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Reatando laços de família

(sv)31 de outubro de 2002

Joschka Fischer, ministro alemão do Exterior, encontra-se com o Secretário de Estado norte-americano, Colin Powell. A visita a Washington é uma tentativa de aparar as arestas nas relações entre os dois países.

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Joschka Fischer e Colin PowellFoto: AP

Se o diálogo entre George W. Bush e Gerhard Schröder não foi dos mais amistosos nos últimos tempos, a mídia internacional insiste em afirmar que Fischer e Powell, os respectivos responsáveis pela pasta do Exterior, "se entendem muito bem".

A tarefa a ser executada por Fischer em sua visita aos EUA, diga-se de passagem, não é das mais fáceis. O ministro pretende estabilizar as estremecidas relações entre Berlim e Washington, sem abrir mão do motivo da discórdia: o não da Alemanha à uma possível intervenção militar no Iraque.

O trabalho de reaproximação entre os dois países pode levar ainda tempo. Bush dá claros sinais de que o ressentimento americano frente ao premiê alemão ainda está bem nítido na lembrança. Uma eventual visita de Fischer à Casa Branca foi rejeitada pelo governo norte-americano e Powell foi o único a ter tempo para o ministro alemão.

Algemas –

Após uma conversa de 45 minutos, Fischer reafirmou seu não à guerra no Iraque. Powell contrapôs afirmando que os EUA não aceitarão nenhuma espécie de resolução da ONU que "coloque algemas no presidente norte-americano". No entanto, como rezam as normas diplomáticas, Fischer definiu o tom amistoso ao encontro: "Vamos discutir as diferenças na família e tentar eliminá-las".

Em sua visita, Fischer revidou ainda a hipótese de que a campanha eleitoral da social-democracia em seu país tivesse causado danos políticos às relações teuto-americanas. "Estamos tentando acabar com as irritações. O dia de hoje contribuiu muito para isso", declarou o ministro alemão após o encontro com Powell.

Anti-americanismo –

Familiares ou não, fato é que as relações entre os antigos aliados não passam por seus melhores momentos. Bush nem sequer enviou os cumprimentos diplomáticos de praxe à reeleição de Schröder, enquanto nos EUA acredita-se que a Alemanha é dominada por uma onda de anti-americanismo. Além disso, o episódio da comparação da ex-ministra alemã da Justiça, Herta Däubler-Gmelin, referindo-se à semelhança entre os métodos usados por Hitler e por Bush, parece não ter saído da memória da Casa Branca.

Apesar do vai-e-vem da retórica diplomática, o cerne da questão é outro. Em princípio, Powell recebeu Fischer para ouvir o que já sabia: que a Alemanha continua mantendo sua posição contrária à uma intervenção militar no Iraque. A verdadeira tarefa do ministro alemão foi a de organizar de antemão um encontro entre Bush e Schröder para meados de novembro, por ocasião da Cúpula da OTAN, a ser realizada em Praga.

Agendando a reconciliação –

Se na última reunião da aliança o Secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, mal olhou para seu colega alemão de pasta, Peter Struck, ocorrer o mesmo entre os chefes de governo dos dois países na capital tcheca seria definitivamente demais para as relações entre os dois aliados. "Acredito que a viagem foi muito importante para vencer os distúrbios na atmosfera entre os dois países", observou Fischer após o primeiro dia de sua missão nos EUA, certo de que seu encontro com Powell serviu para aparar arestas.

Culpa da campanha –

Apesar da presença do ministro alemão em solo norte-americano, a edição da última quarta-feira (30) do diário Washington Post trouxe uma análise de ninguém menos que o ex-Secretário de Estado Henry Kissinger, creditando ao tom da campanha eleitoral alemã as intempéries da política externa do país.

Segundo Kissinger – um ferrenho defensor da aliança teuto-americana durante a guerra fria – Berlim, sob o governo social-democrata-verde, teria colocado em xeque as premissas da aliança transatlântica com sua postura "unilateral" frente à questão envolvendo o Iraque. A Alemanha, nas palavras de Kissinger, segue, sob Schröder e Fischer, um curso que lembra os alemães individualistas dos tempos do império.