os jornalistas de sua região estão enfrentando. Ele falou de repórteres nicaraguenses que fugiram à noite após ameaças, de mãos dadas com seus filhos, ou que foram obrigados a passar noites em bancos de parques depois de deixarem o país. "Outros tiveram que partir em barcos e ainda choram quando se lembram da última vez que olharam para trás e viram as colinas da sua própria terra", disse.

Óscar Martinez
Durante seu discurso ao receber o prêmio, Martínez abordou a perseguição que os jornalistas de sua região enfrentamFoto: Florian Goerner/DW

Mais de 150 jornalistas já tiveram que deixar o país nos últimos anos, prosseguiu Martínez, que também já teve de deixar o país várias vezes devido a ameaças de morte ou por temor de ser preso. "O jornalismo está bem no meio disso: perseguido pelo poder e desprezado por boa parte da sociedade que informa", disse Martínez. "Quanto mais escuridão, maior é a necessidade de jornalismo."

"Portanto, venho aqui com pesar, mas também com orgulho, porque represento um grupo de pessoas que cumpriram sua missão jornalística", disse o jornalista.

A DW concede o Prêmio Liberdade de Expressão anualmente desde 2015. O objetivo é chamar a atenção para a limitada liberdade de imprensa em muitas regiões do mundo e homenagear jornalistas de destaque.

"O silêncio não é uma opção"

Ao abordar o trabalho dos repórteres em seu próprio país, Martínez disse que a situação está se tornando cada vez mais difícil à medida que El Salvador se afasta da democracia e se aproxima de uma ditadura.

Sob o presidente Nayib Bukele, o governo impôs um estado de emergência, em vigor desde março de 2022, sob a justificativa de combater as gangues criminosas. O estado de emergência, porém, deu ao governo novos poderes e levou à prisão de 68 mil pessoas. Sua contínua prorrogação tem sido amplamente criticada, inclusive pelas Nações Unidas.

Soldados e policiais agem impunemente sob o estado de emergência de El Salvador, explicou Martínez. "Apenas duas semanas atrás, o chefe de polícia disse que começariam a agir contra os jornalistas agora, para que as pessoas logo vissem como poderíamos ser processados e presos", disse Martínez.

"No entanto, nunca neste século o jornalismo salvadorenho descobriu tantos casos de corrupção, impunidade e violência do Estado. (..) O silêncio não é uma opção", concluiu Martínez, agradecendo a coragem de seus colegas do El Faro e de outros países vizinhos.

Esta é a nona vez que a Deutsche Welle concede o Prêmio Liberdade de Expressão, que é entregue durante o Fórum Global de Mídia (Global Media Forum, GMF), organizado pela emissora. O primeiro premiado, em 2015, foi o ativista saudita de direitos humanos e blogueiro Raif Badawi. No ano passado, o prêmio foi concedido ao jornalista da Associated Press Mstyslav Chernov e ao fotojornalista freelance Evgeniy Maloletka por seu trabalho cobrindo a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

jps/bl (DW, ots)