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Repressão deixa ao menos dez mortos na Nicarágua

16 de julho de 2018

Ataques de forças governamentais na cidade mais rebelde do país resultam em mortes de civis e policiais e dezenas de feridos. Ativistas acusam governo de impedir atendimento em hospitais e de executar opositores.

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O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, posa para fotografias com policiais em visita a Masaya, na sexta-feiraFoto: picture-alliance/AP Photo/C. Venegas

Ao menos dez pessoas morreram e 20 ficaram feridas em ataques das forças governamentais da Nicarágua em várias localidades dominadas pelos rebeldes no sul do país, afirmou neste domingo (15/07) uma organização de direitos humanos.

Paramilitares atacaram ainda um automóvel em que seguia Abelardo Mata, um cardeal mediador entre governo e oposição que retornava da cidade de Masaya para Manágua, afirmaram responsáveis da Igreja Católica, que acrescentaram que o religioso saiu ileso.

No sábado, dois estudantes foram mortos durante um ataque realizado pelas forças pró-governamentais contra uma igreja de Manágua, onde dezenas de jovens haviam procurado refúgio.

A chamada "Operação Limpeza", ordenada pelo governo da Nicarágua para atacar opositores que bloqueiam estradas, resultou na morte de ao menos seis civis e quatro policiais neste domingo, afirmou a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH).

"Há seis mortos em Masaya, dois em Diriá e dois em Catarina", disse o secretário-executivo da ANPDH, Álvaro Leiva. No bairro de Camilo Ortega, em Masaya, os confrontos resultaram em seis mortos, sendo quatro policiais, afirmou o ativista. Até o momento, a Polícia Nacional da Nicarágua não confirmou as mortes.

Na cidade de Diriá, no Departamento de Granada, as chamadas "forças combinadas" do governo, integradas por policiais e paramilitares, tiraram Almer e Allan Morales, pai e filho, à força de suas casas e os executaram, afirmou o ativista. Em Catarina, uma das vítimas é uma menina de 10 anos que levou um tiro no abdômen e morreu por falta de atendimento médico.

"Querem destruir Masaya, está tudo completamente cercado", disse Leiva, que acrescentou que a resistência é feita com bombas artesanais e pedras. Segundo o ativista, as "forças combinadas", depois de "neutralizarem" com armas os manifestantes das barricadas, executam uma busca em residências à procura de opositores.

Leiva afirmou ainda que há vários feridos. Além disso, denunciou que a polícia e os paramilitares tomaram à força o centro hospitalar departamental de Masaya e negaram atendimento às vítimas. A cidade está sitiada, por isso não há vias para transferir feridos a Manágua, a cerca de 30 quilômetros ao noroeste.

Nicaragua Protetste
Manifestante segura um morteiro caseiro durante marcha de protesto contra o governo do presidente Daniel OrtegaFoto: Reuters/O. Rivas

Masaya é a cidade mais rebelde do país e base do movimento de protesto contra o governo. Encabeçados por estudantes, os protestos contra o presidente Daniel Ortega começaram em 18 de abril, após as fracassadas reformas na Previdência Social.

No poder há 11 anos, Ortega é acusado de ordenar a repressão violenta de manifestações juntamente com a sua mulher, Rosario Murillo, que é sua vice-presidente, num regime marcado pela corrupção e pelo nepotismo. Os opositores o acusam de ser um ditador e exigem que saia ou que haja eleições antecipadas.

Em resposta, o governo acusou de exercer terrorismo, criar insegurança e agir com violência "qualquer um que se propuser a alterar pelas vias de fato" a ordem jurídica e constitucional por meio dos bloqueios de estradas, onde ocorreu "violência, tortura e sequestro".

Por isso, o governo lançou a chamada "Operação Limpeza", que consiste em remover os bloqueios com pás mecânicas, caminhões e trabalhadores do Estado, sob o resguardo das "forças combinadas".

Com pelo menos 351 mortes em quase três meses, segundo dados de organizações humanitárias, a Nicarágua vive sua crise política mais sangrenta desde a década de 1980.

PV/lusa/efe

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