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Sarkozy na Casa Branca

30 de março de 2010

Antes de Sarkozy, oito líderes europeus foram convidados à Casa Branca desde a posse de Obama. Agora é a vez do presidente francês. Para os EUA, no entanto, as relações com a França não são prioridade.

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Sarkozy recebe Obama no Palácio do Eliseu em 2008Foto: AP

O breve encontro entre o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o americano, Barack Obama, nesta terça-feira (30/03), será seguido de um jantar íntimo na Casa Branca, onde estarão presentes somente ambos e suas esposas.

Para Sarkozy e Obama, o breve encontro, sem tensões e pressão de nenhum dos lados, tem algo de alívio. Sarkozy terá uma trégua da campanha negativa que está enfrentando em casa após o resultado desastroso de seu partido nas eleições regionais há duas semanas.

A vitória dos esquerdistas levou à rápida reformulação do gabinete de governo de Sarkozy e à retomada de uma série de reformas. Três anos após sua posse, Sarkozy certamente está enfrentando agora uma das piores fases de seu mandato.

Obama, por sua vez, após ter se livrado dos debates tensos e acirrados sobre a reforma do sistema de saúde norte-americano, segue aliviado ao encontro com Sarkozy. Além disso, o presidente americano ganhou uma motivação extra com o anúncio de que os EUA teriam chegado a um acordo sobre desarmamento nuclear com a Rússia, na última sexta-feira.

O encontro entre Obama e Sarkozy promete ser leve e pode ser entendido como uma manobra de relações públicas. No entanto, Sarkozy certamente está esperando mais do que uma simples demonstração de amizade.

Bilhões de euros

Em entrevista à Deutsche Welle, Philippe Moreau Defarges, especialista do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), disse não ter muitas expectativas em relação ao encontro em Washington. "Eles estão de acordo em quase todos os pontos e, naqueles em que não concordam, não conseguirão fazer progressos em um só dia", afirmou.

US Präsident Barack Obama mit Angela Merkel beim G 20 Dinner in London
Merkel e Obama na cúpula do G20Foto: AP

Um dos pontos de desavença diplomática entre os dois países é a colossal encomenda de 179 aviões-tanque por parte das Forças Armadas norte-americanas. Recentemente, a França acusou os EUA de protecionismo, alegando que o país estaria favorecendo a Boeing em detrimento da Airbus, empresa europeia.

Após ter desistido da concorrência, a companhia EADS, matriz da Airbus, deu continuidade às negociações com o Pentágono, a fim de prorrogar o prazo para lançar uma oferta relativa ao contrato de 26 bilhões de euros.

Para Josef Braml, pesquisador da Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP), Obama seria a pessoa errada para se falar sobre esse assunto. "Existe muita pressão no Congresso norte-americano sobre o tema. Se Sarkozy quiser uma mudança substancial da atual política, é melhor que fale com os importantes líderes de comissões no Capitólio do que fazer gestos simbólicos para o presidente norte-americano", explicou.

Afeganistão e Irã

Outro ponto de potencial discórdia é a missão militar no Afeganistão. Mas aqui também o tema já está desgastado e os dois presidentes provavelmente se contentarão em concordar que discordam. Obama irá pedir mais tropas a Sarkozy, que não poderá oferecê-las em vista da forte resistência da opinião pública na França.

Na visão de Braml, pelo menos para Obama, o sucesso do encontro desta terça-feira se medirá pelo tema do Irã. O presidente norte-americano pretende fortalecer a oposição da comunidade internacional ao incômodo país do Oriente Médio. "Um sucesso para Obama seria a França impor sanções mais rígidas contra o Irã", explicou.

O pesquisador acredita que Obama está próximo desse objetivo. "Quando Merkel visitou os EUA, deu indicações muito claras de que apoiaria sanções mais duras; agora esperamos que Sarkozy faça o mesmo", disse Braml.

Do lado dos americanos

Barack Obama und Gordon Brown in der Downing street in London
Gordon Brown e Barack Obama: Reino Unido é maior aliado na EuropaFoto: AP

No entanto, o contexto simbólico talvez seja o que mais conte nesse encontro. Sarkozy chegou ao poder como um presidente amigo dos EUA. Ao assumir o cargo, criticou de forma incondicional seu predecessor, Jacques Chirac, por sua oposição à Guerra do Iraque e estendeu à mão a George W. Bush.

Obama não está tão próximo de Sarkozy como Bush. Desde a eleição de Obama, um estranho silêncio paira sobre as relações franco-americanas. Ao mesmo tempo, durante esse período houve diversas reuniões importantes com a premiê alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.

Braml destaca, todavia, que Sarkozy é "o presidente francês mais próximo dos EUA que houve em muito tempo". O pesquisador lembra que, durante a campanha eleitoral, Sarkozy quebrou a tradição gaulista de atacar os EUA em tudo. "Foi um gesto ousado e não particularmente popular. Sarkozy acredita piamente na economia norte-americana regida pelo mercado", explicou.

Reino Unido, Alemanha e depois a França

Para Philippe Defarges, todavia, Sarkozy já vem tentando vender essa imagem há demasiado tempo e de forma exagerada demais – algo que não o levou muito longe. "Sarkozy subiu ao poder com uma ideia que, em minha opinião, foi errada – que ele poderia revolucionar as relações entre a França e os EUA. Ele não pode mudar fatores fundamentais. França e EUA nunca se deram bem. A principal razão disso é o fato de a França não estar na mesma posição que os EUA, e ela gostaria de estar."

Defarges explicou que o problema entre os dois países é estrutural, explicitando a situação desta forma: "Na política externa norte-americana, o Reino Unido vem em primeiro lugar, depois a Alemanha e, então, a França. Acho que, em nível pessoal, Obama se entende com Sarkozy, mas também se dá bem com Merkel. Isso é algo que Sarkozy não pode mudar. Vendo a questão pelo lado pessoal, Sarkozy adora Obama e também quer ser adorado pelo presidente norte-americano, mas Obama não se interessa muito por Sarkozy."

Autor: Ben Knight (ca)

Revisão: Simone Lopes