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Quem batizaria o próprio filho de Adolf?

Torsten Landsberg av
17 de outubro de 2018

Continua difícil pegar leve com Hitler: baseada num sucesso de bilheteria francês, comédia alemã brinca com as associações nefastas que o prenome do líder nazista suscita.

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Um jantar, álcool demais, um desentendimento: "O prenome" combina elementos de comédia clássica
Um jantar, álcool demais, um desentendimento: "O prenome" combina elementos de comédia clássicaFoto: picture alliance/dpa/Constantin Film

Um inocente jogo de adivinhação pode às vezes levar a revelações amargas. É o que ocorre em Der Vorname  (literalmente: O prenome), o mais recente filme de Sönke Wortmann, o cineasta que assinou O homem mais desejado do mundo, uma das comédias de maior sucesso da Alemanha pós-Guerra.

Thomas e sua namorada, Anna, estão esperando um bebê. Ele desafia seu cunhado, Stephan, e um amigo da família, René, a adivinharem como se chamará seu filho. Sabendo que a primeira letra é "A", os convidados esgotam todas as possibilidades e desistem. E aí ficam sabendo que o casal optou por Adolf. A revelação muda o curso daquele que começara como um agradável jantar entre amigos.

Cineasta alemão Sönke Wortmann
Sönke Wortmann é um dos cineasta de maior sucesso na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/Jens Kalaene

O filme de Wortmann se baseia na peça francesa Le prénom, de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière, levada às telas com grande sucesso de bilheteria em 2012, como Qual é o nome do bebê.

A linha dramatúrgica é clássica: uma reunião social, excesso de álcool, os protagonistas desenterram velhas rivalidades, revelando suas verdadeiras personalidades. São os mesmos elementos do sarcástico drama Quem tem medo de Virginia Woolf (1966), estrelado por Elizabeth Taylor e Richard Burton; ou da tragicomédia Deus da carnificina (2011), de Roman Polanski – ambos baseados em peças teatrais.

Ascensão e queda de um nome

Em Der Vorname, o nome escolhido pelo casal de acadêmicos é uma provocação absoluta, desencadeando a disputa entre amigos. Entretanto "Adolf" era muito difundido nos países de língua germânica até tornar-se infame pela associação com o ditador nazista.

Quando Hitler assumiu o poder, em 1933, durante vários anos o prenome foi um favorito dos progenitores alemães, mas tornou-se extremamente impopular a partir de 1942 e, de 1951 em diante, foi praticamente deixado de lado.

Atém mesmo alguns dos Adolfs nascidos antes da Segunda Guerra Mundial preferiram evitar a associação nefasta. Adolf Dassler, por exemplo, o fundador da companhia Adidas, era mais conhecido pelo apelido "Adi".

Embora batizar uma criança "Adolf Hitler" seja proibido na Alemanha, não há nenhuma lei contra o primeiro nome. Ele permanece relativamente raro, e em geral só é adotado como nome do meio, em homenagem a algum antepassado. Os cartórios alemães também têm poderes para impedir a adoção do nome, se há indícios de que a escolha visa promover o extremismo de direita.

Riso amarelo

Der Vorname passa a integrar a rarefeita categoria das produções de idioma alemão que abordam o legado da era nazista em forma de comédia. Cineastas que trilharam essa linha – como David Wnendt em Ele está de volta (2015) ou Dani Levy com Minha quase verdadeira história (2007) – bem sabem que é difícil deixar o público alemão relaxado com piadas de Hitler.

Quando apresentadores de shows de fim de noite como Harald Schmidt ou Jan Böhmermann arriscaram imitar o ditador em seus números de abertura, o riso da plateia, em geral, foi amarelo. Felizmente, a maioria dos alemães ainda guarda a consciência de que trivializar os crimes nazistas é moralmente inaceitável.

Em outros países a recepção é mais fácil. A Segunda Guerra ainda estava em pleno curso em 1940, quando Charlie Chaplin dirigiu e estrelou O grande ditador, em que satirizava Hitler e os nazistas. E em 2009 o celebrado ator de teatro alemão Martin Wuttke ganhou reconhecimento internacional por sua interpretação do líder nazista em Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino.

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