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60 anos

26 de janeiro de 2010

Com 1,3 bilhão de habitantes e membro do BRIC, a Índia comemora 60 anos desde que entrou em vigor sua Constituição. Diversidades étnica, religiosa e linguística são obstáculos para a democracia.

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Educação das mulheres: tema em debate no paísFoto: AP

A Índia, assim como o Brasil, é um país de enormes desigualdades sociais. O país de reluzentes arranha-céus e shopping centers, onde estão à venda as mais recentes criações de grifes internacionais, não tem, à primeira vista, nada a ver com a Índia que se tornou independente do Reino Unido no ano de 1947 e cuja constituição passou a vigorar no dia 26 de janeiro de 1950, ou seja, há 60 anos.

No entanto, o respeitável crescimento econômico de aproximadamente 9% nos últimos anos não é visível para boa parte da população. O mesmo país que se tornou um gigante no setor de informação e telecomunicações tem dois terços da população vivendo de uma economia agrária pouco produtiva.

Abismo entre ricos e pobres

Christian Wagner, especialista do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), sediado em Berlim, vê o abismo crescente entre ricos e pobres como o maior desafio social para o governo da Índia.

"É claro que houve um nítido progresso econômico no país nos últimos 60 anos. Por outro lado, precisamos constatar que, na Índia, aproximadamente 40% da população é obrigada a viver com menos de um dólar, segundo estatísticas internacionais. Ou seja, não existiram no país formas de distribuição social nem econômica, com as quais são associadas normalmente as democracias", analisa Wagner.

Uma perspectiva compartilhada pelo sociólogo Yogendra Yadav, para quem os problemas sociais do país podem ser resolvidos enquanto as pessoas ainda confiam no sistema.

"Se o fato de ser uma república significa que a população da Índia tem voz, então isso ainda é um sonho que ainda vai demorar muito para se tornar realidade. Principalmente num país onde há tanta pobreza, fome e onde as pessoas não se sentem especialmente próximas de seu governo. Mesmo assim, até hoje a Constituição vem sendo respeitada e a democracia continua viva e, bem ou mal, as pessoas ainda acreditam no sistema", analisa Yadav.

Promessas vazias

Indien Großbritannien Verfassung Lord Mountbatten in New Delhi
Lord Mountbatten fala perante a Assembleia Constituicional em Nova Délhi, em 1947Foto: AP

Todos os governos da Índia desde a independência do país vêm prometendo combater a pobreza. Outra promessa vazia tem sido também o combate à discriminação contra minorias, como contra populações nativas. Outro aspecto é o fomento à educação das mulheres.

Em todos esses campos, são visíveis os primeiros progressos. Hoje, por exemplo, aproximadamente dois terços da população da Índia consegue ler e escrever, segundo estatísticas do governo indiano do ano de 2009, o que significa um aumento de 6% em relação à taxa registrada no censo de 2001.

Inimigo interno: terrorismo

A Índia, no entanto, luta também contra um inimigo poderoso: o terrorismo. No interior do país, os maoístas ameaçam a segurança interna e já provocaram furor com uma série de atentados. O premiê Manmohan Singh pretende, com uma ofensiva militar de grande porte, combater o problema nos próximos cinco anos.

Críticos alertam, contudo, que principalmente a população dos estados do nordeste do país apoiam os maoístas porque estes se posicionam contra a apropriação de terras e contra a exploração de matéria-prima na região. De uma forma ou de outra, fato é que o terrorismo internacional já chegou à Índia, como ficou claro nos atentados à metrópole financeira Mumbai em 2008, explica Afsar Karim, especialista em segurança.

"As pessoas são puro amargor. Para elas não há garantias de que uma coisa dessas não venha a se repetir. Os atentados de Mumbai foram um golpe emocional, mas também econômico para o país. Mesmo que nada tenha acontecido no último ano, todos os serviços secretos do mundo, inclusive os norte-americanos, continuam dizendo que há um grande risco de que o Lashkar-e-Toiba e a Al Qaeda tenham a Índia na mira de novo", observa Karim.

Os atentados de Mumbai colocaram acima de tudo as relações entre a Índia e o arqui-inimigo Paquistão à prova. O único terrorista sobrevivente, Mohammad Ajmal Kasab, é paquistanês. Hoje já está claro que aquele atentado foi planejado e arquitetado no Paquistão, um país com o qual a Índia já travou três guerras, duas delas por causa da Caxemira, uma questão que continua ainda hoje, 60 anos mais tarde, sem solução.

Mudanças climáticas

Além dos problemas de ordem política e religiosa, pesquisadores acreditam que as mudanças climáticas representarão para o país um enorme problema nos próximos anos.

"O maior problema é a água. As mudanças climáticas irão fazer com que suba o nível da água do mar, o que provocará inundações. O derretimento das geleiras irá provocar secas e a maioria das pessoas do país vive da agricultura. As mudanças climáticas terão consequências para elas e para o desenvolvimento da Índia como um todo", alerta Najam.

Autora: Priya Esselborn (sv)

Revisão: Carlos Albuquerque