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Ramadã em tempos de coronavírus

19 de abril de 2020

Pandemia ameaça um dos principais rituais muçulmanos. Jejum diário e reuniões para refeição conjunta à noite são dificultados pela covid-19. Líderes religiosos não descartam mudanças na tradição.

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Iftar no Iraque: evento costuma reunir milhares de pessoas em países muçulmanosFoto: picture-alliance/dpa/A. A. Mohammedaw

A pandemia de coronavírus tem se mostrado uma verdadeira provação para os fiéis muçulmanos em todo o mundo. Três de seus cinco pilares da fé são diretamente afetados pela epidemia: com as medidas restritivas impostas em muitos países, as mesquitas permanecem fechadas para a oração obrigatória; a tradicional peregrinação a Meca atualmente está fora de questão, já que a Arábia Saudita fechou o local sagrado; agora, o Ramadã também está em jogo.

Em 2020, o mês sagrado de jejum islâmico começa na próxima quinta-feira (23/04). Durante esse período, os muçulmanos só podem comer e beber à noite. Essa tradição já era seguida pelo profeta Maomé.

Diante da rápida disseminação do coronavírus, no entanto, um Ramadã "normal" parece quase impossível no momento. O jejum diário pode favorecer a epidemia de covid-19, pois esse esforço físico pode propiciar doenças. O jejum islâmico, no entanto, só deve ser realizado se não colocar a saúde em risco. Doentes, assim como mulheres grávidas, não precisam seguir essa tradição. Essa exceção pode virar a regra este ano.

Outro fator de risco, em tempos de coronavírus, é a reunião comunitária para o desjejum à noite, o chamado iftar. No fim do dia, famílias e amigos se reúnem para jantar e orar. O evento começa tradicionalmente com tâmaras ou doces e um copo de água ou leite. Segue-se então a oração e, finalmente, a refeição conjunta. Com o distanciamento social em vigor, essas reuniões são obviamente problemáticas.

Esse desjejum comunitário público reúne, às vezes, milhares de pessoas. Esses eventos também são usados para arrecadar dinheiro para os necessitados. Essas reuniões públicas foram canceladas em vários países, entre eles o Egito.

O Irã também restringiu amplamente os hábitos religiosos. "Teremos que passar este Ramadã sem reuniões públicas. Isso se aplica tanto às orações quanto às reuniões de desjejum", chegou a dizer o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, em mensagem de vídeo.

Mesquita de Meca vazia
Arábia Saudita proibiu peregrinação à mesquita de MecaFoto: Getty Images/AFP/A. Ghani Bashir

Os muçulmanos na Alemanha também estão se preparando para grandes restrições. O Conselho Central dos Muçulmanos do país afirmou que o cumprimento das medidas de distanciamento social é mais do que apenas um dever cívico. "A integridade das pessoas está em perfeita harmonia com nossas crenças", disse o presidente da entidade, Aiman Mazyek, aos jornais do grupo de mídia Funke.

O Conselho Central concorda com o gabinete de crise do governo alemão sobre as medidas necessárias para conter a pandemia. Assim, para o Ramadã dos muçulmanos, também vale o que valeu para as igrejas cristãs nos feriados da Páscoa. E, ao contrário das teorias de conspiração propagadas pela direita nas redes sociais, não há exceções para os muçulmanos na Alemanha.

A crise do coronavírus pode ainda ter consequências financeiras para muitas comunidades muçulmanas. As doações no mês de jejum do Ramadã são uma importante fonte de renda para o trabalho comunitário. O Conselho Central teme que, com a falta desses recursos, muitas comunidades terão que permanecer com as portas fechadas mesmo depois da pandemia.

Ainda não se sabe se o Ramadã ocorrerá neste ano. As diferentes vertentes da fé islâmica decidem independentemente uma da outra. O governo iraniano pretende seguir recomendações de médicos, segundo a mídia oficial do país.

A autoridade suprema da maioria sunita dos muçulmanos, os estudiosos da Universidade Al-Azhar, no Egito, vincula sua decisão à Organização Mundial da Saúde (OMS). No final, neste ano, os fiéis muçulmanos poderão, provavelmente, enfrentar o mesmo que milhões de fãs de esportes: o adiamento de grandes eventos.

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Hans Pfeifer Ele é um repórter multimídia apaixonado, especializado em extrema direita.