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Refugiados e Turquia dominam debate entre Schulz e Merkel

3 de setembro de 2017

Houve pouco espaço para temas como aposentadorias e educação em duelo entre chanceler e social-democrata. Pesquisas apontam que Merkel se saiu melhor que o rival.

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Deutschland TV Duell Merkel - Schulz
Foto: Reuters/WDR/H. Sachs

A chanceler federal, Angela Merkel, e seu concorrente social-democrata Martin Schulz realizaram na noite deste domingo (03/09) o primeiro – e único – debate da campanha eleitoral. Dois terços do encontro de 97 minutos foram dominados por questões que vêm gerando controvérsia na Alemanha nos últimos anos: imigração, refugiados, islã e as negociações para a entrada da Turquia na União Europeia. 

Leia a cobertura completa sobre a eleição na Alemanha em 2017

Os olhos de boa parte do eleitorado estavam voltados para Schulz, que nas últimas semanas adotou uma posição mais acusatória e esperava usar o debate para contornar sua desvantagem nas pesquisas, que mostram seu partido, o SPD, até 17 pontos percentuais atrás da União Democrata-Cristã (CDU) de Merkel. O debate ocorreu a três semanas da eleição, prevista para o dia 24 de setembro. 

Pesquisas de canais de TV realizadas após o debate mostraram que Merkel venceu o duelo. Segundo o telejornal Tagesschau, 55% dos entrevistados disseram que Merkel foi mais convincente, contra 35% que apontaram Schulz como o vencedor. Ela também se saiu melhor entre os eleitores indecisos, com 48% deles apontando que a chanceler se saiu melhor, contra 36% que apontaram uma melhor performance de Schulz.

Um levantamento da rede ZDF, no entanto, mostrou uma vantagem mais apertada de Merkel, que apareceu com 32%, contra 29% de Schulz. Outros 39% afirmaram que não enxergaram diferenças entre o desempenho dos candidatos.

Embate 

Ao longo do debate, o candidato social-democrata tentou se diferenciar de Merkel e da CDU – apesar de estar disputando a chancelaria, a SPD é parceira de coalizão de Merkel desde 2013. A chanceler chegou a ficar na defensiva quando Schulz fez críticas em temas como política social, mas  em vários momentos ambos pareceram concordar ou apenas discordar em detalhes. 

No caso da política adotada por Merkel na crise dos refugiados, ele não criticou as principais ações, mas disse que a chanceler deveria ter coordenado melhor a situação com vizinhos da Alemanha.

O debate entre Merkel e Schulz

“Merkel disse que faria tudo que fez em 2015 de novo, mas acho que isso não seria aconselhável. Vários erros foram cometidos. Precisamos encontrar soluções, mas não à custa da Alemanha", disse ele.  

Merkel, por sua vez, disse que a posição de outros países europeus, especialmente a Hungria, dificultou qualquer coordenação.  

Quando se tratou de deportações, ambos mostraram visões semelhantes. “Pessoas que não têm o direito de estar em nosso país devem deixá-lo – várias já foram deportadas”, disse Merkel. Schulz, por sua vez, disse “pessoas que cometeram crimes não devem ficar”.

Eles também falaram sobre melhorar a situação dos países de origem dos imigrantes e atacar as causas da fuga de tantas pessoas. “A Alemanha se beneficiou da globalização, e nós não podemos nos desligar dos conflitos do mundo. Mas não significa que todos podem vir até aqui. Precisamos combater as razões que levam as pessoas a deixarem seus locais”, disse Merkel.  

“Pessoas que estão fugindo de matanças e estupros vêm aqui porque sabem que somos democratas. Mas em relação à imigração estamos enfrentando desafios”, disse Schulz. 

Islã 

Os dois candidatos também mostraram visões semelhantes sobre a integração de imigrantes muçulmanos e relação da religião com a Alemanha. “Temos quatro milhões de pessoas que contribuem para o sucesso da Alemanha, e a fé deles é o islã. Dessa forma, o islã faz parte da Alemanha, mas desde que esteja de acordo com a Constituição”, disse Merkel.  

Ela também afirmou que clérigos que espalham discurso de ódio devem ser combatidos na Alemanha. “Temos que fechar mesquitas se ocorrerem coisas nelas que não podemos aceitar”, afirmou. Ela também disse ainda que a Alemanha deve formar seus próprios clérigos muçulmanos, sem depender de imãs que vêm de países como Turquia e Arábia Saudita.  

Já Schulz afirmou não acreditar que imigrantes muçulmanos sejam mais difíceis de se integrar à sociedade alemã do que membros de outras comunidades. O social-democrata também afirmou que o governo deveria fazer mais para impedir “imãs que espalham o ódio”.  

Turquia

Um dos pontos mais acalorados do debate envolveu as relações da Turquia com a Alemanha, que andam estremecidas após a prisão de cidadãos alemães pelo governo de Recep Tayyip Erdogan e as tentativas de Ancara de interferir em questões internas da Alemanha. Schulz afirmou que, se eleito chanceler, vai cancelar qualquer negociação para a entrada da Turquia na União Europeia (UE). “Esse país não pode se tornar membro da UE”, disse.

Merkel aproveitou o momento para acusar Schulz de ter mudado de opinião sobre o assunto desde que deixou o cargo de presidente do Parlamento Europeu. Em dado momento, a chanceler federal acusou o adversário de ter mudado radicalmente de posição e ao mesmo tempo disse acreditar que a Turquia nunca vai fazer parte do bloco. “Eu não vejo a Turquia entrando na União Europeia, eu nunca vi, mas isso parece ter sido diferente para o SPD”, disse. 

Trump 

Schulz também afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, é “imprevisível”. Quando questionado se Trump era a pessoa certa para lidar com o problema norte-coreano, Schulz respondeu que não.

“É uma pessoa que usa o Twitter para atacar seu oponentes e não consegue se diferenciar de neonazistas. Em um caso assim, o chanceler federal tem que marcar presença”, disse.

Já Merkel evitou criticar o americano afirmou que vai continuar a insistir em trabalhar com Trump. “Nós precisamos dos EUA como uma força de paz e vamos fazer de tudo para colocá-los no caminho certo.”

Outros temas

Pouco tempo foi dedicado ao tema aposentadoria, educação, energia e gastos militares. Rússia e o Brexit ficaram completamente de fora. Uma parte do debate também se voltou para temas como pedágios em estradas e o escândalo envolvendo fraudes na emissão de carros a diesel. 

Schulz tentou marcar alguns pontos na discussão sobre relações de trabalho e política social, mas pouco tempo foi devotado ao tema, que era considerado pelo seu partido como um diferencial da sua campanha.

“A Alemanha é um país próspero, mas isso não significa que todos na Alemanha são prósperos", disse. “Alguns casais na Alemanha não podem pagar o aluguel com a renda combinada, e esses aluguéis estão subindo”, disse, afirmando que Merkel não representa os alemães que não vêm se beneficiando do crescimento. 

Merkel, por sua vez, se defendeu da acusação afirmando que o desemprego caiu no período em que ela esteve à frente da chancelaria e que isso beneficiou os mais pobres. 

Eles também trocaram acusações sobre segurança pública. Merkel afirmou que o partido de Schulz perdeu recentemente o governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália porque os sociais-democratas abandonaram a polícia. Schulz retrucou afirmou que o estado mais violento da Alemanha, a Saxônia-Anhalt, é governada pela CDU de Merkel. 

A quantidade de temas controversos que dominaram a primeira hora do debate chamaram a atenção de observadores. O colunista da revista Der Spiegel Jakob Augstein afirmou que a presença deles “demonstra que tipo de papel a AfD está desempenhando na política alemã”, se referindo ao novato partido populista de direita, que costuma explorar temores entre o eleitorado em relação a imigração e islã.