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Esporte

Schalke, o que se passa?

18 de setembro de 2018

Após um início de temporada desastroso, a expectativa é que o time de Gelsenkirchen dê a volta por cima, assim como fizeram os mineradores de carvão que o fundaram. Desde 1958, o clube não põe a mão na salva de prata.

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O técnico Domenico Tedesco dá instruções aos jogadores na derrota para o Gladbach; com a 29, o brasileiro Naldo
O técnico Domenico Tedesco dá instruções aos jogadores na derrota para o Gladbach; com a 29, o brasileiro NaldoFoto: Getty Images/Bongarts/C. Köpsel

Já faz algum tempo que o tradicional FC Schalke 04 prega sustos na sua fiel torcida, que invariavelmente lota a moderníssima Veltins Arena em Gelsenkirchen. É tão moderna que possui até um teto retrátil para proteger os fãs das intempéries, além do gramado que, sobre um sistema de roldanas, sai da arena para tomar sol lá fora.

Só que o mau tempo e as nuvens pesadas que pairam atualmente sobre o Schalke 04 não tem teto retrátil que dê conta.

Depois da melhor campanha dos últimos anos, com a conquista do vice-campeonato alemão na temporada que passou, os azuis reais agora vão ladeira abaixo e ocupam apenas o 17º lugar na tabela, o que equivale à uma vaga direta para o rebaixamento à "segundona”.

E pior: após três rodadas, o time já acumula três derrotas consecutivas, algo que o jovem técnico Domenico Tedesco só havia experimentado uma vez na sua curta carreira. Foi quando, há alguns anos, ainda dirigia o time sub-17 do Stuttgart.

O Schalke parece mesmo gostar de uma gangorra. Não faz muito tempo, em 2010, os azuis reais também tinham conquistado o vice-campeonato, para logo na temporada seguinte ocupar o modesto 14º, posto a apenas quatro pontos da zona da repescagem.

Se recuperou na temporada subsequente, mas fraquejou mais uma vez em 2017 ao ficar na zona cinzenta da tabela, um 10º lugar que não leva a lugar nenhum.

Não é de hoje que colegas me perguntam sobre as razões desta instabilidade crônica do time de Gelsenkirchen. Em tom de brincadeira costumo responder assim: "Quando você pensa que o Schalke vai, ele não vai. E quando você pensa que não vai, aí é que o Schalke vai”.

Mas as atuais fraquejadas do time têm lá os seus motivos, a começar pelo atual mau desempenho do setor defensivo.

Na temporada passada, os "azuis reais” ostentaram a terceira defesa menos vazada do campeonato, com apenas 37 gols sofridos, ficando atrás só de Bayern Munique (28) e Stuttgart (36). Além disso, em 13 confrontos (quase 40% do total de 34) o Schalke ficou sem tomar um gol sequer.

Visando reforçar ainda mais a sua defesa para a nova temporada, a diretoria do clube foi buscar o zagueiro Salif Sané (Hannover e seleção do Senegal) para compor a zaga com o brasileiro/alemão Naldo. Inesperadamente o tiro certo de um reforço defensivo saiu pela culatra. Nas três partidas que o Schalke disputou até agora na Bundesliga já sofreu seis gols, e o recém-contratado Sané foi de uma regularidade impressionante: levou apenas nota 3 nas três partidas que jogou como titular.

Dois gols sofridos por jogo é muito, especialmente para uma defesa cuja linha de três zagueiros tem em média 1,94 m de altura. Mesmo assim, na partida do último sábado, contra o Borussia M'Gladbach, levou dois gols que tiveram sua origem em bolas pelo alto.

Acrescentem-se aos problemas de desorganização da defesa azul real um meio-campo opaco e um ataque estéril (apenas dois gols marcados em três jogos) e se obterá a receita pronta para a atual má campanha do time.

Enquanto isso, o diretor de esportes Christian Heidel continua exalando otimismo para tudo quanto é lado. "Não me lembro de termos criado ultimamente tantas chances claras de gol fora de casa e quero aproveitar o ensejo para agradecer aos fãs pelo apoio”. 

É verdade. Os torcedores azuis reais presentes no Borussia Park em Mönchengladbach não vaiaram, não xingaram e não pediram a demissão do técnico. Ao final da partida, já estavam até pensando no próximo jogo com o Bayern, ao cantarem "Vamos ganhar dos bávaros”.   

Falta saber a opinião do técnico Domenico Tedesco. Ele também não se abala: "O time está no bom caminho. Perdemos porque não aproveitamos nossas oportunidades e porque Yann Sommer [goleiro do Gladbach] estava num dia muito inspirado”.  No frigir dos ovos, Tedesco parecia muito, calmo como alguém que tem tudo sob controle.

Interessante notar que tanto Heidel como Tedesco procuraram minimizar ou até ignorar a série de três derrotas consecutivas logo no início da nova temporada. Pelo menos Heidel ainda balbuciou: "Começar desse jeito, bonito não é”.

Seja como for, não dá para ignorar que a crise já se instalou no Schalke e pode piorar mais um pouco nesta semana.

Pela Champions League, os comandados de Tedesco enfrentarão o Porto nesta terça-feira (18/09), e no fim de semana vão receber o Bayern Munique. Menos mal que as duas partidas serão na Veltins Arena, onde a fanática torcida azul real reina absoluta.

E se chover, não tem problema. Fecha-se o teto e a arena se transforma num imenso ginásio de esportes que comporta 62.300 torcedores constituídos em boa parte por torcedores fiéis da velha guarda.   

A expectativa é que o time dê a volta por cima assim como fizeram os mineradores de carvão fundadores do clube nos primórdios da história do FC Schalke 04. Afinal, já passou da hora de ganhar novamente um título. Desde 1958 o clube não põe a mão na salva de prata.

O torcedor raiz do Schalke 04 - e há muitos deles em Gelsenkirchen - assim como muitos torcedores azuis reais mundo afora, sabem que "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Um dia o título virá.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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