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República Tcheca elege seu "Trump"

22 de outubro de 2017

Em eleição marcada por duro golpe em partidos tradicionais, bilionário de discurso populista, antiestabilishment e que põe em questão integração europeia deve se tornar o próximo primeiro-ministro.

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Babis deposita seu voto em Praga: fortuna é estimada em mais de 4 bilhões de euros
Babis deposita seu voto em Praga: fortuna é estimada em mais de 4 bilhões de eurosFoto: Reuters/D.W. Cerny

Um partido antiestabilishment, que com frequência põe em questão a integração europeia e fundado por um oligarca bilionário de discurso populista foi o grande vencedor neste sábado (21/10) das eleições legislativas na República Tcheca.

O partido ANO obteve quase 30% dos votos, o que é suficiente para que seu fundador, o empresário Andrej Babis, de 63 anos, lidere um governo de coalizão. A vitória está sendo encarada como uma guinada à direita na política tcheca.

De retórica muitas vezes comparada à de Donald Trump, Babis chegou à vitória após uma campanha marcada por um discurso contra a corrupção, o euro, os imigrantes e os demais partidos políticos, os quais acusa de não fazerem nada, senão sustentar um sistema corrupto.

O resultado confirma o baque para as legendas tradicionais: o social-democrata CSSD, do atual premiê Bohuslav Sobotka, obteve apenas 7,5% dos votos (queda de 13 pontos frente a 2013), e os liberal-conservadores do ODS ficaram na casa dos 11%.

O terceiro colocado foi o SPD, um partido considerado xenófobo e antieuropeu, com 10% dos votos. É com ele que provavelmente Andrej Babis e sua Aliança de Cidadãos Descontentes, como é chamado seu partido, devem começar as negociações para formar governo.

"Estou feliz que os tchecos não acreditaram na campanha de desinformação contra a gente e expressaram sua confiança em nós", declarou Babis no discurso de vitória. "Somos um movimento democrático, pró-Europa e pró-Otan", completou o candidato, que ao longo da campanha várias vezes ds opôs a uma maior integração na União Europeia.

Um populista num país de satisfeitos

Comparada pelo jornal Washington Post com a ascensão de Donald Trump  ("ele parece muito com o presidente americano"), sua campanha foi centrada no lema "agora ou nunca", e ele conseguiu atingir também os eleitores da ala mais eurocética ao prometer que a República Tcheca não aceitaria o euro e ao defender uma Europa que "não trate ninguém como cidadão de segunda classe".

Nas eleições de 2013, Babis já havia chocado o meio político tcheco ao ficar em segundo lugar, com 18% dos votos. Isso lhe possibilitou formar governo com os social-democrata e os democrata-cristãos, o que lhe rendeu o cargo de ministro das Finanças. Mesmo no governo, ele conseguiu manter o discurso antiestabilishment focando em reformas econômicas e combate à corrupção.

O que é populismo?

Enquanto ascendia na atual campanha, Babis se tornou alvo de uma investigação da Justiça tcheca sobre crimes fiscais e uso fraudulento de recursos europeus. Indiciado num processo que diz ter motivação política, ele acabou afastado do cargo em maio passado.

Observadores apontam como curioso o fato de a forte queda dos partidos tradicionais e o fortalecimento de Babis, o segundo homem mais rico do país, acontecerem justamente no momento no qual cerca de 80% dos tchecos se declaram satisfeitos com sua situação pessoal.

"Estas eleições estão vazias de temas reais, a divisão entre direita e esquerda desapareceu completamente, e os temas principais foram dois: Babis  e o comércio do medo", afirma Jiri Pehe, analista político e diretor da New York University de Praga.

O "comércio do medo" consiste, segundo o analista, em "criar ameaças virtuais - como os imigrantes, o islã, o terrorismo, o medo de adotar o euro como moeda – e alguns políticos que lutam contra elas". Mas na República Tcheca, completa Pehe, "não há migração, quase não há muçulmanos, não há ataques terroristas e o euro seria politicamente benéfico".

Em 2015, auge da crise migratória, um sistema de solidariedade entre os membros da UE foi criado como solução para aliviar a pressão sobre Grécia e Itália, países que, por sua posição geográfica, mais recebem refugiados. O objetivo era realocar 160 mil refugiados, mas a falta de vontade política – sobretudo por parte dos países do Leste europeu – fez com que ainda se esteja longe da meta. Desde 2015, Hungria e Polônia receberam apenas um refugiado realocado cada, e a República Tcheca se retirou do programa após dar abrigo a 12.

RPR/dpa/ots 

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